Cresci com sangue – com sangue e sebo e afiadores de facas e máquinas de cortar carne e dedos amputados ou dedos a que faltavam partes nas mãos dos meus três tios e do meu pai – e nunca me habituei a isso e nunca gostei disso.
A história passa-se em Newark, New Jersey, nos anos 50, vivia-se a terrível e sangrenta Guerra da Coreia (1951-1953).
O narrador é Marcus Messner – para quem “indignação” é a palavra preferida do dicionário, 19 anos, filho único de um talhante kosher , um estudante responsável, diligente e aplicado que se revolta contra a excessiva preocupação do pai com a sua segurança e, no segundo ano da faculdade, decide ir estudar para bem longe de casa. “Fui-me embora porque de repente o meu pai não confiava sequer na minha capacidade de atravessar a rua sozinho. Fui-me embora porque a vigilância do meu pai se tinha tornado insuportável. Tinha de me afastar dele antes que o matasse – e foi isso que disse desabridamente à minha mãe incrédula.
Então porquê tudo isto, pai? Por causa da vida, em que o mais pequeno passo em falso pode ter consequências trágicas. Oh, caramba, o pai parece um bolinho da sorte a falar!”
Empenha-se ao máximo. Não entra para nenhuma das “fraternidades” da faculdade. Isola-se. Vai às aulas. Estuda e trabalha numa estalagem ao fim-de-semana. Foge das diversões e da anarquia dos jogos sexuais.
Até que entra em cena uma rapariga – Olivia Hutton, pálida e esguia, de cabelo ruivo escuro, enigmática e sem inibições sexuais.
“Tinha de apalpar a Olivia porque apalpá-la era o único caminho a seguir se queria perder a virgindade antes de acabar a universidade e de ir para a tropa.”Aí estava mais um objectivo… atingido.
Mas, a partir daí, tudo se desmoronou.
Romance fabuloso sobre o inconformismo na adolescência, a imaturidade, a descoberta sexual, a vulnerabilidade do indivíduo, o descrédito da religião, a procura de um caminho no meio das tradições e restrições, numa América em guerra na Coreia.
Indignação, de Philip Roth
Dom Quixote, 2009
Tradução de Francisco Agarez
175 págs.
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