30 outubro, 2018

À terça - imagens e palavras: "instantes"

“Somos felizes durante os breves instantes em que fechamos os olhos.”


Frase de José Eduardo Agualusa, escritor angolano (1960), in “O vendedor de passados”, Ed. Quetzal, 2017
Foto de net.

26 outubro, 2018

"Um cavalo entra num bar" - David Grossman

Vocês fazem ideia do que é hoje manter uma alma? É um luxo, porra. Façam a conta e verão que sai mais caro do que rodas em magnésio. E estou a falar da alma mais simples, não de Shakespeare, Tchekhov ou Kafka, que aliás é material bastante bom, pelo menos é o que me dizem, eu pessoalmente não li nenhum.
"Quero que venhas ao meu espetáculo…
Mas para quê? Para que precisas de mim lá?
Quero que me observes… Que me observes bem e depois me digas.
Dizer o quê?
O que viste."
Avishi Lazar, juiz reformado (narrador-personagem deste estranho/genial romance/história de vida) e Dov Grinstein, comediante em fim de carreira, dois amigos na adolescência que a vida separou, vão reencontrar-se quarenta e três anos depois num longo espectáculo de stand-up comedy em Natania, uma pequena cidade israelita.
Sozinho no palco do bar decadente, o frágil Dov (ou Dovaleh), o cómico, o palhaço, o malabarista de palavras, o homem de meia-idade de rosto cadavérico de expressão ora doce, ora crispada, inicia o espetáculo com piadas no limite do politicamente correcto e do bom gosto, muitos palavrões, muitas anedotas, saltos desmesurados e corridas desenfreadas no palco …meus irmãos, minhas jóias, esta noite vamos festejar, vamos desbundar… 
Os espectadores aplaudem ruidosamente. Estão ali para se divertir com Dovalech que, lembram-se alguns, na infância andava sobre as mãos, de pernas para o ar, para confundir os adolescentes violentos que no bairro se riam dele.
No decorrer da performance, já com o público nas mãos, o humor irreverente, exagerado, torna-se humor triste com o comediante a desvendar dramas profundos da sua triste história de vida…vão ter de armar-se de paciência, meus irmãos, porque é uma história que, juro por Deus, ainda nunca contei num espetáculo, em nenhum e a ninguém em particular, e esta noite vai acontecer... e abordar assuntos sérios como o holocausto, a questão israelita, o conflito israelo-árabe.
A tensão aumenta. Não se ouvem risos. Incomodados, alguns espectadores abandonam a sala. Outros assobiam.
Sentado longe do palco, na penumbra, Lazar ouve o comediante tudo revelar sobre o tempo que passaram juntos num campo militar para jovens; sobre o que os uniu e o que os separou; sobre o  inferno da infância e da adolescência; sobre a estranha relação com o pai austero e com a mãe, uma sobrevivente do Holocausto.
Constrangido, percebe que o que Dov faz no palco... a transformação da matéria de vida em anedota... é um relato, também, da sua história de vida e da de muitos dos espectadores.

Um cavalo entra num bar” (prémio Man Booker International de 2017) não é um livro de leitura fácil mas não se consegue abandonar. A história de vida de Dov incomoda mas a excelência da escrita de Grossman prende-nos até ao epílogo.
Gosta de anedotas? Sim, então, aqui vai uma:
Um cavalo entra num bar e pede ao barman uma Goldstar à pressão. O cavalo emborca-a e pede um copo de whisky. Bebe-o e pede uma taça de arak. Bebe. Pede mais um shot de vodka e uma cerveja…  Como termina? Não sei!
Não sei pois é a única inconclusa de entre as muitas espalhadas na narrativa.
O que eu sei é que na penúltima página está lá, em destaque, uma frase de Fernando Pessoa. Para saber qual é leia/assista a este divertido/doloroso espectáculo de stand up.
Será que uma piada é só uma palavra?
Assim vai a vida, o homem põe e Deus lixa-o…

(Se não leu "Até ao fim da terra", extraordinário romance de David Grossman, corra a fazê-lo. Não se assuste com as primeiras 60 páginas, continue porque o deslumbramento está todo lá. Espreite AQUI o que escrevi sobre este romance, em 2012.)

Um cavalo entra num bar, de David Grossman
Tradução de Lúcia Liba Mucznik
Ed. D. Quixote, 2018
229 págs.

23 outubro, 2018

À terça - imagens e palavras: "vazio"


“Sentir solidão não é estar só, é estar vazio.”


Frase de Séneca, filósofo, escritor, mestre da retórica e estadista da Roma Antiga (-4/65)
Foto da net.

19 outubro, 2018

Viajando e aprendendo: Chile, Argentina, Patagónia

“Os olhos têm de viajar.”
Diana Veeland, francesa, ícone da moda internacional (1903-89)

Em 2004 o destino de férias foi na América Latina: Chile (Santiago do Chile, Valparaíso e Vina del Mar); Argentina (Buenos Aires) e Patagónia (El Calafate - Glaciar Perito Moreno.)
Chile, com cerca de 757.000 km2 de superfície e 15 milhões de habitantes, ocupa uma longa e estreita faixa costeira encaixada entre a cordilheira dos Andes e o oceano Pacífico. Faz fronteira a norte com o Peru, a nordeste com a Bolívia, a leste com a Argentina e a Passagem de Drake, a ponta mais meridional do país. O oceano Pacífico forma toda a fronteira oeste do país, com um litoral que se estende por 6.435 quilómetros.
Do seu território faz ainda parte a Ilha de Páscoa e a Ilha Sala y Gómez, as ilhas do leste da Polinésia, que incorporou ao seu território em 1888, e a Ilha Robinson Crusoe, a mais de 600 quilómetros do continente, no Arquipélago Juan Fernández.
O clima é variado, seco  no deserto o Atacama, no norte do país, mediterrânico no centro, e alpino propenso a neve no sul, com geleiras, fiordes e lagos.
Santiago do Chile, a capital e maior cidade chilena, tem pouco mais de 5 milhões de habitantes. Foi fundada pelo conquistador espanhol Pedro de Valdivia, em 1541, num vale designado “vale central”.
Sempre debaixo de uma irritante chuva miudinha caminhámos pelo centro histórico, conhecemos o Palácio La Moneda (sede do governo), a Plaza das Armas, a imponente Catedral Metropolitana de Santiago, o Museu Histórico Nacional.
Fomos a Valparaíso, a cidade portuária conhecida pelas casas coloridas nas colinas íngremes e claro, andámos de funicular.
Numa das colinas visitámos a casa-museu de Pablo Neruda, donde se avista o Pacífico. Lamentavelmente, ou talvez não, era proibido fotografar o interior da peculiar casa.
A Argentina é o segundo maior país da América do Sul, constituída por uma federação de 23 províncias e uma cidade autónoma, Buenos Aires. É o oitavo maior país do mundo em área territorial, o maior entre as nações de língua espanhola e o quarto maior da América (depois de Canadá, Estados Unidos e Brasil).
A área continental da Argentina situa-se entre a Cordilheira dos Andes a oeste e o Oceano Atlântico, a leste. Faz fronteira com Paraguai e Bolívia ao norte, Brasil e Uruguai a nordeste e com o Chile a oeste e sul. A sua superfície total legal é de 3 745 247 km², dos quais 2 780 400 km² correspondem ao continente americano e 964 847 km² ao continente antárctico.
O seu território divide-se em três partes distintas: as planícies férteis das Pampas no norte do país, que são o centro da riqueza agrícola da Argentina, o planalto da Patagónia ao sul até à Terra do Fogo, e a escarpada cordilheira dos Andes ao longo da fronteira ocidental com o Chile, cujo ponto mais elevado é o monte Aconcágua, com 6 960 m de altura.
Buenos Aires é a capital e maior cidade da Argentina (200 km2), com cerca de 13 milhões de habitantes. 
Uma cidade lindíssima localizada na costa ocidental do estuário do Rio da Prata, grande, plana, que convida a longas caminhadas. Foi o que fizemos, tranquilamente, depois de visitarmos, com um guia local, as zonas mais turísticas: a Plaza de Mayo (lugar de manifestações populares) e seus arredores, a Avenidade de Mayo; a Plaza del Congresso; a Casa do Gobierno, também chamada Casa Rosada, sede da presidência do governo (um imponente edifício do século XIX), o Congresso Nacional, a Catedral Metropolitana (o templo católico mais importante da cidade).
Destaco a emocionante visita guiada, com a duração de uma hora, ao majestoso Teatro Colón, cuja acústica é considerada a melhor do mundo. Vimos TUDO, desde a grande e bela sala principal à cave, onde estão localizadas as oficinas dos cenários, adereços, vestuário,  sapataria, cabeleiras, etc., etc.
Nas ruas, aqui e ali, de dia e de noite, exímios bailarinos de tango encantam os transeuntes.
Saí de lá com uma vontade enorme de aprender aquela dança sensual. Nunca o fiz!
No centro da cidade há uma enorme oferta de restaurantes, churrascarias e tascas para todos os gostos e bolsos. Comemos o tradicional assado crioulo e comprovo: a carne argentina é fabulosa!
Festejámos o meu aniversário num sítio lindo, lindo,  onde jantámos e assistimos a um belíssimo espectáculo de Tango.
Asseguro: Buenos Aires é a capital do tango e da boa carne!
Sobre compras, por todo o lado se veem lojas com uma grande variedade de produtos de couro, prata, artesanato e muito mais, com TUDO a preços acessíveis. Uma tentação! Fazer compras em Buenos Aires foi (é, certamente!) bom demais.
Sobre diversão a oferta é grande: exposições, feiras (ao fim-de-semana), teatros, museus, espectáculos de tango, intensa vida nocturna.
Acontece que a viagem tinha de continuar. A Patagónia chamava-nos e lá voámos nós para El Calafate, na Patagónia.
A Patagónia é uma região situada no extremo sul do continente americano, conhecida como Região de Magalhães e que compreende o sul da Argentina e o sul do Chile.
A região mais meridional do continente é conhecida como Terra do Fogo (Tierra del Fuego). Nessa região está localizada a cidade mais austral do planeta, Ushuaia, conhecida como "a terra do fim do mundo".
El Calafate é uma pequena cidade localizada na província de Santa Cruz, Argentina, próximo da fronteira com o Chile, com aproximadamente 5.500 habitantes, um aeroporto moderno e hotéis de qualidade e enorme conforto.
O clima é frio, com média anual de sete graus, temperaturas máximas de treze graus e mínimas de dez abaixo de zero.
Ali, o frio é "frio", mas suportável. Convida aos afectos e afagos da alma.
El Calafate é a cidade mais próxima do Parque Nacional dos Glaciares, a cerca de 80 quilómetros, onde se localiza a maior geleira em extensão horizontal do mundo: Glaciar Perito Moreno, com 5 km de largura e 60 m de altura acima da superfície da água do lago.
Devido ao seu tamanho e acessibilidade, Perito Moreno é uma das principais atracções turísticas da Patagónia argentina. Um colosso!
Três dias depois de vários e agradáveis passeios (recusei caminhar sobre o glaciar e sobrevoá-lo de avioneta) e de uma emocionante visita a uma herdade onde vi pela primeira vez ovelhas a serem tosquiadas e comi o melhor dos melhores churrascos de carne,  voltámos a Buenos Aires, e ao mesmo hotel, desta vez lotado de turistas brasileiros que "tinham fugido" de um fim-de-semana prolongado no Brasil.
Numa das longas caminhadas pela cidade fomos dar ao mítico Estádio do Boca Juniors (La Bombonera).  Desilusão! O estádio nesse dia estava encerrado.
O Carlos ficou triste mas eu... diverti-me entrando e saindo das muitas lojas de lembrancinhas foleiras,  fotografando e deixando-me fotografar no extravagante Bairro La Boca.
Esta foi mais uma viagem fantástica e inesquecível.
Gostei muito de Buenos Aires, uma cidade incrivelmente cativante.
Apesar das marcas, ainda bem visíveis em 2004 , da crise económica e política de 2001, mostrava orgulhosa toda a sua beleza e alegria.
Recomendo!

Mais fotos aqui.
(As fotos, de pouca qualidade, são digitalizações de fotos em papel. Eram outros tempos...)

16 outubro, 2018

À terça - imagens e palavras: "amanhã"


"Amanhã fico triste, Amanhã. Hoje não. Hoje fico alegre. E todos os dias, por mais amargos que sejam, Eu digo: Amanhã fico triste, Hoje não. Para hoje e todos os outros dias!"


Texto encontrado na parede de um dormitório de crianças, no campo de extermínio nazi de Auschwitz.
Foto da net.

12 outubro, 2018

Versos de José Tolentino Mendonça


MURMÚRIOS DO MAR
«Paga-me um café e conto-te
a minha vida»

o inverno avançava
nessa tarde em que te ouvi
assaltado por dores
o céu quebrava-se aos disparos
de uma criança muito assustada
que corria
o vento batia-lhe no rosto com violência
a infância inteira
disso me lembro

outra noite cortaste o sono da casa
com frio e medo
apagavas cigarros nas palmas das mãos
e os que te viam choravam
mas tu não, tu nunca choraste
por amores que se perdem

os naufrágios são belos
sentimo-nos tão vivos entre as ilhas, acreditas?
E temos saudades desse mar
que derruba primeiro no nosso corpo
tudo o que seremos depois

«pago-te um café se me contares
o teu amor»

A FALA DO ROSTO
És Tu quem nos espera
nas esquinas da cidade
e ergue lampiões de aviso
mal o dia se veste
de sombra

Teu é o nome que dizemos
se o vento nos fere de temor
e o nosso olhar oscila
pela solidão
dos abismos

Por Ti é que lançamos as sementes
e esperamos o fruto das searas
que se estendem
nas colinas

Por ti a nossa face se descobre
em alegria
e os nossos olhos parecem feitos
de risos

É verdade que recolhes nossos dias
quando é outono
mas a Tua palavra
é o fio de prata
que guia as folhas
por entre o vento
José Tolentino Mendonça, arcebispo da Igreja Católica, escritor e poeta português, é desde 1 de Setembro de 2018 Arquivista do Arquivo Secreto do Vaticano e Bibliotecário da Biblioteca Apostólica Vaticana, cargos na Cúria Romana.
É professor e foi vice-reitor da Universidade Católica Portuguesa, até à sua nomeação episcopal em 26 de Junho de 2018. Foi também director da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa.
Nasceu a 15 de Dezembro de 1965, no Machico, Madeira-Portugal.
(Fotos da net.)

09 outubro, 2018

À terça - imagens e palavras: "livro"

“Um livro é um enigma como as pirâmides do Egito. É um laboratório em combustão. Uma saída de emergência. Um clube de socorro a náufragos. Um intercomunicador entre silêncios. Um lança-chamas. Um abrigo de floresta. Um trilho mais adiante.”


Frase de José Tolentino Mendonça, teólogo e poeta português (1965-)
Foto da net.

05 outubro, 2018

"Barroco tropical" - José Eduardo Agualusa

Luanda corre a toda a velocidade em direcção ao Grande Desastre. Oito milhões de pessoas aos uivos, aos choros e às gargalhadas. Uma festa. Uma tragédia. Tudo o que pode acontecer acontece aqui. O que não pode acontecer, acontece igualmente. (...) Somos incrivelmente ricos. Produzimos metade dos diamantes vendidos no mundo. Temos ouro, cobre, minerais raros, florestas por explorar e água que não acaba mais. Morremos de fome, de malária, de cólera, de diarreia, de doença do sono, de vírus vindos do futuro, uns, e outros de um passado sem nome.
Em “Barroco tropical” (2009) José Eduardo Agualusa tece um retrato sarcástico da sociedade angolana, de Luanda em particular, no ano 2020.
A história/testemunho começa com uma mulher nua, negra, de braços abertos a cair do céu de Luanda, durante uma tempestade tropical. As únicas testemunhas do insólito facto são Bartolomeu Falcato (escritor e cineasta), e a sua amante Kianda (cantora com uma carreira internacional de sucesso), os narradores-protagonistas de uma sinuosa trama.
Bartolomeu aproxima-se do corpo enterrado na lama e reconhece Núbia, a modelo, jornalista, ex-Miss Angola, amiga da mulher do Presidente, acompanhante de políticos influentes e empresários endinheirados, com quem viajou de Lisboa para Luanda, cinco dias antes. Assustado, abandona o local com a amante, sem chamar a polícia. Não podiam ser vistos juntos.
À noite, em casa, no quadragésimo sétimo andar da Termiteira -  edifício construído na época da euforia do petróleo, destinado em particular à burguesia emergente e onde agora ricos e pobres partilham o mesmo espaço, como acontece lá fora, nas ruas da cidade, com a diferença de que aqui vivemos literalmente uns por cima dos outros - quanto mais ricos mas acima - Bartolomeu assiste na televisão à descoberta do cadáver e logo depois um homem sussurra-lhe ao telefone: - Fuja, se está em casa saia agora. Vão matá-lo. 
Assustado, recorda afirmações que Núbia fizera e que a serem verdadeiras justificaria que a tivessem atirado de um avião ou de um helicóptero. Ela sabia demais e foi certamente isso que a matou. Decide investigar e cruza-se com singulares e contraditórias testemunhas/personagens: Sangue Frio; Humberto Chiteculo; Benigno dos Santos (sogro de Bartolomeu); Bárbara Dulce (psicóloga, ex-mulher de Bartolomeu); Mouche Shaba (artista plástica); Rato Mickey (ex-António Taborda, sapador de rosto desfigurado); Mãe Mocinha (brasileira que procurou em Luanda um marido bonito e muito preto); Tata Ambroise (curandeiro), etc., etc., e com o Medo, a testemunha principal. Escrevo Medo assim, com maiúsculas, porque não estou a falar dos assuntos minúsculos com que as pessoas comuns convivem no dia-a-dia (...) estou a referir-me, em concreto, ao sentimento de permanente angústia e desamparo que aflige as pessoas com opiniões diferentes em países sujeitos a regimes totalitários.
O que descobre Bartolomeu? Sobrevive? Se tudo conta, mesmo com medo, é porque não morreu!
E o que é feito de Kianda a cantora de sucesso? Voa de palco em palco até ao voo final. Trágico!

Dos romances que já li de José Eduardo Agualusa este é o mais estranho e complexo. Não me desiludiu, mas lê-lo não foi tarefa fácil, devido aos saltos espaciais (África, Europa, América), aos muitos avanços e recuos temporais, à alternância de dois narradores, às dezenas de personagens de pequenas histórias, nem todas fundamentais para a narrativa principal.
Cheguei ao fim dos 25 capítulos aturdida mas, há que dizê-lo, fascinada pela beleza da escrita de JEA e mais conhecedora das forças e fraquezas dos seres humanos.
Um dia alguém pintou uma frase na parede do Aeroporto Internacional de Luanda: «Bem-vindo à Lua. Entre e deixe a razão lá fora.»

"Barroco tropical", de José Eduardo Agualusa
Ed. Quetzal, 2018
372 págs.

03 outubro, 2018

Para uma amiga especial...

O POEMA
O poema não é o canto
que do grilo para a rosa cresce.
O poema é o grilo
é a rosa
e é aquilo que cresce.

É o pensamento que exclui
uma determinação
na fonte donde ele flui
e naquilo que descreve.
O poema é o que no homem
para lá do homem se atreve.

Os acontecimentos são pedras
e a poesia transcendê-las
na já longínqua noção
de descrevê-las.

E essa própria noção é só
uma saudade que se desvanece
na poesia. Pura intenção
de cantar o que não conhece.


FELIZ ANIVERSÁRIO, QUERIDA AMIGA!
Porque amas poesia escolhi para ti versos da poetisa portuguesa Natália Correia.
E porque também amas flores, colhi estas para ti no jardim de um outro amigo, o António Gomes.
Beijo.

02 outubro, 2018

À terça - imagens e palavras: "mentira"



“O tempo das verdades plurais acabou. Vivemos no tempo da mentira universal. Nunca se mentiu tanto. Vivemos na mentira, todos os dias.”


Frase de José Saramago, escritor português (1922-2010)
Prémio Nobel de Literatura, 1998
Foto da net.