27 fevereiro, 2018

À terça - imagens e palavras: "inverno"


“A vida é um longo inverno, para quem não conhece o amor.”


Carla M. Soares, escritora portuguesa (1971-), in “Alma rebelde”, Porto Editora, 2012
(Veja mais no blogue Pétalas de Sabedoria)
Foto da net.

23 fevereiro, 2018

"Plenos poderes" - Pablo Neruda

"Plenos Poderes" (1963), colectânea de 36 poemas curtos e grandes odes, reúne a melhor e mais representativa poesia de Pablo Neruda, escrita no período mais produtivo da sua vida. 
Seleccionei o poema título da antologia mas oportunamente postarei versos de algumas das odes mais celebradas da obra do poeta chileno, Prémio Nobel da Literatura, 1971.

Comprei este livro numa livraria de livros usados (ou em segunda-mão, como queiram) duma vila do distrito de Lisboa, conhecida pelo seu belíssimo Palácio Nacional.
Loja pequenina, de paredes forradas de livros. Um lugar especial para quem gosta de ler.
Eu "perdi-me" lá dentro. Queria comprar tudo. Folhear tudo. Cheirar tudo. Imaginei-me "a feliz proprietária" daquela loja pequenina a abarrotar de livros. Leria-os todos!
Ali só não gostei do empregado, um jovem na casa dos trinta anos, muito hábil a fugir das questões que eu colocava sobre um ou outro livro ou autor. Estranhei!
Descobri porquê quando, já à saída, lhe perguntei «Rodeado de tantos livros imagino que tenha lido a maioria?» e ele respondeu com um sonoro e sorridente «NÃO! Não gosto de ler livros, só revistas, de preferência de desporto».
Aturdida, consegui balbuciar «não sabe o que perde» e agarrei-me ao braço do meu marido que me disse ao ouvido «vamos almoçar» e me levou dali.
Não gosto de ler livros... Como é possível!

PLENOS PODERES 
A sol descoberto escrevo, em plena rua,
em pleno mar, aonde posso canto,
somente a noite errante me detém
mas nessa interrupção ganho espaço,
recolho sombra para muito tempo.

O trigo negro da noite cresce
enquanto os meus olhos medem a planície
e assim de sol a sol forjo as chaves:
procuro na escuridão as fechaduras
e vou abrindo ao mar as portas rachadas
até encher armários com espuma.
E não me canso de ir e vir
com a sua pedra a morte não me retém,
não me canso de ser e de não ser.

Às vezes pergunto-me de onde
se de pai se de mãe se de cordilheira
herdei os deveres minerais,

os fios de um oceano aceso
e sem parar sei que continuo, que prossigo
e canto, no canto prosseguindo sem parar.

Não tem explicação o que acontece
quando fecho os olhos e circulo
como por entre dois canais submarinos,
na sua ramagem leva-me um para a morte
e canta o outro para que eu cante também.

Assim do nada sou composto
e como o mar assalta o arrecife
com balões salgados de brancura
e desenha a pedra com as ondas,
assim o que na morte me rodeia
abre em mim a janela da vida
e em plena exaltação estou dormindo.
Em plena luz caminho pela sombra.

21 fevereiro, 2018

"Manual de um homicídio" - Gonçalo JN Dias


"Manual de um homicídio", segundo livro do autor independente Gonçalo JN Dias estará disponível gratuitamente em formato digital, entre os dias 20 e 24 de Fevereiro, 2018.

Se gosta de romances policiais, espreite os links:

Sinopse:
Marina, uma mulher de 38 anos com um relacionamento desgastado, apaixona-se por um colega de trabalho, casado e com um filho. Os dois têm uma relação tórrida. Um deles comete um assassinato.
Oscar, um polícia de homicídios, é encarregue do caso. É um homem dedicado ao seu trabalho e à sua família, que goza e brinca com as típicas series policiais norte-americanas.

O  primeiro livro de Gonçalo JN Dias, "O Bom Ditador - O Nascimento de um Império", obteve um relativo sucesso e está já traduzido em três outros idiomas.

Quando pedem, nada custa divulgar.
Sucesso, Gonçalo!

20 fevereiro, 2018

À terça - imagens e palavras: "olhos"


“A vida é o que se vê nos olhos das pessoas.”

Virginia Woolf, escritora inglesa (1882-1941), in “Contos – Um romance que não foi escrito”, Ed. Relógio d’Água, 2004
(Veja mais no blogue Pétalas de Sabedoria)
Foto da net.

16 fevereiro, 2018

“Chocolate quente… uma delícia em estado líquido!”

“(…)Há clássicos que nunca passam de moda. Como o chocolate quente, por vezes o único conforto após um dia de chuva copioso. Se não quiser perder tempo, há umas quantas marcas de chocolate em pó que são garante de prazer – Monbasa, Godiva, Cadbury’s… Mas se lhe apetece uma versão caseira, precisa de chocolate em pó, açúcar amarelo, leite meio-gordo, farinha Maizena e chocolate culinário. Numa chávena, comece por misturar o chocolate em pó (1 colher de sopa), o açúcar amarelo (uma colher de chá) e a farinha Maizena (uma colher de chá). Vá juntando o leite (uma chávena) aos poucos, para unir a mistura. Ponha uma panela ao lume com o restante leite e junte tudo. Entretanto, derreta o chocolate culinário em banho-maria e adicione ao leite, sem parar de mexer. O chocolate quente está pronto quando estiver bem espesso. Se quiser, pode acrescentar uns pozinhos de especiarias a gosto: canela, pimenta rosa ou baunilha. E já está, uma delícia em estado líquido. (…)”
Quero que você me aqueça nesse inverno…”, o artigo de Katya Delimbeuf publicado na revista “E”, do jornal “Expresso” de 3 de Fevereiro 2018, aqueceu-me a alma. A mim e, sem dúvida alguma, a todos os que o leram. Atrevo-me a dizer que foi o texto mais docinho e aconchegante que li num jornal.
Além do “Chocolate quente” (a minha bebida-conforto preferida) Katya Delimbeuf também ensina  a fazer “Vinho quente”, “Irish Coffee”, “Sidra” e “Tchai” (chá tradicional indiano).

Hum! Já sinto os aromas e o calor da chávena nas mãos. Cozinha, aí vou eu…
Gente, compartilho todas as receitas quentinhas. É só pedir, tá?!

(Já agora, se ainda não provou o “chocolate quente” da pastelaria “Versailles" na Avenida da República, em Lisboa, corra para lá!)
Foto da net.

14 fevereiro, 2018

Namorar é andar de mãos dadas...

"Não quero que fiquem com a ideia de que ela era alguma pedra de gelo ou coisa assim, lá porque nunca fizemos amor nem estivemos na marmelada. Não era. Passava o tempo de mãos dadas com ela, por exemplo. Não parece grande coisa, bem sei, mas é que ela era bestial a andar de mãos dadas. A maior parte das miúdas se lhes damos os mãos, a merda das mãos delas ou «morre» na nossa mão ou então acham que têm de estar sempre a «mexer» a mão ou coisa assim. A Jane era diferente. Íamos à merda de um filme ou assim, e dávamos logo as mãos e não largávamos até o filme acabar. E sem mudar de posição e sem fazer disso uma grande coisa. Com a Jane, nem sequer me chateava a pensar se tinha as mãos suadas ou não. A única coisa que sabia é que era feliz. E era mesmo."


Excerto do extraordinário romance "À espera no centeio", de J. D. Salinger.
O narrador é Holden Caulfield, um adolescente de dezassete anos.

NAMOREM MUITO!
Hoje e todos os dias.

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13 fevereiro, 2018

À terça - imagens e palavras: "máscara"


“Dê ao homem uma máscara e ele se tornará quem realmente é.”

Frase de Oscar Wilde, escritor irlandês (1854-1900)
(Veja mais no blogue Pétalas de Sabedoria)
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09 fevereiro, 2018

"O escritor fantasma" - Philip Roth

Quando admiramos um escritor, tornamo-nos curiosos. Vamos à procura do seu segredo.
“Era a última hora de luz de uma tarde de dezembro, há mais de vinte anos – eu tinha vinte e três anos, estava a escrever e a publicar os meus primeiros contos e, tal como tantos heróis do Bildungsroman antes de mim, já pensava no meu próprio e volumoso Bildungsroman – quando cheguei ao refúgio do grande homem que ia visitar…”
Começa assim este excelente romance sobre as tensões entre a literatura e a vida.
O narrador é Nathan Zuckerman, problemático e ambicioso ficcionista judeu, alter-ego do ficcionista judeu e genial contador de histórias Philip Roth (n.1933) em nove hilariantes romances. “O escritor fantasma" (1979) marca o  aparecimento de Zuckerman, “O fantasma sai de cena “(2007) o seu desaparecimento.
O grande homem “é Emanuel Isidore Lonoff, consagrado contista, ídolo e mestre literário de Zuckerman desde os tempos da faculdade. O grande Lonoff, filho de judeus, que no auge da carreira literária, desiludido com as acusações dos judeus de New York personalidades intelectuais aterradoras, troca a civilização pelo isolamento na montanha. Em Dezembro de 1956, trinta anos depois dessa fuga nunca explicada, o “ermita rural” convida o escritor desconhecido (que lhe fez chegar quatro contos publicados em revistas literárias) para um serão na sua casa.
Pureza. Serenidade. Simplicidade. Reclusão. Toda a concentração, exuberância e originalidade de uma pessoa reservada para a vocação transcendente, extenuante, sublime. Olhei em volta e pensei: é assim que quero viver.
Depois de olhar melhor, Zuckerman encontra um homem envelhecido, austero, entediado, autocrítico, desencantado, conformado a uma existência onde nada acontece: Dou voltas às frases. A minha vida é isso. Escrevo uma frase e dou-lhe uma volta. Depois olho para ela e dou-lhe mais uma volta. Depois vou almoçar. Depois volto e escrevo mais uma frase. Depois leio e releio as duas frases e dou-lhes uma volta. Depois deito-me no sofá a pensar. Depois levanto-me e atiro-as fora e volto ao princípio. E, se descanso desta rotina durante um dia que seja, fico louco de tédio e a achar que foi um desperdício….
Zuckerman não se decepciona. Ainda espantado com o convite, tímido, ansioso, curioso, desejoso de tudo ver, tudo saber sobre o mestre, desejoso do seu reconhecimento, patrocínio moral e protecção mágica de apoio e amor, quer aprender com ele a escrever contos, contos sobre judeus, que evitem problemas com os judeus de Newark e com o seu pai podólogo e não artista, que tenta demovê-lo de publicar um conto que tem por base uma disputa familiar antiga que, segundo ele, expõe ao ridículo membros da família e será visto apenas como mais um conto sobre os malditos judeus e o seu amor ao dinheiro.
Na noite que passa em casa do mestre e da senhora Hope Lonoff,  Zuckerman conhece Amy Bellette, uma jovem fascinante de nacionalidade indefinida, antiga pupila de Lonoff (ou amante com metade da sua idade?), com uma vida de ilusão que a consome e um passado que a marcou na alma: sabes porque é que adotei este nome tão doce? Não foi para me proteger das minhas memórias. Não foi para esconder o passado de mim nem para me esconder do passado. Foi para me esconder do ódio, de odiar as pessoas como as pessoas odeiam as aranhas e os ratos.
(Amy Bellete volta a aparecer no romance “O fantasma sai de cena”).

Escusado será dizer que pouco devo/posso desvendar sobre o casal Lonoff, sobre o conto de Zuckerman, sobre o passado de Amy. Leia, divirta-se, espante-se com a imaginação e a escrita do meu escritor preferido. (Está velhinho o «meu» Philip Roth!)
Ponto final, parágrafo.

O escritor fantasma, de Philip Roth,
Tradução de Francisco Agarez
Ed. D. Quixote, 2017
188 págs.

06 fevereiro, 2018

À terça - imagens e palavras: "solidão"


“… a solidão, a verdadeira, conscientemente assumida, não é punição, nem uma forma ressentida e doentia de isolamento, nem uma excentricidade, mas o único estado digno de um ser humano.”


Frase de  Sándor Márai, escritor húngaro (1900-89), in “A mulher certa”, ed. Dom Quixote, 2009
(Veja mais no blogue Pétalas de Sabedoria)
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02 fevereiro, 2018

"Teremos de reaprender a arte de consolar..."

 

“(…) Esta coisa a que chamamos vida requer de nós a força de não soçobrar ao crepúsculo só porque não vemos logo, ou não vemos como, de tamanha escuridão possam irromper os improváveis traços da aurora. Teremos de reaprender a arte de consolar, rompendo com esta narcisista cultura da indiferença, que tende a universalizar-se como padrão para as relações humanas (…) Teremos talvez de estabelecer uma nova relação com a palavra e o silêncio, com o que nos é familiar e desconhecido, com a exterioridade e o nosso mundo interno acreditando mais na força reparadora das coisas simples, dos gestos quotidianos, dos tráficos minúsculos que melhor espelham a nossa humanidade e que, porventura, não encaramos ainda como uma reserva de sentido. É um erro pensarmos que, afundados numa provação, deixamos de contar para os outros e um desligamento ontológico nos isola, implodindo os laços. Não vemos que o mesmo sofrimento que nos fere também nos torna mestres em relação à vida e permite-nos dizer o que é que nos dá e retira vida, o que é que a nutre, o que é que a apaga. A partilha da provação pode ser incrivelmente fecunda. (...)"

Excerto da crónica “Da nossa necessidade de consolação”, de José Tolentino Mendonça (presbítero e poeta português, n. 1965), publicada na “E”, revista do jornal Expresso de 18 Novembro 2017
Vale a pena ler na íntegra.
(Foto da net)
CONSOLAR, acalentar, confortar, animar, alegrar e, porque não, abraçar.
Depois de ler esta crónica, tive o desejo genuíno de abraçar todo o mundo. Pudesse eu, ninguém ficaria sem conhecer o calor e sabor dum ABRAÇO.
Como nem todos os desejos se tornam realidade, grito para que todos me ouçam: O ACONCHEGO DUM ABRAÇO FAZ A VIDA ACONTECER.
Abracem muito!