31 maio, 2019

"Uma viagem pela filosofia em 101 episódios" - Nicholas Rescher

Ao longo da história da filosofia, os filósofos usaram pequenas histórias que ajudam a estabelecer grandes conclusões.
Para esta "viagem" Nicholas Rescher recupera episódios/casos interessantes e representativos de cada período histórico e de todas as áreas da filosofia e mostra-os num livro instrutivo, original, divertido, pensado e escrito para ser lido por eruditos, iniciados no estudo da Filosofia, ou simplesmente interessados nas “grandes questões acerca dos seres humanos, do mundo e do nosso conhecimento dele”.
Os 101 episódios (textos curtos numa linguagem objectiva e simples, seguidos de episódios relacionados e sugestão de leituras complementares) aqui apresentados numa sucessão lógica, coerente, são ao mesmo tempo “uma ocasião para aprender mais acerca do pensamento e a obra dos pensadores que os protagonizaram; e um convite para pensarmos nós mesmos acerca das questões em causa”. Podem ser lidos de seguida ou aos saltos. Eu li o primeiro “A torre de Babel” e logo saltei para os episódios relacionados “O navio de Teseu” e “Os paradoxos da caixa de Aldrich”. Destes saltei para novos episódios relacionados e assim continuei saltando pela história do pensamento filosófico, numa leitura prazerosa e enriquecedora.
Escolhi ao acaso um episódio, o terceiro, sob o título "Os animais teólogos de Xenófanes" para que comprove como a narrativa é informalmente aprazível e cativante .
"Xenófanes de Cólofon (ca. 575-ca 490 a.C.) um sábio dos primórdios da Antiguidade Grega, ficou conhecido na posteridade apenas devido a um punhado de breves citações. A seguinte é entre todas uma das mais destacadas: «Se os bois e os cavalos e os leões tivessem mãos e as usassem para produzir obras de arte como os homens, então os cavalos iriam pintar as formas dos deuses como cavalos e os bois como bois, e fariam os seus corpos à sua própria imagem.» Esta pequena história (...) é um exemplo paradigmático de um modo de lançar um desafio que se tornou extraordinariamente destacado em filosofia: «O que dirias se...?
A suposição de Xenófanes inaugura a doutrina do relativismo: a posição de que a verdade das coisas está nos olhos do observador ou, para ser mais preciso, nos tipos de observadores em questão. (...) põe de pernas para o ar a exposição bíblica da relação homem-Deus. Pois onde a bíblia diz que Deus criou o homem à Sua imagem, Xenófanes, na verdade, diz-nos que o homem concebeu Deus à sua imagem. (...)
Em suma, procurava Xenófanes rebaixar a nossa ideia de Deus, ou elevá-la? (...)"
A filosofia é um campo no qual a resposta a qualquer pergunta fornece materiais para fazer mais perguntas ainda...
Ficou curioso? Leia!

Uma viagem pela filosofia em 101 episódios, de Nicholas Rescher
Tradução de Desidério Murcho
Ed. Gradiva, 2018
362 págs.

28 maio, 2019

À terça - imagens e palavras: "vida"


“Se pensarmos bem, a maior parte do tempo, a nossa vida é experiência de inacabamento e incompletude, é esboço e projecto, é movimento transformante.”


JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA, teólogo e poeta português (1965-)
(Foto da net.)

21 maio, 2019

"Pão de açúcar" - Afonso Reis Cabral

Como é que se vivia assim (…) no fundo de uma cave, no fundo de uma barraca, no fundo da vida.
Quatro anos depois de  “O meu irmão”, romance vencedor do Prémio Leya 2014, Afonso Reis Cabral publica “Pão de Açúcar”, romance que ficciona factos reais: a trágica morte de Gilberta Salece Júnior, brasileira, transexual, sem-abrigo, toxicodependente, com sida e outras doenças.
Em Fevereiro de 2006, os Bombeiros Sapadores do Porto resgataram o corpo sem vida de Gilberta do poço/buraco, com cerca de 10 metros de profundidade, escondido na cave de um prédio inacabado e votado ao abandonado. Nu da cintura para baixo, o corpo apresentava marcas dum espancamento brutal.
Semanas depois, os órgãos de comunicação social divulgaram que Gilberta foi agredida dias a fio por um grupo de 14 rapazes e atirada ainda com vida para o poço. Rapazes com idades compreendidas entre os 12 e os 16 anos, alguns problemáticos, retirados a famílias negligentes e acolhidos na Oficina de São José, onde o acompanhamento dos jovens não é o melhor.
«O que pode levar pessoas da minha idade, da minha cidade, a fazer isto? E a fazer isto a alguém, desamparado?» pensou incrédulo Afonso Reis Cabral, então com 16 anos, nascido em Lisboa e criado no Porto. O mesmo pensou o país inteiro, em estado de choque.
Dez anos depois do horrendo crime, o autor decide investigar os factos na tentativa de compreender o que realmente se passou na cave do prédio conhecido como “Pão de Açúcar”. Durante mais de um ano pesquisou as vidas da vítima e dos agressores, percorreu as «zonas sujas» da cidade, leu decisões do Tribunal de Família e Menores do Porto, visitou a cave (o edifício continuava abandonado), leu notícias, visionou reportagens, foi a bares, falou com amigos e conhecidos dos rapazes e de Gilberta, esteve dentro da última casa onde ela viveu, percorreu ruas, estudou trajectos. (...) meti-me ao trabalho de campo sem o qual um livro como este não se escreve (...) depois baralhei com ficção, que é como se faz um romance.
Não chegou a falar com os rapazes mas fez deles personagens meticulosamente desenhadas, e para que nada o afastasse da matriz ficcional entregou a narração dos acontecimentos a um protagonista do hediondo crime: Rafael Tiago (Rafa).
Na “Nota antes” (antes do primeiro dos 56 capítulos do romance) o autor engana o leitor (e o leitor permite o engano) quando diz ter recebido uma carta de Rafael  sobre o crime, que começava com «Às vezes, a vida é uma coisa tão bela que choro de ternura e não ligo ao que dizem», ter tido com ele encontros e conversas no Porto, e que num deles lhe prometeu: «A história é tua, como se fosses tu a contá-la, mas eu escrevo-a por ti».
Rafael, 12 anos, foi o primeiro rapaz a ver Gilberta (Gi), 45 anos,  na cave onde ela doente e sozinha sobre(vivia). Chocado com a aparência dela, o desamparo em que vivia na barraca que «fedia», voltou muitas vezes, com comida, água e tudo o que conseguia pilhar no trajecto da Oficina-"Pão de Açúcar". Tornaram-se amigos e confidentes. Ela era um segredo apenas seu, não o partilharia com os amigos. 
Mas o dia chegou em que ele o partilhou e... na escuridão da cave seres humanos comportaram-se como monstros.
… os lugares certos na vida são os lugares errados. Como na cave, ao lado de Gi.

Romance totalmente conseguido, ficção de uma história real com final infeliz.
Recomendo!

Pão de Açúcar, de Afonso Reis Cabral
Ed. D. Quixote, 2018
251 págs.

À terça: imagens e palavras: "gato", "cavalo", "porcos" e "cães""

“Deus ao criar o rato disse: já fiz asneira! E tratou de criar o gato, logo, o gato é uma errata do rato.”

VICTOR HUGO, escritor francês (1802-1885)



"Não se aproxime de uma cabra pela frente, de um cavalo por trás ou de um idiota por qualquer dos lados."

Provérbio judeu.
(Foto do amigo A. Gomes.)








“Gosto de porcos. Os cães olham-nos de baixo, os gatos de cima. Os porcos olham-nos de igual para igual.”

WINSTON CHURCHILL, político e estadista inglês (1874-1965)








“Os cães são o nosso elo com o paraíso. Eles não conhecem a maldade, a inveja ou o descontentamento.”

MILAN KUNDERA, escritor checo (1929-)

(Fotos 1-3 e 4 da net.)

17 maio, 2019

"Poema em linha recta" - Fernando Pessoa

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo.
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cómico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe — todos eles príncipes — na vida…
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e erróneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos — mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que tenho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
Versos de Álvaro de Campos, heterónimo de Fernando Pessoa (1883-1935)

(Primeiros versos de Fernando Pessoa, a quadra "À minha mãe", escrita em Julho de 1895.)

Sabia que (10):
1930 – (Fernando Pessoa  vive um) intenso período de criação heteronímica.
1931 – Escreve uma extensa carta a João Gaspar Simões na qual teoriza as suas opiniões quanto à «ficção» em literatura, manifestando um substancial e irónico desacordo em relação às teorias freudianas.
1932 – Em Setembro concorre com insucesso a um lugar de conservador-bibliotecário no Museu-Biblioteca Condes de Castro Guimarães, em Cascais.
Em Novembrp publica em «Fama», dirigida por Augusto Ferreira Gomes, o artigo O Caso Mental Português.
1933 – Atravessa outra profunda crise psicológica, mas não desiste do trabalho, nem do trabalho literário.
1934 – Publica Mensagem e concorre com este volume ao prémio «Antero de Quental» do Secretariado de Propaganda Nacional. É-lhe conferido o prémio Categoria B, por uma pretextuosa questão de número de páginas.
1935 – Em Janeiro escreve uma extensa carta a Adolfo Casais Monteiro na qual explica a génese da heteronímia. Publica no «Diário de Lisboa» (4 de Fevereiro) o artigo Associações Secretas contra uma proposta de lei apresentada à Assembleia Nacional para a abolição das sociedades secretas e na qual é visada sobretudo a Maçonaria.
No dia 29 de Novembro é internado no Hospital de S. Luís dos Franceses onde lhe é diagnosticada uma cólica hepática. A sua última frase, escrita a lápis, é em inglês. Diz: «I know not what tomorrow will bring.»
Morre no dia 30, às 20.30. É enterrado a 2 de Dezembro, no Cemitério dos Prazeres, no jazigo de sua avó, D. Dionísia Seabra Pessoa.”
("Fernando Pessoa, uma fotobiografia", de Maria José de Lancastre).

Não sabia? Eu também não!
O que importa é que agora sabemos mais sobre a vida  do poeta do desassossego. TUDO, nunca saberemos.
«I know not what tomorrow will bring.»



(Fotos da net.)

14 maio, 2019

À terça - imagens e palavras: "cores"


“Não há cores por inventar. Juntando duas faço mil, juntando três um milhão, juntando sete o infinito, e se misturar o infinito reconquisto a cor primordial, para começar outra vez. Não importa que essas cores não tenham nome, que não se possa dar-lhes nome: existem e multiplicam-se.”


JOSÉ SARAMAGO, escritor português (1922-2010), in “Manual de pintura e caligrafia””, Ed. Caminho, 1983
Prémio Nobel de Literatura, 1998
(Foto da net.)

10 maio, 2019

"Televisão", conto de Rubem Fonseca

TELEVISÃO
“Eu gostava de desenhar. Estava sempre desenhando. Isso antigamente. Agora perdi a vontade de desenhar, ou melhor, não sei o que desenhar. Eu desenhava tudo, mulheres nuas, homem morto, flor - flor eu não gostava muito, só do cheiro -, desenhava ruas, letreiros luminosos, pessoas em volta de uma mesa jantando (ou almoçando), dois sujeitos jogando sinuca, aleijadinho - aleijadinho eu gostava de desenhar, vários tipos de aleijadinho, sem perna, em cadeira de rodas, sem braço, mas o que eu mais gostava mesmo era do aleijadinho com duas muletas e sem as pernas. Eu desenhava a cara desse aleijadinho como a de um homem feliz, feliz porque podia passear pelas ruas, ainda que fosse de muletas.
Havia uma coisa que eu detestava: desenho abstrato. «Abstracção: uma coisa de difícil compreensão, obscura», diz o dicionário. Novamente o dicionário: «Abstrato: que não é claro para o espírito, que é difícil de compreender, de explicar.»
Você desenha uma porcaria que não quer dizer nada e diz «é uma abstracção», e os bestalhões dizem «muito interessante». Será que essa gente não sabe que arte tem que ter significado? Tem que exprimir algo?
Voltando ao meu problema. Eu sento à mesa, o papel e os crayons na frente, e não consigo desenhar. Na verdade nem sento mais à mesa. Vou direto pra televisão ver uma das porcarias que exibem.
Falta inspiração? Isso parece coisa religiosa e eu sou ateu. Falta motivação? O artista precisa estar motivado? Isso me parece pueril, uma tolice.
Eu sento à mesa, com o material para desenhar, espero um minuto. Desenhar o quê? Vou para a poltrona e ligo a televisão. Vejo televisão todos os dias. Isso é coisa de débil mental. Mas vejo televisão, e vejo novamente, e novamente, e novamente. Ver televisão deixa o sujeito maluco.
Compro um revólver, vou dar um tiro na cabeça.
Mas em vez de dar um tiro na cabeça atiro na televisão. Vários tiros, destruo aquele monstro.
Não demorou muitos dias para que eu voltasse a desenhar.
Televisão? Nunca mais. Sem televisão eu fico bom, deixei de ser um neurótico, ou coisa parecida.
Mas quando passo na vitrine de uma loja e vejo um aparelho de televisão confesso que o meu coração bate apressado e minha boca se enche de saliva.”
Confesso que sou apaixonada por contos, narrativas curtas com começo, meio e fim.
Há dias alguém me disse que podem ser escritos em verso. Vou pesquisar e depois partilharei o que encontrar.
De Rubem Fonseca há mais contos no Rol.
Desligue a televisão,  leia e divirta-se!

(Fotos da net.)

07 maio, 2019

À terça - imagens e palavras: "televisão"


“O ecrã de televisão (...) torna tudo plano, comprime o mundo, já para não falar da mente das pessoas.”


E. L. DOCTOROW, escritor americano (1931-), in “Homer & Langley", Porto Editora, 2013
(Foto da net.)

05 maio, 2019

Dia da Mãe



Ó dia de hoje, ó dia de horas leves
Bailando na doçura
E na amargura
De serem perfeitas e de serem breves.

Versos de Sophia de Mello Breyner Andresen, in "Obra Poética I", Circulo de Leitores, 1992


Sou mãe do Miguel e da Susana e avó (mãe duas vezes) da Carolina e da Madalena.


Hoje, Dia da Mãe, não vou receber deles nem beijos nem abraços.
O Miguel e as pequeninas vivem longe, a Susana vive mais longe ainda.

A minha mãe e duas sogras-mães, que muito me amaram e mimaram, são agora três estrelinhas que abraço olhando à noite o céu. 

Hoje a saudade bateu forte. E eu só queria um abraço. Um só!


Feliz Dia para todas as Mães.
Abracem muito!

(primeira e última foto da net)

03 maio, 2019

Personagens de romances que gostei de ler

Michael Beard, 53 anos, calvo, baixo, gordo, conhecedor das energias alternativas, físico galardoado com o Prémio Nobel aos trinta e poucos anos (a partir daí  limitou-se  a viver à sombra dos louros, participando apenas em conferências, seminários e entrega de prémios) está no centro da acção de "Solar".
A narrativa começa com Beard mentalmente diminuído, devastado, desinteressado pelo trabalho, sem saber como lidar com a desintegração do casamento, apesar dos quatro falhanços anteriores  (nenhum durou mais de seis anos) e do rol de infidelidades. Acontece que a mulher anda a traí-lo, de forma flagrante, sem remorsos, com o empreiteiro que fizera obras lá em casa, e ele descobre, no seu íntimo, momentos intensos de vergonha e nostalgia nenhum o tinha rebaixado tanto … provocado tamanho aumento de peso e uma tal loucura secreta…ele que “tinha sido um mulherengo mentiroso, tivera o que merecia … que havia de fazer agora, para além de aceitar o castigo? A que deus iria apresentar as suas desculpas?” 
O confronto entre ele cheio de refegos de banhas, fracalhote, incapaz de fazer oito elevações consecutivas” e o amante da mulher com uma constituição de trabalhador da construção, quase vinte centímetros mais alto e vinte anos mais novo é hilariante.
Para fugir à humilhação aceita um convite para uma expedição ao Pólo Norte. O grupo integra artistas e cientistas preocupados com as alterações climáticas. Na viagem vive uma série de situações embaraçosas e de tal forma hilariantes que fazem soltar gargalhadas.
Regressa a casa decidido a salvar o casamento cheio de remorsos, lamentando não saber o truque para fazer a mulher amá-lo, mas resignado”, e encontra na sala um homem no sofá, com o cabelo a pingar, de roupão vestido (o seu roupão) e não, não é o empreiteiro… 
E a narrativa continua com Beard incapaz de alterar vícios e rotinas, a ser um pateta temerário, com hábitos muito arreigados, nem um nadinha mais sensato do que havia sido aos vinte e cinco anos, nenhumas perspectivas de melhoras, que não resiste ao plágio, que vomita a seguir a uma conferência sobre energias limpas, eterno mulherengo, com as mesmas preocupações abstractas “o seu peso, o coração que bate com demasiada irregularidade, as tonturas quando se punha de pé, as dores nos joelhos, nos rins, no peito, o cansaço sufocante, uma mancha vermelha no pulso”, tudo, considera ele, crimes contra a sua pessoa.

E mais não digo, para que possa "conhecer" por si esta personagem inesquecível no genial-sarcástico romance "Solar", de Ian McEwan sobre a fragilidade humana e um dos grandes problemas do mundo moderno – o aquecimento global.

(Porque é esta personagem a primeira? Porque está lá, no primeiro ano do  "Rol de Leituras".)

Do princípio ao fim do romance imaginei a sua adaptação ao cinema e o magnífico actor Paul Giamatti  a interpretar o falhado Michael Beard.
Nunca aconteceu!