14 agosto, 2020

"As Cores do Crepúsculo" (*)



"Vamos andando solidamente e de repente vemos um pôr-do-sol e estamos perdidos de novo."
Jorge Luis Borges, escritor argentino (1899-1986)


“A beleza não está nem na luz da manhã nem na sombra da noite, está no crepúsculo,
nesse meio tom, nessa incerteza.”
Lygia Fagundes Telles, escritora brasileira (1923-)


"Quando admiro a maravilha de um pôr-do-sol ou a beleza da lua, minha alma se expande em reverência ao Criador."
Mahatma Gandhi, líder espirital indiano (1869-1948)


"Seja humilde, pois até o sol com toda a sua grandeza se põe e deixa a lua brilhar."
Bob Marley, cantor e compositor jamaicano (1945-1981)



(*) Título de um livro de Rubem Alves, teólogo, pedagogo, poeta e filósofo brasileiro (1933-2014)


11 agosto, 2020

De pétalas se faz o "Pétalas de Sabedoria"



O "Pétalas de Sabedoria" completou oito anos de existência, no passado dia 1 de Julho.
Naquele dia de 2012, eu escrevi:

Inicio hoje um novo blog.
Para mim será um enorme baú onde vou guardar frases, pensamentos, provérbios e tudo o mais que me toca e emociona.
Ao longo de muitos anos fui amontoando papelinhos em caixas e gavetas e, agora, decidi guardá-los num enorme baú.
Se por aqui passar deixe aquele pequeno texto que o tocou. Eu publicá-lo-ei com o seu nome e o seu blog. Utilize a minha caixa de email e siga o modelo das minhas publicações.
Desta forma, construiremos um jardim de memórias perfumadas.

Pétala a pétala, plantadas diariamente, o jardim cresceu fresco e viçoso, no início meio escondido, agora mais revelado.
E porque este jardim de memórias é de quem o cuida mas também de quem o visita, o explora, o perfuma com pétalas coloridas, para a festa de publicação da Pétala nº 3.000 (já amanhã) gostava de contar com uma pétala sua sobre... ESPERANÇA: uma frase ou poema original, ou uma citação. Pode enviá-la para a caixa de email do Pétalas, ou deixá-la na caixa de comentários. Prometo plantá-la e cuidá-la.
Obrigada a todas as pessoas que me ajudam a fazer do "Pétalas de Sabedoria" um jardim de palavras sábias, vivas, protegidas, iluminadas, admiradas.
 

Agora, leia ou releia as 5 pétalas mais «contempladas»:

"Nunca estrague o seu presente por um passado que não tem futuro."
DALAI LAMA, monge tibetano.

"A realidade é uma hipótese repugnante."
MANUEL ANTÓNIO PINA, jornalista e escritor português (1943-2012)

"Solidão é aquele florzinha, débil, triste e sozinha, mas que um dia, contra tudo e contra todos, ergue a cabeça, floresce e sorri ao sol logo que aparece."

4ª "Solidão é quando olhando para dentro de nós mesmas, não vemos nenhuma voz para conosco conversar, nem mais somos capazes de ver as belezas dos céus, das flores e do SOL interior... Essa é fatal!"

“A riqueza, não se mede pelos bens que se possui, mas sim pelo bem que se faz.
MIGUEL DE CERVANTES, escritor espanhol (1547-1616)


(Repararam que pétalas de duas amigas queridas - a Emilia e a Chica - estão entre as cinco mais contempladas? Muito bom!!)


(fotos da net)

04 agosto, 2020

"Viagens" - Olga Tokarczuk


Ver e olhar são um mistério, tal como um grande mistério é o facto de existirmos.
“Viagens” (livro vencedor do International Man Booker 2018, da escritora polaca Olga Tokarczuk, psicoterapeuta, formada em Psicologia, Prémio Nobel de Literatura 2018) é um livro  original, fascinante, arrebatador, que nos prende da primeira à última página 
Uma construção narrativa feita de pequenas histórias, pensamentos, citações, informações enciclopédicas, anotações, divagações, desabafos, reflexões, crónicas, factos históricos, narrativas autobiográficas, ficcionais, instruções de uso, palestras, curiosidades, etc..;
Uma exploração do sentido de ser um viajante em viagem constante através do espaço e do tempo;
Uma reflexão sobre o corpo humano, a vida, a mente, a morte e o movimento. De onde provimos? Para onde vamos ou regressamos?
Uma «viagem» contínua, «tudo o que estagna acabará por sofrer decomposição, degeneração e transformar-se-á em pó, enquanto aquilo que está em movimento consegue durar eternamente».
Um «rastrear de erros da criação e desacertos da natureza», diz a autora.
Partilho excertos de alguns dos inúmeros textos, e começo pelo primeiro, que ocupa apenas uma página (há outros mais pequenos). Atentem na capacidade imaginativa e na linguagem própria, acessível, poética.
(Existo)
“Nada acontece. (…)
Aquele final de tarde é a orla do mundo – tacteei-a por acaso e sem querer, quando estava a brincar. Descobri-o porque me deixaram sozinha por um instante e não o acautelaram. Claro está que acabei presa, numa armadilha. Tenho apenas alguns anos, estou sentada no parapeito da janela, observo o pátio frio. As luzes da cozinha da escola estão desligadas. Já se foram todos embora. As lajes de betão do pátio mergulharam na escuridão e deixei de as ver. Portas fechadas, toldos recolhidos, estores descidos. Queria sair, mas não tenho para onde ir. Somente a minha presença adquire agora contornos bem definidos, contornos que estremecem, ondulam, e isso dói. E, subitamente, descubro a verdade: não há nada a fazer – existo.”
(O Mundo na Cabeça)
“O meus pais não eram verdadeiros viajantes porque viajavam para regressar. (…) Depois, durante todo o ano, levavam uma vida sedentária, aquela vida estranha, em que de manhã se regressa àquilo que se largou à noite (…) Pelos vistos, não herdei o gene que faz com que as pessoas criem raízes, quando permanecem muito tempo no mesmo lugar. Já tentei várias vezes, mas as minhas raízes são sempre superficiais e qualquer brisa é capaz de me arrancar da terra. Não sou capaz de germinar, fui desprovida dessa faculdade vegetal. (...) A minha energia provém do movimento – da trepidação dos autocarros, da zoadeira dos aviões, da oscilação dos comboios e dos barcos."
(La Mano de Giovanni Battista)
“Existe mundo em demasia. (…)Parece que nada mais nos resta a não ser aprender a fazer escolhas até ao fim. E ser como aquele viajante que conheci num comboio nocturno e me disse que, de vez em quando, precisava de visitar o Louvre e de permanecer diante do único quadro que, na sua opinião, realmente merecia ser contemplado. Deter-se diante do quadro de João Baptista e seguir com o olhar a direcção indicada pelo dedo erguido do Santo."
(Estou)
"Cresci e evoluí. No princípio quando acordava em lugares estranhos pensava que estava em casa (…) Todavia, logo a seguir, entrei na fase que a Psicologia da Viagem designa como «Não sei onde estou». (…) A próxima etapa é a terceira, segundo a Psicologia da Viagem, é a etapa da viagem-chave, da viagem-coroa, aquela que constitui a meta final. Para onde quer que viajemos, viajamos sempre em direcção a ela. «Não importa onde estou». Onde estou – tanto faz. Estou.”

Existem dois pontos de vista acerca do mundo: a perspectiva da rã e a vista do pássaro em pleno voo. Qualquer ponto entre estes dois só serve para gerar o caos.
Este livro é diferente de tudo o que já li.
É mágico! É lindo! É perfeito!
E eu recomendo-o.

Viagens (2007), de Olga Tokarczuk 
Tradução de Teresa Fernandes Swiatkiewicz
Ed. Cavalo de Ferro, 2019
343 págs.