31 dezembro, 2012

Hoje é o último dia do ano... e eu cito Saramago!

 
UM EXCELENTE 2013 PARA TODOS

"Hoje é o último dia do ano. Em todo o mundo que este calendário rege andam as pessoas entretidas a debater consigo mesmas as acções que tencionam praticar no ano que entra, jurando que vão ser rectas, justas e equânimes, que da sua emendada boca não voltará a sair uma palavra má, uma mentira, uma insídia, ainda que as merecesse o inimigo, claro que é das pessoas vulgares que estamos falando, as outras, as de excepção, as incomuns, regulam-se por razões próprias para serem e fazerem o contrário sempre que lhes apeteça ou aproveite, essas são as que nunca se deixam iludir, chegam a rir-se de nós e das boas intenções que mostramos, mas, enfim, vamos aprendendo com a experiência, logo nos primeiros dias de Janeiro, teremos esquecido metade do que havíamos prometido, e, tendo esquecido tanto, não há realmente motivo para cumprir o resto, é como um castelo de cartas, se já lhe faltam as obras superiores, melhor é que caia tudo e se confundam os naipes."
 
José Saramago, in “O ano da morte de Ricardo Reis” (pág. 59)

21 dezembro, 2012

(Feliz) NATAL - Poema de Miguel Torga

FELIZ NATAL PARA TODOS

NATAL
Fiel das horas mortas
Dessa noite comprida,
Pergunto a cada sombra recolhida
Que sol figura o lume
Que da lareira negra me sorri:
O do calor cristão?
O do calor pagão?
Ou a fogueira é só a combustão
Da lenha que acendi?

Presépios, solstícios, divindades…
A versátil natureza
Do homem, senhor de tudo!
Cria mitos,
Destrói mitos,
Nega os milagres que fez,
E depois, desesperado,
Procura o mundo sagrado
Nas cinzas da lucidez.

Poema de Miguel Torga, Portugal (1907-95)
Pintura (O Anjo) de Carlos Reys, Portugal (1937-)

14 dezembro, 2012

NATAL - Poema de Reinaldo Ferreira

 

NATAL
Neste caminho cortado
Ente pureza e pecado
Que chamo vida,
Nesta vertigem de altura
Que me absolve e depura
De tanta queda caída,
É que tu nasces ainda
Como nasceste
Do ventre de Tua mãe.
Bendita a Tua candura.
Bendita a minha também.

Mas se me perco e Te perco,
Quando me afogo no esterco
Do meu destino cumprido,
À hora em que eu Te rejeito
E sangra e dói no Teu peito
A chaga de eu ter esquecido,
É que Tu jazes por mim
Como jazeste
No colo da Tua mãe.
Bendita a Tua amargura
Bendita a minha também.

Poema de Reinaldo Ferreira, Portugal (1922-1959)
Pintura de Carlos Reys, Portugal (1937-)

07 dezembro, 2012

Desafio nº12 – Considerava que cada pessoa é responsável por si própria. Quem é esta mulher guerreira que gostava de ser tratada como a maior escritora francesa?

Ninguém me aceitava tal como eu era, ninguém me amava; amar-me-ia eu bastante, pensei, para compensar este abandono. Outrora convinha-me, mas preocupara-me pouco em me conhecer; doravante pretendi desdobrar-me, olhar-me, espiar-me; no meu diário dialogava comigo própria. Entrava num mundo cuja novidade me aturdia. Aprendi o que separa o desespero da melancolia e a secura da serenidade; aprendi as hesitações do coração, os seus delírios, o aparato das grandes renúncias e os murmúrios subterrâneos da esperança.
Contudo perseverei no meu desígnio: servir.
O meu caminho estava traçado: aperfeiçoar-me, enriquecer-me e exprimir-me numa obra que ajudasse os outros a viver.
 
Ajuda se eu disser que nasceu, em 1908, numa colónia francesa, e que este foi o primeiro livro de uma vasta obra autobiográfica?
Ajuda se eu disser que teve uma relação polémica com o maior filósofo do seu tempo?
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Resposta do Desafio nº 11:
Este não foi fácil, pois não? Trata-se de “Os três seios de Novélia”, de Manuel da Silva Ramos. Ganhou o Prémio de Novelística Almeida Garrett 1968.
Parabéns para quem acertou.

01 dezembro, 2012

2º Aniversário do "rol de leituras"


E já passaram 2 anos...
Dois anos de boas leituras e muitas releituras. A crise não perdoa…
(Não conheço gente nas editoras que me arranje livros mais baratinhos… mesmo com pequenitos defeitos…)
Bem, vamos mas é ao que importa:
E o que importa é que no segundo ano do meu blogue li romances fabulosos e poesia encantatória, descobri novos e extraordinários autores, li excelentes crónicas e entrevistas em revistas e jornais, aproximei-me de bons blogues de livros, enfim, foi um consolo, no meio de tanta desgraça.
Dos muitos (uau!) livros traduzidos que li este ano, destaco o extraordinário romance “Até ao fim da terra”, de David Grossman. Um livro intenso, inesquecível, sobre a dor de uma mãe, sobre a dor de um povo. Um livro com uma história atualíssima, infelizmente. Aconselho a sua leitura.
Dos poucos (falhei!) livros que li, escritos na nossa língua, destaco “O teu rosto será o último”, do desempregado-premiado João Ricardo Pedro. Gostei!
Também reli bons livros de José Saramago (a magia das metáforas), de Gabriel García Márquez (a magia das histórias), de Isabel Allende (a magia feminina), e muitos outros.
Descobri, definitivamente, os contos e perdi-me em leituras soberbas.
E descobri Mia Couto n’ “A confissão da leoa”. Voltarei a este autor no terceiro ano do meu rol.
E não consegui terminar “Os detectives selvagens” de Roberto Bolaño. É uma estafa este livro! Para me redimir, começarei o próximo ano com um comentário sobre ele.
E criei um novo blogue "Pétalas de Sabedoria". Puro deleite!
Pois bem, e o que se segue? No terceiro ano quero:
Degustar primeiros romances de novos escritores, principalmente de língua portuguesa;
- Aprender com Saul Bellow, Henrique Vila-Matas, Naguib Mahfouz, Salman Rushdie, Haruki Murakami, Robert Musil. Já estão todos alinhados, a “olhar” para mim;
- Relembrar Eça de Queirós, Jorge Amado, José Saramago, Ernest Hemingway, Thomas Mann, John Steinbeck.
- Divulgar poetas e pintores (fascinação!);
- Manter os “Desafios” mensais e comentar os livros já "desafiados";
- Visitar mais os blogues de livros que sigo;
e,
- Reduzir o número de postagens (o tempo livre é pouco e as prioridades são outras).
Conseguirei? Claro que sim!
Aceito comentários, sugestões e críticas que ajudem a melhorar o terceiro ano deste cantinho.
Obrigada a todos os que passaram pelo rol de leituras.
Obrigada pelos comentários no blogue, pelas mensagens no email.
Obrigada pelo carinho, pelo incitamento, pela força.
Abraço!