28 fevereiro, 2020

Curiosidades "Rol de leituras" - os 5 livros mais "espreitados"

"O homem que não lê bons livros não tem nenhuma vantagem sobre o homem que não sabe ler."
(Mark Twain)

Durante os nove anos de existência do "Rol de Leituras" foram muitos os livros que li (ou reli) e aqui postei. A estratégia usada para convencer alguém a lê-los foi: texto simples mas convincente, não desvendar toda a trama, não abusar das citações.
Consegui? Não sei, mas tentei!
Estes são os 5 livros mais visualizados:

1º "A História do senhor Sommer", de Patrick Süskind
«No tempo em que eu ainda trepava às árvores – há muitos, muitos anos, há dezenas de anos atrás, media apenas pouco mais de um metro, calçava o número vinte e oito e era tão leve que podia voar – não, não estou a mentir, naquele tempo eu podia de facto voar – ou pelo menos quase...»
Um livrinho encantatório que entre-cruza histórias de um rapazinho (o narrador) com histórias do senhor Sommer, o estranho que chegou à aldeia pouco depois da guerra.
Pouco ou nada se sabe sobre o senhor Sommer, mas todos o conhecem, pois é visto a caminhar apressadamente por montes e vales, estradas, bosques, de aldeia em aldeia, do nascer do dia ao pôr do sol, todos os dias do ano. Caminha apoiado num cajado e nas costas transporta uma mochila com o lanche e uma capa de borracha com capuz, que usa quando a chuva o surpreende. Quando alguém lhe dirige a palavra limita-se a abanar a cabeça, mal humorado. Ao rapazinho parece que ele move os lábios, como se falasse para si próprio, enquanto caminha...  (Ler mais...)

2º "Homem Invisível", de Ralph Ellison
«(...) sou um homem invisível!!. E, contudo, não sou nenhuma aberração da natureza nem da história. Não me envergonho de os meus avós terem sido escravos. Só me envergonho de mim próprio por em certa altura me ter envergonhado.»
“Invisível para os brancos racistas, para os brancos emancipados, e para os próprios negros radicais, o protagonista desta obra deseja apenas ser como é. E não como realmente acontece, ou seja, um “homem invisível”, já que realmente todos vêem o que o rodeia e não a ele próprio.
Homem Invisível revela a dor da existência do homem negro num mundo branco."  (Ler mais...)

(Sobre este livro recebi já várias mensagens pedindo mais informação sobre a trama e indicação das livrarias onde se vende. Já houve até quem quisesse adquirir o meu exemplar.)

3º "O Retorno", de Dulce Cardoso
«Descemos as escadas do avião e a minha irmã disse, estamos na metrópole. (...) Foi esquisito pisar na metrópole, era como se estivéssemos a entrar no mapa que estava pendurado na sala de aula.»
Corria o ano de 1975, Portugal vivia em pleno processo revolucionário e assistia ao ruir do império.
Em poucos meses, mais de meio milhão de portugueses foi forçado a abandonar as colónias e a regressar à metrópole. Eram os “retornados”.
Este fantástico romance é o relato emocionado do retorno à metrópole de uma família que vive em Luanda, onde o pai tem um negócio de transportes. O pai que “foi para África para fintar a pobreza”. O pai que “sempre tratou bem dos pretos”.  (Ler mais…)

4º "Contos Escolhidos", de Guy de Maupassant
«Haverá na mulher sentimento mais vivo que a curiosidade (…) quando a sua curiosidade impaciente desperta, será capaz de cometer todas as loucuras, todas as imprudências, todas as audácias, não recuará diante de nada.» (“Uma aventura parisiense”)
Um livro extraordinário com 42 contos, que o poeta português Pedro Tamen seleccionou (de entre mais de trezentos), traduziu e organizou em três grupos:
Contos mundanos, amorosos, eróticos e galantes (24)
Contos inquietantes, de horror e de mistério (9)
Contos exemplares (9)
Um clássico intemporal , uma prosa leve, surpreendente e hilariante.  (Ler mais…)

5º "Olhos Azuis, Cabelo Preto", de Marguerite Duras
«Uma noite, ele descobre que ela o olha através da seda preta. Que ela olha com os olhos fechados. Que ela olha sem olhar.»
Este é um livro pequenino apenas no número de páginas (96). O conteúdo é enorme e misterioso: a história de amor de dois amantes perdidos.
O enredo é a paixão desesperada de dois desconhecidos - o homem elegante e a mulher esbelta – por um estrangeiro de olhos azuis e cabelo preto, que viram no átrio de um hotel perto do mar.
(Ler mais...)


Que livros/autores visualizaria eu no Rol, se eu não fosse eu?
Não posso dizer mas... a verdade verdadeira é que chegaria até eles por outros caminhos e atalhos.
LEIAM!

21 fevereiro, 2020

Poemas & Poetas: Eugénio de Andrade


PROCURO-TE
Procuro a ternura súbita, 
os olhos ou o sol por nascer
do tamanho do mundo, 
o sangue que nenhuma espada viu,
o ar onde a respiração é doce,
um pássaro no bosque
com a forma de um grito de alegria.

Oh, carícia da terra,
a juventude suspensa,
a fugidia voz da água entre o azul
do prado e de um corpo estendido.
Procuro-te: fruto ou nuvem ou música.
Chamo por ti, e o teu nome ilumina
as coisas mais simples:
o pão e a água,
a cama e a mesa, 
os pequenos e dóceis animais,
onde também quero que chegue
o meu canto e a manhã de maio.

Um pássaro e um navio são a mesma coisa
quando te procuro de rosto cravado de luz.
Eu sei que há diferenças,
mas não quando se ama,
não quando apertamos ao peito
uma flor ávida de orvalho.
Ter só dedos e dentes é muito triste:
dedos para amortalhar crianças,
dentes para roer a solidão,
enquanto o verão pinta de azul o céu
e o mar é devassado pelas estrelas.

Porém, eu procuro-te.
Antes que a morte se aproxime, procuro-te.
Nas ruas, nos barcos, na cama,
com amor, com ódio, ao sol, à chuva,
de noite, de dia, triste, alegre - procuro-te.


Eugénio de Andrade (pseudónimo de José Fontinhas), poeta, prosador e tradutor,  nasceu na Póvoa da Atalaia, concelho do Fundão, Portugal, a 19 de Janeiro de 1923.
Estreia-se em 1939 com a obra "Narciso", torna-se conhecido em 1942 com o livro de poemas "Adolescente", afirma-se definitivamente com a colectânea "As Mãos e os Frutos" (1948).
"Marginal a grupos ou movimentos, a sua obra traduz com sobriedade os momentos de plenitude que ocorreram na vida, sejam eles de sensualidade ou de dor, sem inibições nem camuflagem, numa sinceridade contida por uma elegante reserva." Considerado um dos grandes poetas portugueses contemporâneos, tem poemas seus traduzidos em vários línguas.
Faleceu no Porto, a 13 de Junho de 2005.

"Entre lábios e lábios não sabia
se cantava ou nevava ou ardia."
(Eugénio de Andrade)

(fotos da net)

14 fevereiro, 2020

"Uma beleza que nos pertence" - José Tolentino Mendonça


Porque hoje é dia de de São Valentim, dia de celebração do amor, decidi partilhar seis pequenos textos sobre o Amor de José Tolentino Mendonça, seleccionados neste que é há dias o meu livro de cabeceira.  
Trata-se de uma compilação de textos breves (aforismos) sobre 60 temas (palavrinhas), retirados de obras de JTM publicadas no período  de 2004 a 2018 (obras essas enumeradas em «Nota do editor», no fim do livro).
No fim do livro surge ainda o índice temático ordenado alfabeticamente, e os índices onomásticos de «personagens bíblicas» e de «autores e santos» referidos ou citados na obra.
Porque gosto de palavras e frases inspiradoras e gosto (muito) de as partilhar, é certo e sabido que este livro encantador irá saltar mais vezes da minha mesa de cabeceira para o Rol. 
Compre para si, ofereça, leia-o sozinho ou acompanhado, hoje, amanhã, todos os dias!
"O amor é mais uma exposição do que uma posse; é mais uma súplica do que um dado; é mais uma sede do que uma barragem; é mais uma conversa de mendigos do que um diálogo de triunfadores."

"Não gostamos, não amamos. E somos infelizes."

"Amar é dar o nosso amor ao outro sem controlar aquilo que o outro pode fazer com o nosso amor."
"O que nos salva não é uma negociação. O que nos salva é um excesso de amor, uma dádiva que vai para lá de todas as medidas. É essa a bem-aventurança que nos salva. É esse assombro de amor que nos relança. Não é um acordo, um pacto. Isso é para os negócios."

"No amor, dizemos uns aos outros: «Guardar o teu segredo é o meu segredo.»

"Respirar, viver, não é apenas agarrar e libertar o ar mecanicamente: é existir com, é viver em estado de amor."


Agora... vou namorar!
Namorem também. Muito!!!

Uma beleza que nos pertence, de José Tolentino Mendonça
Quetzal Ed., 2019
213 págs.

((corações... da net)

07 fevereiro, 2020

Memórias recuperadas: moda e fotografia!

                                                                           (blusa estampada, 1990)

Se dúvidas eu tivesse, estas fotografias (e muitas outras) de «euzinha», tiradas nos anos noventa e esquecidas numa caixa de cartão no fundo de um armário, comprovam que foi no estilo marcante da década de noventa que se inspiraram os criadores da moda actual.
Foi um encantamento encontrar-me com elas e comigo, pois então! Recordei o instante exacto de cada disparo da máquina fotográfica, quando foram tiradas, onde foram tiradas, quem as tirou. Recordei, deliciada, instantes da minha vida pessoal e profissional (que marcas boas deixou em mim aquele mês de trabalho na Guiné-Bissau...).
Fotografias são uma prova de vida. E estas são sim fragmentos da minha vida, livres de quaisquer efeitos da passagem do tempo.
Sem pingo de nostalgia, mas com uma certa tristeza (confesso), por momentos quedei-me hirta pensando no quanto mudei, momentos apenas, pois logo gritei (a sério que gritei): VIVA! Continuo viva, saudável, fiel aos meus valores, e feliz!  (continuei gritando...) E não sou,  nem nunca fui, fanática por moda!
(Vá, a memória  já me prega algumas partidas, natural, não?!)
Pois então, foi para «memória futura» que decidi digitalizar estas fotografias (poderiam ser tantas outras) e «estampá-las» aqui no Rol. Talvez me inspirem a perder pelo menos metade dos quilos que ganhei. As rugas não me incomodam, são páginas do meu livro de vida, lembranças doces ou amargas, marcas do tempo, e o tempo é precioso!
Uma das fotografias é prova de uma lembrança doce e amarga: a doce celebração do meu 40º aniversário; a amarga ausência do maridão, longe, muito longe. A trabalhar, claro!
E, sem falha de memória, garanto que naquele exacto dia eu pesava: 51 quilos. Saudades daquele peso? Nunca, jamais, saudades eu só tenho dos que amo e do tempo que  não vivi intensamente.
Olhar fotografias antigas é gostoso demais. Verdade!
         
  (saia estampada, blusa cavada, 1990 / casaquinho estampado, 1990)
                                
(calça legging, 1990)

(calça legging, 1991 / saia de malha plissada, 1991)

(blazer com enchumaços, 1992 / saia calção, 1992)

(vestido abotoado à frente, 1993)

(vestido lycra, 1994 / casacão xadrez, 1995)

(calções compridos com cintura subida, 1995)

(macacão, 1997)

Deixei esta fotografia para o fim e propositadamente desfoquei-a um pouco. Eu, com o Carlos, algures no centro de Moçambique, no distante 1991
Reparem no que tenho ao ombro. Sim, sim, é uma confortável e prática mochila, em pele muito macia, recordo. Levava dentro tudo e mais alguma coisa!
Pois não é que as mochilas voltaram a ser «moda» e conquistam espaço com uma infinidade de cores e modelos?
Confesso, não acho piada nenhuma às mochilas pequeninas e, pior, cobertas de tachas.
(fotos da net)

Agora anote: os calções, mais compridos e amplos, em tons neutros ou estampados, cintura subida, com pregas, bolsos, folhos ou aplicações, vão estar em alta na primavera/verão 2020.  E as mochilas vão continuar «na berra», pois então!

(mochila às costa, Canadá, 1999)

Fui muito feliz nos anos noventa!


"A melhor coisa sobre  uma fotografia é que ela não muda mesmo quando as pessoas mudam."
Handy Warhol, pintor e cineasta americano (1928-1987)

04 fevereiro, 2020

Palavras sublinhadas - Julian Barnes


"À medida que envelhecemos, o coração deixa cair as folhas como uma árvore. Nada resiste contra certos ventos. Cada dia arranca umas folhas mais; e depois há as tempestades, que de uma só vez partem vários ramos. E enquanto o verde da natureza cresce na primavera seguinte, o do coração não volta a crescer."


JULIAN BARNES, escritor inglês (1946-), in “O papagaio de Flaubert”, Ed. Quetzal, 2019




Queridas amigas(os), a minha filhota apareceu para passar connosco poucos, pouquíssimos dias: chegou domingo, regressa a Inglaterra já na quinta-feira.
Eu regressarei ao vosso convívio logo no dia seguinte.
O meu coração de mãe palpita de amor, alegria, emoção.
Beijos e abraços.
(fotos da net)