30 setembro, 2011

Sumário de leituras




Li ou reli em Setembro 2011
. O último homem na torre, de Aravind Adiga
. Transgressão, de Rose Tremain
. A noite do oráculo, de Paul Auster
. Na praia de Chesil, de Ian McEwan

Dou nota máxima
. O último homem na torre, de Aravind Adiga
. Na praia de Chesil, de Ian McEwan

27 setembro, 2011

Pétalas de sabedoria...

Sê dono apenas do que podes transportar contigo; conhece línguas, conhece países, conhece pessoas.
Deixa que a tua memória seja o teu saco de viagem.


Alexander Soljenitsyn
Escritor russo (1918-2008)

25 setembro, 2011

Vale a pena ler... Satish Kumar



"Tal como a minha mãe me ensinou a andar na Natureza, gostaria que o mesmo acontecesse na nossa sociedade. Devemos educar as nossas crianças no amor pela Natureza, aprendendo na Natureza e não sobre a Natureza, com livros e computadores. Gostaria de ver os pais a levar os filhos para a Natureza e a deixá-los subir às árvores, escalar montanhas e nadar nos rios. Para as crianças não é tarde de mais, estão prontas para isso. Talvez para os adultos seja tarde, até porque têm medo da Natureza."

Excerto da entrevista a Satish Kumar, indiano, 75 anos, publicada no jornal Público de 5 Setembro 2011
Vale a pena ler na íntegra.

Foto tirada por mim, da esplanada do restaurante Dona  Bia, na Torre (a meio caminho entre a Comporta e o Carvalhal), em 11 Setembro 2011.

24 setembro, 2011

Poema de... José Carlos Ary dos Santos


SONATA DE OUTONO
Inverno não ainda mas Outono
a sonata que bate no meu peito
poeta distraído cão sem dono
até na própria cama em que me deito.

Acordar é a forma de ter sono
o presente o pretérito imperfeito
mesmo eu de mim próprio me abandono
se o rigor que me devo não respeito.

Morro de pé, mas morro devagar.
A vida é afinal o meu lugar
e só acaba quando eu quiser.

Não me deixo ficar. Não pode ser.
Peço meças ao Sol, ao céu, ao mar
pois viver é também acontecer.

Poema de  José Carlos Ary dos Santos, Portugal (1937-1984)
Pintura (Outono 1918), de José Malhoa, Portugal (1855-1933)

23 setembro, 2011

"Na praia de Chesil" - Ian McEwan

Este romance de Ian McEwan tem 128 páginas.
Pequenino, não é?
Enganam-se. É um ENORME romance, profundo, inteligente, sobre sentimentos, silêncios, medos, dúvidas, libertação, uma história de vidas transformadas por um gesto não feito ou uma palavra não dita.
A história começa com o jantar de Edward e Florence na suite destinada a casais recém-casados, num hotel na praia de Chesil, na costa de Dorset.
Eles eram jovens, licenciados, ambos virgens naquela sua noite de núpcias, e viviam numa época em que uma conversa sobre dificuldades sexuais, que nunca é fácil, era simplesmente impossível.
Não tinham dúvidas de que queriam passar juntos o resto da vida.
O seu casamento tinha corrido bem; o serviço religioso foi correcto, a recepção divertida, a despedida dos amigos da escola e da faculdade ruidosa e animada.
E o namoro?
O seu namoro fora uma pavana convencional... nada era discutido e eles não sentiam a falta de uma conversa íntima.
Tudo perfeito?
Não!

Que pequeno grande livro.
Li-o pela primeira vez em 2007, e recordo que a história me encantou e incomodou.
Voltei a ele e o prazer da leitura foi ainda maior.
Lê-se de um fôlego, mas o final – arrasador - mantém-se por muito tempo na nossa memória.

Na praia de Chesil, de Ian McEwan
Gradiva, 2007
Tradução de Ana Falcão Bastos
128 págs.

20 setembro, 2011

Gosto de ler na praia. Oh, se gosto!

DAI-ME O SOL
Dai-me o sol das águas azuis e das esferas
Quando o mundo está cheio de novas esculturas
E as ondas inclinando o colo marram
Como unicórnios brancos.
ESPERA
Dei-te a solidão do dia inteiro.
Na praia deserta, brincando com a areia,
No silêncio que apenas quebrava a maré cheia
A gritar o seu eterno insulto,
Longamente esperei que o teu vulto
Rompesse o nevoeiro.
ESPERO
Espero sempre por ti o dia inteiro,
Quando na praia sobe, de cinza e oiro,
O nevoeiro
E há em todas as coisas o agoiro
De uma fantástica vinda.

Poemas de Sophia de Mello Breyner Andresen

16 setembro, 2011

"A noite do oráculo" - Paul Auster

Um marido sai para pôr uma carta no marco do correio e não volta a casa. O que é que a sua mulher vai pensar?
Sidney Orr, escritor, casado com Grace, 34 anos, a recuperar de uma doença quase fatal, é o protagonista e narrador desta viagem pelo labirinto da imaginação.
No dia 18 de Setembro de 1982, um sábado cinzento, durante o seu passeio matinal pelas ruas de Brooklyn, chega à papelaria “Paper Palace”. Nunca a tinha visto antes.
Decidido a voltar ao trabalho, entra para se abastecer de material e eis que descobre quatro daqueles cadernos portugueses que tanto o fascinam: capas duras, linhas quadriculadas, sólidos, imunes a todo o tipo de borrões. Compra o único caderno de cor azul.
Regressa a casa e abre o caderno na primeira página mas não sabe o que escrever. Não se preocupa porque o objectivo não é escrever nada de especial mas sim provar que ainda é capaz de escrever.
Recorda a conversa que teve com um amigo acerca de um homem que abandona a vida que leva e desaparece, e eis que a história para o seu romance surge e as palavras começam a ser alinhadas no caderno azul: Nick Bowen, um jovem assistente editorial numa grande editora de Nova Iorque, vive momentos de insatisfação no trabalho e no casamento.
Um dia chega à editora um pacote com o manuscrito de um romance com o sugestivo título de "A Noite do Oráculo", supostamente escrito por Sylvia Maxwell, uma popular autora falecida há cerca de duas décadas. A seguir conhece Rosa Leightman, a neta da autora. É uma mulher interessante, que o deixa perturbado.
Certa noite em que Nick sai para colocar umas cartas no marco do correio, a cabeça de uma gárgula de pedra cai de um décimo primeiro andar e despenha-se a escassos centímetros da sua cabeça. Aturdido, desorientado, cheio de medo, decide abandonar o seu passado e… desaparecer.
Mas há outra história para escrever - “A Noite do Oráculo”. Sidney Orr, tinha de urdir toda a intriga, mas sabia que seria um breve romance filosófico em torno da predição do futuro, uma fábula sobre o tempo.
Li este romance pela primeira vez em 2004. Na altura estranhei a ligação das três histórias. Desconcentrava-me. Como seguir a leitura? Complicado. Não me entusiasmou.
Agora, entendi melhor a sequência das histórias, mas… voltei a estranhar e a não me entusiasmar.
As boas pessoas fazem coisas más.

A noite do oráculo, de Paul Auster
Edições ASA, 2004
Tradução de José Vieira de Lima
201 págs.

13 setembro, 2011

"Transgressão" - Rose Tremain

Bebia por causa do peso das coisas. O álcool tornava-o cada vez mais doente, e ele sabia-o, mas não conseguia arranjar qualquer substituto, qualquer forma de se libertar do peso da laje de memórias que tentava esmagá-lo… esmagá-lo com a culpa e com o amor que nunca conseguiu expressar.
A acção deste cativante romance, ou thriller psicológico, desenrola-se em duas aldeias nas montanhas do sul de França.
Em La Callune, na região de Cévennes, uma floresta de carvalhos e castanheiros esconde “Mas Lunel”, uma antiga casa de pedra que guarda histórias terríveis.
O proprietário e ocupante é Aramon Lunel, um alcoólico atormentado por um passado cruel.
Na mesma quinta vive a sua irmã Audun, uma mulher de sessenta e quatro anos. Ela vive longe da sujidade da casa e do fedor do irmão, num bangaló construído nos fundos da propriedade.
Os irmãos vivem em permanente conflito, conflito que se agudiza quando Aramon decide vender a propriedade e esta é visitada por um inglês.
Esse inglês é Anthony Verey, negociante de antiguidades em Londres, a passar por uma grave crise de identidade, que busca o consolo da irmã Veronica.
Veronica, arquitecta-paisagista, vive com a namorada Kitty, uma aguarelista medíocre, na velha casa de pedra da quinta “Les Glaniques”, na região de Gard. Vivem felizes. Vivem felizes até à chegada de Anthony. A partir daí o mal-estar instala-se e a ruptura acontece.
Com vista a reconstruir a sua vida, Anthony Verey decide comprar uma casa na região e começa a visitar propriedades.
A primeira visita é a “Mas Lunel”. A velha casa de pedra é o local perfeito para viver os últimos anos de vida.
Decide comprá-la, mas põe como condição a demolição do bangaló.
Aramon Lunel fica entusiasmado, mas a sua irmã fica horrorizada e fará TUDO para continuar naquele lugar de tantas más recordações.
… quando passamos trinta e quatro anos sozinhos, descobrimos que é difícil suportar a presença de um desconhecido dentro ou, sequer, perto da nossa casa. Não conseguimos deixar de pensar em todo o mal de que ele é capaz.
Este é um livro difícil de “digerir”.
As pedras daquelas velhas casas escondem histórias cruéis de violência, de incesto, de amor e desamor, de horror à mudança, de solidão, de silêncios, de vingança.
A forma sublime como a autora constrói as histórias dos vários personagens prende-nos da primeira à última linha.
Há muito que queria dizer-te isto – lamento o que se passou! Foste a minha princesa… só isso.
Gostei!

Transgressão, de Rose Tremain
Porto Editora, 2011
Tradução de Luís Miguel Coutinho
310 págs.

07 setembro, 2011

"O último homem na torre" - Aravind Adiga

Um homem não se reduz à opinião que os vizinhos fazem dele.
Do autor de “O tigre branco”, Booker Prize 2008, chegou às bancas este verão “ O último homem na torre”.
A acção deste novo romance passa-se em Bombaim (actual Mumbai), a mais activa, cosmopolita e povoada cidade da Índia com cerca de 15 milhões de habitantes, amontoados em 430 Km2.
Os preços das casas são elevadíssimos. Os ricos vivem em subúrbios luxuosos. A classe média mantém-se nas habitações de renda baixa, apesar do estado de degradação dos prédios e da pressão das empresas de construção civil. Os mais pobres vivem literalmente na rua, despojados de tudo, ou em enormes bairros de barracas tapadas por plástico, sempre de cor azul.
Isto foi o que eu vi, quando lá estive em 2010. Vi uma cidade, aliás um país, de enormes e chocantes contrastes: uma pobreza abjecta e uma riqueza chocante.
Depois disto, é fácil perceber o quanto me tocou esta nova obra de Aravind Adiga.
Vamos então ao romance, um retrato duro do quotidiano dos residentes duma cooperativa de habitação, que é o reflexo da vida na própria cidade de Bombaim, a personagem principal deste romance.
Tudo se passa nas torres da Cooperativa de Habitação Vishram, localizada entre o degradado bairro Vakola, e um aeroporto doméstico. São duas torres A e B mas a Torre A é aquilo que a vizinhança considera ser a “Cooperativa Vishram” - calorosa, humana, familiar, a camada de queratina protectora que tinham vindo a segregar a fim de se salvaguardarem das provações da vida.
A vida decorre pacata nas duas torres até o empresário e construtor civil Dharmen Shah oferecer aos moradores uma generosa indemnização pelo abandono dos apartamentos para ali construir um complexo habitacional de luxo.
O empreiteiro é o único homem em Bombaim que nunca se dá por vencido.
Na Torre B, habitada por jovens executivos, a proposta é aceite pacificamente.
Na Torre A, um edifício de 5 pisos, 15 apartamentos, muito degradado, parecido com os seus residentes - classe média até à medula - a proposta é inicialmente recusada por todos, depois aceite por alguns, depois por muitos, depois instala-se o caos e a “guerra” começa.
Até à altura da proposta, o relacionamento entre os vizinhos era cordato, cúmplice, solidário – um por todos, todos por um.
A partir daí, a perspectiva de um futuro radioso, conseguido à custa do dinheiro sujo do empreiteiro mafioso, transforma  os vizinhos  em inimigos perigosos, em assassinos.
Para o negócio se concretizar é necessária a concordância de todos, mas há um morador que não aceita: Yogesh Murthy, mais conhecido por Masterji, professor, conservador, um dos primeiros residentes da torre e o último a sair.
Como? Não posso contar.
Leiam que vale a pena. É um livro duro mas fabuloso.
Nada pode deter uma criatura viva que teima em ser livre.

O último homem na torre, de Aravind Adiga
Editorial Presença, 2011
Tradução de Alice Rocha
467 págs.

06 setembro, 2011

Pétalas de sabedoria...



Ninguém merece as tuas lágrimas e quem quer que as mereça não te vai fazer chorar.


Gabriel Garcia Marquez
Escritor colombiano (1928 - )

03 setembro, 2011

A cultura é cara? Experimentem a ignorância.

"Porque continua a ser tão difícil fazer passar esta ideia simples de que o investimento na cultura fica muito mais barato do que o não-investimento? Talvez porque, a pretexto dos valores intrínsecos e da opacidade (verdadeira) da criação artística, o seu financiamento apareça como obscuro, por não ser comunicado, publicitado ou defendido com a clareza desejável para o comum cidadão contribuinte".

Excelente crónica de António Pinto Ribeiro, publicada na revista Ipsilon - Público, de 2 de Setembro 2011.

01 setembro, 2011

Voltei!

Voltei e tenho a declarar que cumpri os objectivos a que me propus no início de Agosto: li três excelentes livros O último homem na torre (um romance que é um verdadeiro tratado de sociologia); Transgressão (um triller-romance perturbador) e A noite do oráculo.
Já seleccionei o que vou “devorar” em Setembro: Travessuras da menina má, de Mario Vargas Llosa (a descoberta de um autor - Nobel que eu teimava em não pegar); C, de Tom McCarthy (a capa do livro determinou que partisse à descoberta de outro novo autor) e  A estrada, de Cormac McCarthy (neste caso reler um dos meus autores preferidos).
Nos próximos dias vou dar um giro por todos os blogues que sigo para descobrir novidades.
Que saudades eu já tinha deste meu cantinho.
Boas leituras para todos.