Há onze anos que não ia a Nova Iorque… tinha deixado de habitar não só o grande mundo mas também o momento presente. Mas agora tinha percorrido ao volante os quase duzentos e dez quilómetros para sul até Manhattan para consultar um urologista… especializado num tratamento destinado a ajudar milhares de homens como eu a quem a cirurgia da próstata deixava incontinentes.
Tinha passado estes onze anos sozinho numa casinha à beira de uma estrada de terra batida do interior profundo, tendo decidido viver assim isolado de tudo uns dois anos antes de me ser diagnosticado o cancro.
Escrevo durante quase todo o dia e muitas vezes pela noite dentro. Ouço música, passeio pelos bosques, nado sem fato de banho…
Não faço sessões de leitura nem conferências nem dou aulas em nenhuma faculdade nem apareço na televisão.
Que diferença faz agora se sou incontinente e impotente?
Sinopse: Percorrendo as ruas (de Nova Iorque) como uma alma penada, depressa estabelece três relações que fazem explodir a sua solidão tão cuidadosamente protegida.
Uma é com um jovem casal com o qual, num momento irreflectido, se propõe fazer uma permuta de casas. Eles trocarão a Manhattan do pós 11 de Setembro pelo seu refúgio no interior e ele regressará à vida urbana. Mas a partir do momento em que os conhece, Zuckerman quer também trocar a sua solidão pelo desafio erótico da jovem mulher, Jamie, que o atrai a ponto de o fazer voltar a tudo quanto pensava ter deixado para trás: a intimidade, o jogo vibrante do coração e do corpo.
A segunda relação é com uma figura da juventude de Zuckerman, Amy Bellette, companheira e musa do primeiro herói literário de Zuckerman, E.I. Lonoff. Outrora irresistível, Amy é agora uma velha minada pela doença, guardiã da memória desse escritor americano de nobre austeridade, que apontou a Nathan o caminho solitário para uma vocação de escritor.
A terceira relação é com o aspirante a biógrafo de Lonoff, um jovem mastim literário, pronto a fazer e dizer praticamente tudo o que for preciso para chegar ao «grande segredo» de Lonoff.
Que romance extraordinário sobre o amor, a velhice, a doença, o desejo e o ressentimento.
Da primeira à última página a escrita de Philip Roth é tão perfeita e intensa que só apetece citar, citar, citar.
E se certa manhã pegasse na página que tinha escrito na véspera e não conseguisse lembrar-me de a ter escrito, que faria? Que iria restar de mim?
Fabuloso!
O fantasma sai de cena, de Philip Roth
Dom Quixote, 2008
Tradução de Francisco Agarez
285 págs.
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