29 outubro, 2019

Sem "derramar" lágrimas!


Desta vez não foi uma fotografia nem uma música a transportar-me para bons momentos do passado, foi o comentário que uma querida amiga deixou na minha postagem sobre "Joker", o filme. 
Diz ela, no final do comentário:
" (...) Vou pedir pela TV, sou o contrário da nossa Emília, gosto de sair para outras coisas, filmes me esparramo no sofá"
E respondi eu:
"(...) Eu, viciada em filmes (vício bom!), vejo mais agora derramada no sofá.
Tais, tu esparramas-te no teu sofá, eu derramo-me no meu. Coisa boa!
(Aprendi a «derramar-me» no sofá, com um dos meus escritores favoritos. Um dia destes digo-te quem é ele.)"


E aqui estou eu a dizer-te, querida amiga, que  o tal escritor que derrama o verbo "derramar" na sua escrita inteligente, poderosa, violenta, viciante é: Cormac McCarthy (1933-)
Deixo alguns exemplos retirados do seu romance "A travessia":
"… onde o regato se derramava para sul.
… em cujo seio o mundo audível se derramava.
… olhou para ele à luz que se derramava da porta aberta.
… a luz do meio-dia se derramava sobre os campos.
… o cabelo escuro dela derramava-se sobre o ombro do irmão…
… examinou aqueles mundos derramados nas suas pálidas ignições sobre a noite sem nome…
…cabelo claro que ele já não cortava há muito tempo derramado em volta dele…"

Mas... também me encontrei com o verbo "derramar" no livro "Contos", de Virginia Woof (1882-1941):
"… refulgiam róseas e de novo refulgiam alaranjadas quando o sol, derramando-se pelas macieiras, incidia nelas. (No pomar)
… quando Miss Milan lhe pusera o espelho na mão e Mabel se olhara com o vestido novo, finalmente pronto, uma felicidade extraordinária se derramara no seu coração. (O vestido novo)
… o ramo de uma árvore à sua frente embebia-se e penetrava a sua admiração pelas pessoas daquela casa; derramava-se em gotas de outro; ou permanecia erecto como uma sentinela. (Resumo)
… Sasha já não se sentia capaz de derramar por cima do mundo inteiro a sua nuvem de ouro. (Resumo)
… o espelho começou a derramar sobre ela uma luz que parecia fixá-la, que parecia um ácido corroendo o acessório e superficial para deixar apenas a verdade. (A senhora no espelho: uma reflexão)"


Há uns anos diverti-me a sublinhar, a guardar e a publicar estas mesmas frases aqui no Rol.
O teu comentário, amiga, transportou-me àqueles momentos de boas leituras e gostosas partilhas. Obrigada!

Brincadeirinha à parte, brindemos à (nossa) amizade. Sem "derramar" lágrimas!





(“Derramar”, do inglês spill, shed, pour in)
(Fotos da net.)

25 outubro, 2019

"O Arquipélago do Cão" - Philippe Claudel

O que é a vergonha e quantos a sentiram? É a verdade que liga os homens à humanidade? Ou limita-se a sublinhar que estão irreversivelmente afastados dela?
“Cobiçais o ouro e espalhais as cinzas.
Manchais a beleza, corrompeis a inocência.
Por toda a parte deixais escorrer grandes correntes de lama. O ódio é o vosso ambiente, a indiferença, a vossa bússola. Sois criaturas do sono, sempre adormecidas, mesmo quando julgais estar acordadas. Sois o fruto de uma época mergulhada num sono profundo. As vossas emoções são efémeras, borboletas que nascem rapidamente, calcinadas de imediato pela luz dos dias. A vossa solidão devora-vos. O vosso egoísmo engorda-vos. Voltais as costas aos vossos irmãos e perdeis a vossa alma. A vossa natureza fermenta com o esquecimento.
Como julgarão os séculos futuros o vosso tempo?
A história que ides ler é tão real quanto vós sois. Passa-se aqui, tal como teria podido desenrolar-se ali. Seria demasiado cómodo pensar que aconteceu noutro lugar. Os nomes dos seres que a povoam pouco importam. Poderiam ser alterados. Pôr os vossos no lugar deles. Assemelhais-vos tanto, procedendo do mesmo molde inalterável.
Estou certo de que, mais cedo ou mais tarde, fareis a vós próprios uma pergunta legítima: terá ele sido testemunha do que nos conta? A minha resposta é: sim, fui testemunha disso. Tal como vós fostes, mas não quisestes ver. Nunca quereis ver. Eu sou aquele que vo-lo recorda. Sou o importuno. Sou aquele a quem nada escapa. Vejo tudo. Sei tudo. Mas não sou nada e quero continuar a não ser. Nem homem nem mulher. Sou apenas a voz. Será da sombra que vos contarei a história.
Os factos que vou narrar aconteceram ontem. Há alguns dias. Há um ano ou dois. Não mais. Escrevo «ontem», mas parece-me que deveria dizer «hoje». Os homens não gostam de ontem. Os homens vivem no presente e sonham com os amanhãs.
A história passa-se numa ilha. Uma ilha qualquer. Nem grande nem bela. Que não fica de modo algum longe do país de que depende, mas que este esqueceu, e está perto de outro continente a que pertence, mas que ignora.
Uma ilha do arquipélago do Cão.”

Começa exactamente assim este livro/thriller/parábola negra sobre o comportamento humano perante a tragédia das migrações mediterrâneas de hoje. No primeiro capítulo o narrador fala com o leitor, no segundo capítulo tem início a história - que o narrador não situa em tempo ou lugar algum - com a descoberta de três corpos que deram à costa da única ilha habitada do arquipélago do Cão. Ilha dominada por Brau, o vulcão que depois de milénios a vomitar lava descansa emitindo ruídos surdos através da cratera escondida num «edredão de brumas». As gentes do Cão vivem da agricultura e da pesca. Todos se conhecem. 
A Velha (professora reformada que ensinou a ler todos os habitantes da ilha), o Spadon (que trabalha para o presidente da Câmara, o principal patrão de pesca da ilha) e o Amérique (meio vinhateiro meio homem dos sete ofícios) foram os primeiros a avistar os corpos de três homens negros, na praia de seixos vulcânicos. Spadon foi de imediato buscar à cidade o presidente da Câmara (magro como um filetes de anchova). Com eles trouxeram também o médico (gordo, atarracado, com uma imagem de marca, um espesso bigode pintado de preto). Os cinco olham intrigados para os corpos e escutam uma voz repetir «Meu Deus!». Era o professor que substituíra a Velha, e que fazia na praia a habitual corrida matinal. «Não era da ilha. Era estrangeiro.»
Eram oito horas da manhã. Ninguém dizia uma palavra. Todos sentiam um frio estranho. De repente o presidente Câmara quebra o silêncio: "- Estamos aqui seis pessoas. Seis que sabem. Seis que devem calar-se até logo à noite. Encontramo-nos às nove horas na Câmara. Vou pensar o que há a fazer. (…) se até lá, algum dos presentes falar disto a quem quer que seja ou não comparecer logo, pego na minha espingarda e ajusto conta com ele.»
Então, os afogados são enrolados em tela plástica, colocados numa carroça e levados para a cidade.
À noite, para espanto de todos, o padre junta-se ao grupo. «- Uma pessoa abriu-se comigo no segredo da confissão (…)»  
A reunião termina sem saberem o que fazer com os cadáveres, entretanto colocados num câmara de congelação de peixe. O presidente da Câmara pede segredo «uma cruz que devemos carregar por eles» e promete que vai continuar a pensar no que fazer. Sem avisar a polícia. Não quer ver jornalistas a desembarcar na ilha. «Da noite para o dia a nossa ilha transformar-se-ia na ilha dos afogados.»  E pensa... e pensa...
Dias depois, os corpos dos três homens que morreram no mar quando fugiam da miséria, da guerra, do caos, são deitados para… Não, não, não posso revelar! Mas acreditem, são tratados como lixo, como despojos de animais.
Maldição do Brau ou não, «os mortos iriam obrigar os vivos a pagar pela sua indiferença.» E tudo começa com a chegada à ilha de um  falso policial (chegou, viu, emborcou, emaranhou, desapareceu). E um fedor intenso a carne podre. E a morte de um inocente. E o peixe a morrer no mar. E a fuga de várias famílias. E a descoberta de que ali viviam «negreiros, mercadores de corpos, traficantes de tabaco e de sonhos, ladrões de esperanças» (...) «homens assassinos de outros homens».
O homem é muito ingénuo ou muito orgulhoso, quando pensa que se podem compreender todos os mistérios e resolver todos os problemas.
E fico por aqui. E muito já disse.
E como também já muito disse sobre a escrita de Philippe Claudel... leia-o!
Magnífico!

O Arquipélago do Cão, de Philippe Claudel
Tradução de Artur Lopes Cardoso
Porto Editora, 2019
181 págs.
Foto tirada da minha varanda (1.10.2019)

22 outubro, 2019

"Joker" - filme


Joker” (EUA/Canadá, 2019, 120 min.), género drama - «character study», realizado por Todd Phillips, argumento de Todd Phillips e Scott Silver, protagonizado por Joaquin Phoenix, coadjuvado por Robert de Niro, Frances Conroy, Zazie Beetz, Bill Camp, Brett Cullen, entre outros.
O palco da acção é, só podia ser, Gotham City, suja, miserável, violenta (como a Nova Iorque do início dos anos 80), e acompanha a vida de Arthur Fleck, um homem na casa dos quarenta, frágil, pobre e solitário, fracassado, fortemente medicado, que de dia como palhaço anima festas de crianças ou anda pela rua com cartazes publicitários e à noite pratica, em lugares sórdidos, a arte da stand up comedy (ideias para piadas não lhe faltam e vai anotando todas). Arthur tem como lema de vida fazer os outros felizes e um sonho: ser comediante. Sonho irrealizável pois carece de talento (não tem graça, ninguém se ri das suas piadas) e sofre de uma perturbação mental que o leva a rir descontrolada e ruidosamente em situações que o deixam nervoso (mostra às pessoas um cartão com a explicação da sua perturbação). Arthur vive com a mãe senil e dependente, de quem cuida com carinho. 
Quando é violentamente agredido por um grupo de adolescentes, humilhado, maltratado e demitido pelo patrão; quando é "despachado" pela assistente social e deixa de ter acesso gratuito aos medicamentos de que necessita para se manter minimamente equilibrado; quando percebe que jamais concretizará o seu sonho; quando a mãe o convence de que é filho de um multimilionário que não quer saber dele, Arthur mergulha numa espiral de violência e é como um vilão, cretino e assassino que ganha popularidade.
E mais não revelo sobre a origem do famoso vilão... para não perder a graça!

Grande filme, com uma interpretação brutal, extraordinária, assombrosa, de Joaquin Phoenix.
Dou nota 5 agora, e darei um enorme aplauso quando Joaquin Phoenix subir ao palco para receber o  Óscar de Melhor Actor 2019.  Ele merece!

(Foi bom recordar o vilão nas interpretações fantásticas de Jack Nicolson e Heath Ledger. )


"Sou só eu, ou o mundo está a ficar mais louco?" pergunta Arthur à assistente social que o acompanha.
Responda quem souber!



18 outubro, 2019

ELIZABETH BARRETT BROWNING - dois sonetos de (muito) amor...


COMO GOSTO DE TI? 
Deixa contar
Os modos. Com a altura, a extensão,
E a largueza da alma, quando vão
Seus desejos o Bem a procurar.

Amo-te simplesmente, como o ar
Que respiras. Ao sol, na escuridão.
Com a audácia de um livre coração;
Co'o pudor que a lisonja faz calar.

Amo-te co'o desejo, com a ânsia
Que na dor tive; com a fé da infância;
Com esse amor que sempre cri perder,

Perdendo os meus. Amo-te sempre: andando,
Chorando, rindo, lendo, respirando...
E hei-de amar-te melhor, quando morrer.
AMA-ME POR AMOR DO AMOR SOMENTE.
Não digas: “Amo-a pelo seu olhar,
o seu sorriso, o modo de falar
honesto e brando. Amo-a porque se sente

minh’alma em comunhão constantemente
com a sua”. Por que pode mudar
isso tudo, em si mesmo, ao perpassar
do tempo, ou para ti unicamente.

Nem me ames pelo pranto que a bondade
de tuas mãos enxuga, pois se em mim
secar, por teu conforto, esta vontade

de chorar, teu amor pode ter fim!
Ama-me por amor do amor, e assim
me hás de querer por toda a eternidade.


ELIZABETH BARRETT BROWNING (1806-1861), poetisa inglesa da época vitoriana, é autora de "Sonetos da Portuguesa" (1850), uma colectânea de 44 poemas de amor escritos entre 1844 e 1845, período que antecedeu o seu casamento, em 1846, com o poeta e dramaturgo Robert Browning (1812-1889).
"Inicialmente Elizabeth estava muito relutante em publicar os poemas, sentindo que eles eram demasiadamente pessoais. No entanto, o seu marido insistia em que eles eram a melhor sequência de sonetos em língua Inglesa desde o tempo de Shakespeare e pressionava a mulher para a sua publicação. De modo a proteger a privacidade do casal, Elizabeth achou melhor publicá-los como traduções de sonetos estrangeiros. Por esse motivo, a colecção foi primeiramente conhecida como “Sonetos Bósnios”, até que Robert sugeriu a Elizabeth que alterasse a proveniência imaginária dos sonetos do Bósnio para o Português, pois ela , para além de ser uma grande admiradora de Camões era afectuosamente tratada por Robert Browning de "Pequena Portuguesa". (Wikipédia)

Tradução de:
1º  Soneto - Manuel Correia Barros, formado em Engenharia Civil e Engenharia Electrotécnica, 10º Reitor da Universidade do Porto, escritor e tradutor português (1904-1991)
2º  Soneto - Manuel Bandeira, poeta, crítico literário e de arte, professor de literatura e tradutor brasileiro (1886-1968)

(Fotos da net.)

15 outubro, 2019

Sentiste alguma vez o terror das noites...?


"A Humanidade divide-se entre aqueles que gostam de se meter na cama à noite e aqueles a quem ir dormir desassossega. Os primeiros consideram que os seus leitos são ninhos protectores, enquanto os segundos sentem que a nudez de dormitar é um perigo. Para uns, o momento de se deitar implica a suspensão das preocupações; aos outros, pelo contrário, as trevas provocam um alvoroço de pensamentos daninhos e, se fosse por eles, dormiriam de dia, como os vampiros. Sentiste alguma vez o terror das noites, a angústia dos pesadelos, a escuridão a sussurrar-te na nuca o seu hálito frio que, embora não saibas o tempo que te resta, não passas de um condenado à morte? E no entanto, na manhã seguinte a vida volta a explodir com a sua alegre mentira de eternidade."


(Rosa Montero, escritora espanhola (1951-), in “Instruções para salvar o mundo”, Porto Ed., 2008)
Responda se quiser!

(Fotos da net.)

11 outubro, 2019

Afonso Reis Cabral venceu o Prémio José Saramago 2019


Afonso Reis Cabral, escritor português de 29 anos, licenciado em Estudos Portugueses e Lusófonos, venceu em 2014 o Prémio LeYa com "O meu irmão", um corajoso primeiro romance.
Regressou em 2018 com o atordoante romance/ficção de um crime real "Pão de Açúcar", e com ele venceu, no passado dia 8, o Prémio José Saramago 2019.
Curiosamente, é de poesia o primeiro livro que publicou. Tinha 15 anos. 
E mais curioso ainda, ele é trineto de Eça de Queirós, um dos nomes maiores da literatura portuguesa.
Parabéns Afonso! Ansiosa, espero pelo terceiro romance!


Como é que se vivia assim (…) no fundo de uma cave, no fundo de uma barraca, no fundo da vida.
Pão de Açúcar”, ficciona a morte trágica, no Porto, de Gilberta Salece Júnior, brasileira, transexual, sem-abrigo, toxicodependente, com sida e outras doenças. Morte que deixou o país inteiro em estado de choque.
Em Fevereiro de 2006, os Bombeiros Sapadores resgataram o corpo sem vida de Gilberta do poço/buraco, com cerca de 10 metros de profundidade, escondido na cave de um prédio inacabado e votado ao abandonado. Nu da cintura para baixo, o corpo apresentava marcas de um espancamento brutal.
Semanas depois, os órgãos de comunicação social divulgaram que Gilberta fora agredida dias a fio por um grupo de 14 rapazes e atirada ainda com vida para o poço. Rapazes com idades compreendidas entre os 12 e os 16 anos, alguns problemáticos, retirados a famílias negligentes e acolhidos na Oficina de São José, onde o acompanhamento dos jovens não era o melhor.
«O que pode levar pessoas da minha idade, da minha cidade, a fazer isto? E a fazer isto a alguém, desamparado?» pensou incrédulo Afonso Reis Cabral, então com 16 anos, nascido em Lisboa e criado no Porto. 
Dez anos depois do horrendo crime, o autor decide investigar os factos na tentativa de compreender o que realmente se passou na cave do prédio conhecido como “Pão de Açúcar”. Durante mais de um ano pesquisou as vidas da vítima e dos agressores, percorreu as «zonas sujas» da cidade, leu decisões do Tribunal de Família e Menores do Porto, visitou a cave (o edifício continuava abandonado), leu notícias, visionou reportagens, foi a bares que a vítima frequentara, falou com amigos e conhecidos dos rapazes e de Gilberta, esteve dentro da última casa onde ela viveu, percorreu ruas, estudou trajectos. (...) meti-me ao trabalho de campo sem o qual um livro como este não se escreve (...) depois baralhei com ficção, que é como se faz um romance.
Não chegou a falar com os rapazes mas fez deles personagens meticulosamente desenhadas, e para que nada o afastasse da matriz ficcional entregou a narração dos acontecimentos a um protagonista do hediondo crime: Rafael Tiago (Rafa).
Na “Nota antes” (antes do primeiro dos 56 capítulos do romance) o autor engana o leitor (e o leitor permite o engano) quando diz ter recebido uma carta de Rafael sobre o crime, que começa com «Às vezes, a vida é uma coisa tão bela que choro de ternura e não ligo ao que dizem», ter tido com ele encontros e conversas no Porto, e que num deles lhe prometeu: «A história é tua, como se fosses tu a contá-la, mas eu escrevo-a por ti».
Rafael, 12 anos, foi o primeiro rapaz a ver Gilberta (Gi), 45 anos, na cave onde ela doente e sozinha sobrevivia. Chocado com o desamparo em que vivia na barraca que «fedia», voltou muitas vezes, com comida, água e tudo o que conseguia pilhar no trajecto da Oficina - "Pão de Açúcar". Tornaram-se amigos e confidentes. Ela era um segredo apenas seu, não o partilharia com os amigos.
Mas o dia chegou em que ele o partilhou e... na escuridão da cave seres humanos comportaram-se como monstros.
… os lugares certos na vida são os lugares errados. Como na cave, ao lado de Gi.
(reedição ligeiramente alterada)


(O primeiro romance de Afonso Reis Cabral "O meu irmão" está também aqui no Rol.)

08 outubro, 2019

Uma só manhã no Porto, mas «bi» muito, carago!

PORTO, manhã de sexta-feira, 4 de Outubro. O sol tarda em aparecer e o cinzento do céu acentua o ar melancólico da cidade do norte de Portugal, agora procurada por viajantes de todo o mundo. 
As ruas fervilham de turistas.
No céu veem-se gruas e mais gruas, utilizadas na recuperação-remodelação de inúmeros imóveis.
Aqui e ali dança-se e canta-se.  Um par de dançarinos encanta e uma tuna académica toca, canta e, claro, também encanta.
As pastelarias enchem as montras de guloseimas acabadas de sair do forno. Não entrei, não provei, juro! E também não entrei (era grande a fila) no belíssimo Café Majestic, localizado na Rua de Santa Catarina (a tal, a rua das compras, que nós mulheres tanto gostamos de percorrer para baixo e para cima...).
Não resisti e tirei da net uma foto do sumptuoso interior do histórico café, para o motivar a si a aguardar na fila, entrar e tomar um café. É uma experiência inesquecível!
O passeio terminou no Restaurante Antunes, na Rua do Bonjardim. Desta vez deliciámo-nos com um pernil assado e uma rabanada à Antunes (e só por ela, eu voltarei lá!). Fotos do almoço... não tive coragem de tirar. Acontece! Mas tirei muitas em outros locais da cidade. Um dia mostrarei, aqui.
Bora ao Porto, pessoal?!

01 outubro, 2019

Imagens e palavras: "tempo" e "homens"



"Ovídio escreveu que o tempo destrói as coisas, mas enganou-se. Só os homens destroem as coisas, destroem os homens e destroem o mundo dos homens. O tempo vê-os fazer e desfazer."




















A maioria dos homens não suspeita da existência da parte sombria que, no entanto, todos possuem. Frequentemente, são as circunstâncias que a revelam – guerras, fomes, catástrofes, revoluções, genocídios. Então, quando a contemplam pela primeira vez, no segredo da sua consciência, ficam horrorizados e tremem.”


Frases de Philippe Claudel, escritor francês (1962), in “O arquipélago do cão”, Sextante (Porto Editora), 2019
(Fotos da net: Amazónia a arder, derrama de petróleo no mar e...)