Uma pessoa pode descrever-se, ou ser descrita, em função de uma série de atributos; (…) Mas quem é ela, a sua essência, o que a faz única e a distingue de todas as outras...
Em "Nascemos Frágeis e Recebemos Ordens para Sermos Fortes: Um olhar sobre o narcisismo e a autoestima" o médico psiquiatra João Carlos Melo "oferece-nos um olhar esclarecedor, lúcido e descomplexado sobre a autoestima, da sua manifestação saudável ao excesso do amor-próprio, da vaidade à confiança plena, das nossas origens de mamífero cooperante à sociedade sofisticada e digital dos dias de hoje". É, nas palavras de António Coimbra de Matos, autor do prefácio «um vigoroso ensaio em busca do entendimento do amor-próprio: seu significado, função e valor (…) uma «obra de pensamento pensante – e não depósito de pensamentos já pensados».
Como é que o olhar do outro nos forma…
O narcisismo é o tema fulcral do livro. Para o autor, o mito de Narciso, que narra a paixão do jovem Narciso por si próprio e foi escrito pelo poeta romano Ovídio, «ilustra um aspeto (...) fundamental da condição humana (…) porque há uma dimensão da sua natureza que é comum a toda a Humanidade, a dimensão narcísica do funcionamento mental».
A angústia narcísica é o medo de morte de ser ridicularizado, humilhado, alvo de riso ou troça e de ser insignificante.
"(…) o funcionamento narcísico consiste na acção de um conjunto de mecanismos que regulam a autoestima. Esses mecanismos são gerados de forma geralmente automática quando a autoestima é baixa e sempre que ela é atingida.
Numa pessoa que tenha uma boa autoestima, tais mecanismos atuam de forma harmoniosa. Nesse caso, o seu funcionamento narcísico é mais saudável.
Naquelas em que a autoestima é baixa ou sofre ataques que a debilitem, os mecanismos que entram em acção para a restaurar ou para restabelecer o equilíbrio perdido são mais intensos. Nesse caso, o seu funcionamento narcísico é mais patológico."
A baixa autoestima é apenas a parte mais superficial da fragilidade narcísica.
"Há palavras que ferem. A forma como se dizem certas palavras fere. O riso de troça fere muito, e ainda mais quando são os pais a fazê-lo.(...)
O que impele certas pessoas a atacar e ferir os outros? (…) na verdade, não são os outros, são apenas alguns outros – os mais frágeis e indefesos.
Embora não saibam, estas pessoas atacam-nos para salvaguardar a própria autoestima. Têm de sentir-se superiores aos outros para manterem a ilusão da sua importância. Têm de rebaixá-los. A sua autoestima alimenta-se disso. Se não tivessem outros a quem atacar, dificilmente a sua precária autoestima se manteria à tona de água."
Quem somos, para nós próprios e para os outros…
«Somos corpo e mente, material e imaterial, físico e psíquico. Somos essa dualidade, mas somos, ao mesmo tempo, um todo indivisível.»
Este livro interroga-se e interroga-nos.
Há que ler... para aprender!
Nascemos frágeis e recebemos ordens para sermos fortes, de João Carlos Melo
Bertrand Editora, 2019
231 págs.