26 maio, 2011

"Todo-o-Mundo" - Philip Roth


A velhice não é uma batalha a velhice é um massacre.
Atenção, se pretende iniciar-se na leitura de Philip Roth e é facilmente impressionável quando o tema é envelhecimento, doenças, mortes e enterros, este não é o livro aconselhável.
Ou será?
A grandeza de um escritor mede-se quando estes temas dramáticos são narrados de forma magistral, sem cair em excessos fúnebres. É claro que causa desconforto no leitor mas o principal é conseguido, deixá-lo a pensar na maior das angústias da vida: a morte.
A história inicia-se com o funeral do protagonista, um homem sem nome (everyman) e termina com a sua morte, quando ele “deixou de existir, liberto do ser, entrando no nada sem sequer saber” aos 71, de paragem cardíaca, na sala de operações, quando o preparavam para a desobstrução da carótida direita, mais uma (e a última) a acrescentar às muitas operações a que foi sujeito ao longo da vida: hérnia, amígdalas, apendicite e peritonite, obstrução das artérias coronárias, obstrução da artéria renal, angioplastias, implantação de desfibrilhador.
Mas as doenças relatadas não são só as do protagonista: o pai teve uma peritonite, a mãe faleceu na sequência de um AVC, a amante sofre de enxaquecas, uma das ex-mulheres (teve 3) sofreu um AVC, um colega com problemas psiquiátricos.
Para além da morte do protagonista há mais cinco mortes neste pequeno romance: o pai (cujo funeral é descrito com detalhe), dois colegas da agência de publicidade onde trabalhou, duas alunas das suas aulas de pintura.
Para além de doenças e mortes o autor brinda-nos com o relacionamento do protagonista (nascido em 1933, em New Jersey), com os pais que admira, o irmão Howie que ama e inveja (?), as três mulheres, os dois filhos, do primeiro casamento, que o desprezam, Nancy a filha do segundo casamento, que o adora, as enfermeiras, os colegas da agência de publicidade, os alunos das suas aulas de pintura, o coveiro.
Que livro maravilhoso sobre a amizade, o amor, a vida e a morte.
O título original deste livro é “Everyman”. O autor foi buscá-lo a uma peça de teatro alegórico de um autor anónimo do século XV, um clássico da dramaturgia inglesa antiga, que tem por tema a chamada dos vivos à presença da morte.

Todo-o-Mundo, de Philip Roth
Dom Quixote, 2006
Tradução de Francisco Agarez
179 págs.

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