É a história de um americano casado, de meia-idade, chamado Philip, que vive em Londres, e uma inglesa casada, que é a sua amante. No seu esconderijo, revelam-se minuciosamente um ao outro (e a nós), enquanto falam antes e depois de fazerem amor. Ao lermos um diálogo preciso, espantoso, de uma exactidão alarmante, é como se espiássemos não apenas uma qualquer relação amorosa, mas a ternura e a incerteza que existe em cada uma delas. À medida que o marido adúltero se confronta diariamente com a ansiedade da amante e com as suspeitas da mulher, ouvimos intermitentemente as vozes das mulheres do seu passado, de outros amores e paixões da sua intrincada e confusa vida amorosa. Ou será fantasia sua?
De facto, a fronteira entre as mulheres que imagina e as que recorda não é inteiramente nítida.
Diálogo:
- Na realidade queria almoçar.
- Posso dar-te bocadinhos de coisas.
- Podes?
- Vamos ver se conseguimos arranjar-te qualquer coisa. Está tudo bem lá em casa?
- Está. Tudo óptimo.
- Nada melhor para um casamento do que existir um velho namorado.
- É isso que pensas?
- Queres brincar às realidades?
- Talvez.
Um verdadeiro tratado sobre a intimidade humana, a paixão, amizade, a dedicação, a procura da felicidade, mas também, sobre o adultério, a mentira, a falsidade, a rotina, a falta de diálogo.
É um livro com uma linguagem por vezes chocante, ou não fosse escrito por Philip Roth, mas que aconselho a todos.
Excelente!
Traições, de Philip Roth
Bertrand, 1991
Tradução de Filomena Andrade e Sousa
176 págs.
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