31 dezembro, 2016

A todos... um EXCELENTE 2017!


“… faz a ti próprio a seguinte pergunta: «Que faria eu hoje, se este fosse o último dia da minha vida?» O truque é ir mesmo ao fundo da questão. Elabora uma lista mental de todas as coisas que farias, das pessoas a quem telefonarias e dos momentos que te dariam prazer. Imagina-te a fazer estas coisas com grande energia. Visualiza como é que tratarias a tua família e os teus amigos. Imagina inclusivamente como tratarias perfeitos desconhecidos, se hoje fosse o teu último dia à face da terra.
... quando vives cada dia como se fosse o último, a tua vida ganha proporções mágicas. Começa a viver cada dia como se fosse o último. A começar já hoje, aprende mais, ri mais e faz o que realmente gostas de fazer. 

Ler durante trinta minutos por dia fará maravilhas por ti. (…)Não leias à toa. Deves ser muito selectivo quanto ao que cultivas no jardim fértil da tua mente.(...) para tirares o máximo partido de um grande livro, tens de estudá-lo e não apenas lê-lo.

Rir é o melhor remédio para a alma. Mesmo que não tenhas vontade, vê-te ao espelho e ri-te durante uns minutinhos. Vais ver que te sentes fantástico. Portanto, começa o teu dia de uma maneira deliciosa. Ri-te…"

FELIZ ANO NOVO
Leiam e riam.
Muito!

Tirei daqui: “O monge que vendeu o seu Ferrari”, de Robin S. Sharma, Ed. Pergaminho, 2004
Foto da net.

23 dezembro, 2016

A todos... um BOM NATAL!


CHOVE. É DIA DE NATAL

Chove. É dia de Natal
Lá para o Norte é melhor:
Há neve que faz mal.
E o frio que ainda é pior.

E toda a gente é contente
Porque é dia de o ficar.
Chove no Natal presente.
Antes isso que nevar.

Pois apesar de ser esse
O Natal da convenção,
Quando o corpo me arrefece
Tenho o frio e Natal não.

Deixo sentir a quem quadra
E o Natal a quem o fez,
Pois se escrevo ainda outra quadra
Fico gelado dos pés.

Poema de Fernando Pessoa, Portugal (1888-1935)
Pintura de Carlos Reis, Portugal (1037-)

21 dezembro, 2016

Peçam ao Pai Natal...


Um único deslize e a nova vida de um homem vai por água abaixo!
Acabei de ler o primeiro capítulo de “Quando ela era boa”, o romance de Philip Roth este ano publicado em Portugal.
Pouco sei sobre o que se segue mas o que já li… dá para aconselhar que o peçam ao Pai Natal.
A sinopse diz que a figura central da história – um drama familiar, na América provinciana dos primeiros anos do século XX) - é Lucy Nelson, uma jovem boa, sensível, moralista, independente que, depois de ver o pai falhado e alcoólico ir para a prisão, tenta regenerar os homens que a rodeiam, mesmo que isso signifique a sua própria destruição.
Ora bem, Lucy não aparece nas páginas que eu li. Nessas páginas a figura central é o seu avô materno: Willard Carroll, um homem bom, cuja história de vida me prendeu logo no primeiro parágrafo:
“NÃO SER rico, não ser famoso, não ser poderoso, nem sequer ser feliz, mas ser civilizado – era esse o sonho da sua vida (...) O que não queria sabia de certeza: viver como um selvagem. Tinha um pai que era um homem feroz e ignorante – caçador furtivo, mais tarde lenhador e, para o fim a vida, guarda nas minas de ferro. A mãe era uma mulher trabalhadeira com mentalidade de escrava por cuja cabeça nunca passava querer ter mais do que aquilo que tinha. (...) Com dezoito anos decidira ir ao encontro do mundo…”
O que se segue é intenso, comovente, arrebatador. Poucas, mas mesmo poucas vezes, eu me emocionei tanto com uma história de vida. E, recordo, li apenas um capítulo.
Se a vida de  Willard Carroll é inesquecível, como será a da neta Lucy?  
Se ela sair ao avô...

Lá para Janeiro voltarei a escrever sobre este romance. Para já, posso “bradar aos céus”: as primeiras 57 páginas deste Philip Roth de 1966 são fascinantes!
Peçam ao Pai Natal...

20 dezembro, 2016

Uma fé... uma missão...


“Para viver, todos têm de ter uma fé. Para viver, todos têm de ter uma missão. Não interessa se é humilde ou elevada, se é heróica ou quotidiana. Ter uma fé e uma missão significa estar inseridos no rio da vida, sentir-se parte dela, com um sentido, uma meta. Significa sentir que se tem uma tarefa útil ao mundo. Seguir a sua própria missão é como percorrer um caminho já traçado. Perdê-lo é como extraviar-se nos campos, pelos precipícios, sem orientação.

No entanto, de vez em quando, afastamo-nos dele. Temos períodos de extravio, de confusão. Perguntamos a nós mesmos o que estamos a fazer no mundo e somos tentados a deixarmo-nos levar pelo desespero. Mas devemos resistir para reencontrarmos o nosso caminho, para o reconhecermos. Devemos ter força de esperar que do escuro surja uma luz, uma esperança. E esta, mais cedo ou mais tarde, chega. Pode ser um encontro inesperado, uma nova oportunidade, alguém que nos pede ajuda. Às vezes é só uma mudança de humor, outras vezes é um sonho. De novo vislumbramos um significado, uma direcção. É como se se acendesse uma pequena chamazinha que o vento pode apagar de repente. Cabe-nos a nós protegê-la.”

Tirei daqui: “Tenham coragem”, de Francesco Alberoni, Bertrand Ed., 1999
Foto da net .

16 dezembro, 2016

"Jóia de família" - Agustina Bessa-Luís

Uma vida de família é uma cidadania em miniatura. Há leis que se aprovam, outras de que se desiste; há festas de presentes e de antepassados; há comemorações, experiências desordenadas, vícios calmos que duram uma vida, violências caladas ou manifestas, classes que se batem entre si, promoções de culturas, ruínas da alma, desejos que só a morte há-de saldar, cobiças que nem a herança resolve, culpas que decidem de mudanças.
Jóia de família” é um bom retrato da sociedade portuguesa dos anos 90. Sociedade que funciona com máscaras ideológicas, ou sexuais, ou psicóticas.
A trama - uma teia de incertezas bem urdida - aborda as mudanças nas relações familiares, o comportamento da burguesia campesina, a delinquência, o crime, a sexualidade, a infidelidade, a droga e a prostituição.
Os personagens, como na maioria dos personagens de Agustina, são bem construídos e convincentes.
António Clara, o protagonista, com dez dias de vida passa de pé descalço a herdeiro de uma fortuna grandiosa. A mãe, Celsa Adelaide, a criada feita parteira, torna-o terceiro filho de Rutinha Albergaria, quando esta desmaiada de cansaço não percebe que deu à luz um menino morto, roxo como um cravo roxo. Celsa, não hesita, esconde o nado morto e deita o seu próprio menino no berço de cambraia. Ninguém nunca suspeitará.
António “nasce” em Salto da Senhora, durante uma visita de Rutinha ao tio Simeão Albergaria, o tio rico que tinha no testamento uma cláusula que tornava seu único herdeiro o neto que nascesse em sua casa. Teria Rutinha conhecimento dessa cláusula? O velho Simeão desconfia mas…vinte anos depois, o filho da criada é um homem rico.
António é criado por governantas. Não se dá bem com os dois irmãos. Os pais estão permanentemente ausentes. Uma escoliose obriga-o a coxear ligeiramente, a abandonar os estudos, a afastar-se do trabalho. Passa a viver suspenso daquela herança como uma aranha do fio da teia.
Aos vinte e cinco anos enamora-se de Vanessa, uma bela mulher de quarenta e dois anos, no alterne desde os treze. Uma mulher ambiciosa, hostil ao mundo e fiel às paixões.
Indignada, Celsa Adelaide procura uma mulher "decente" para o filho. Encontra Camila, uma rapariga simples, acanhada, que nada exige, filha de burgueses remediados, que viam nela a salvação da decadência. Ela era a jóia da família.
O casamento com Camila  não afasta António da amante que, como amiga, passa a frequentar a casa da família. O dinheiro não faz gente.
Como vai Camila lidar com a infidelidade e a indiferença do marido, com o ciúme, com a presença constante de Vanessa?
Hum!
O perspicaz e mordaz narrador do romance diz que há vários casos de loucura na família de Camila.
Eu, já disse tudo... e tudo ficou por dizer.

Mais um romance de Agustina, mais um prémio, mais uma adaptação do cinema. “Jóia de família”, primeiro volume da trilogia O princípio da incerteza, foi distinguido em 2001 com o Grande Prémio de Romance e da Novela da APE, e adaptado ao cinema por Manoel de Oliveira.

Jóia de família, de Agustina Bessa-Luís
Guimarães Editora, 201
345 págs.

13 dezembro, 2016

"Estar" ou "Tar" – são ambos verbos? Não!


ESTAR, sim, é um verbo irregular.
TAR não existe.

Para exemplo, conjugo o verbo ESTAR no presente do indicativo:
Eu estou
Tu estás
Ele/Ela está
Nós estamos
Vós estais
Eles/Elas estão

Então, por que razão os argumentistas de ficção portuguesa usam e abusam do (não verbo) TAR?
-Tou à espera da Maria.
- Tu tás cada vez mais impertinente.
- O João ao telefone.
- Tamos na escola.
- Eles tão a chegar.

O que é isto?
Há quem considere “isto" aceitável em linguagem oral, mas para mim são aberrações. 
Aberrações cada vez mais utilizadas nas telenovelas produzidas e transmitidas em Portugal, que agridem os ouvidos e a alma dos verdadeiros portugueses. Uma vergonha!

Ponham os nossos actores a falar o português de PORTUGAL.
O verbo “Tar” não é ensinado nas escolas. Não existe.

09 dezembro, 2016

"Numa casca de noz" - Ian McEwan

“E PARA AQUI ESTOU EU, de pernas para o ar dentro de uma mulher. Com os braços pacientemente cruzados, à espera, à espera e a perguntar-me dentro de quem estou, para que estou aqui. (…) Dia e noite com a orelha comprimida contra as paredes ensanguentadas, não me resta alternativa. Escuto, tomo notas mentalmente e inquieto-me. (…) Considero-me um inocente, mas, ao que parece, faço parte de uma conspiração. Parece que a minha mãe, abençoado seja o seu coração a patinhar incessante e ruidosamente, é cúmplice.
Parece, mãe? Não, És. Tu és. És envolvida. Sei isso desde os meus primórdios.”
É assim, sem meias palavras, que um feto prestes a nascer partilha com o leitor TUDO o que ouve (e sente) mergulhado no líquido amniótico na barriga da mãe. Um feto entendido em vinhos franceses (que a mãe ingere em abundância), conhecedor do estado do mundo (pelas conferências em podcast que a mãe ouve regularmente), erudito em literatura (o som dos audiolivros chega-lhe através dos auriculares da mãe), cúmplice involuntário de uma conspiração (a mãe, de conluio com o amante, planeia envenenar o seu pai).
O feto-narrador é filho de pais separados.
O pai, que se chama John, é um gigante de um metro e noventa e dois, braços vigorosos e peludos, excesso de peso, com um problema de pele, psoríase. É um poeta não reconhecido, proprietário duma editora falida, apesar de ter dado à estampa um laureado com o Nobel.
A mãe, que se chama Trudy, e que ele conhece melhor pelo lado de dentro, é uma bela loira de olhos verdes, nervosa, egoísta, desonesta, cruel… esperem lá, eu amo-a, ela é a minha divindade e preciso dela. Retiro o que disse!
Foi o pai que saiu da mansão que herdou, o lar da sua infância, por acreditar ser sensato conceder a Trudy o tempo e espaço que ela lhe disse precisar. Espaço! Ela devia vir para aqui, onde nos últimos tempos mal consigo dobrar um dedo. Pai que continua a escrever poemas em louvor da mulher amada, que visita com regularidade na expectativa de que um dia ela lhe diga para volta. Mulher que o despreza e rapidamente conduz à porta, com a desculpa de que precisa de descansar.
Porta fechada para ao pai; porta aberta ao amante.
O amante, que se chama Claude, é um promotor imobiliário, estúpido e ambicioso, que só sabe falar de roupa e de carros, que abusa de vinho, de comida e de sexo.
Nem toda a gente sabe o que é ter o pénis do rival do nosso pai a centímetros do nariz. Nesta última fase, deviam pensar em mim e conter-se. Se não em nome do parecer clínico, pelo menos por cortesia. Fecho os olhos, cerro as gengivas, apoio-me às paredes uterinas. Esta turbulência arrancaria as asas a um Boeing. A minha mãe aguilhoa o amante, chicoteia-o com os seus gritos de feira. É o Poço da Morte!
Pois bem, é esse parolo de cérebro embotado que por cobiça (a mansão talvez valha oito milhões de libras), engendra um esquema para envenenar o homem que é seu irmão, marido de Trudy, pai do feto-narrador. O que é isto?
O feto esclarece: a minha mãe deu preferência ao irmão do meu pai, enganou o marido, destruiu o filho. O meu tio roubou a mulher do irmão, ludibriou o pai do sobrinho, insultou o filho da cunhada.
Se pensam que divulguei muito da trama, enganam-se. Não passei da página 37. Acreditem que o que se segue é surpreendente e “salva “o romance: crime; investigação policial; vingança do feto. Está na altura de intervir. De acabar o que tem de ser acabado. Está na altura de começar.

Numa casca de noz, não é um grande romance mas a escolha do narrador - um nascituro sem nome que disserta sobre o estado do mundo - é surpreendente. Tenho as minhas fontes, escuto.
Gostei!

Numa casca de noz, de Ian McEwan
Tradução de Ana Falcão Bastos
Ed. Gradiva, 2016
180 págs.

06 dezembro, 2016

21º - Excertos do "Livro do desassossego", de Fernando Pessoa


235-(cerca de 4-4-1930)
“Por mais que pertença, por alma, à linhagem dos românticos, não encontro repouso senão na leitura dos clássicos. A sua mesma estreiteza, através da qual a sua clareza se exprime, me conforta não sei de quê. Colho neles uma impressão álacre de vida larga, que contempla amplos espaços sem os percorrer.”

Leio como quem passa. E é nos clássicos, nos calmos, nos que, se sofrem, o não dizem, que me sinto sagrado transeunte, ungido peregrino, contemplador sem razão do mundo sem propósito.”

239-(10-4-1930)
"Cada um tem a sua vaidade, e a vaidade de cada um é o seu esquecimento de que há outros com alma igual. A minha vaidade são algumas páginas, uns trechos, certas dúvidas.”

Leia (tudo) e… deslumbre-se!


01 dezembro, 2016

6º aniversário do "rol de leituras"


“Associa-te às pessoas mais nobres que puderes encontrar; lê os melhores livros; convive com os poderosos; mas aprende em solidão a ser feliz.”
Saul Bellow, escritor americano (1915-2005), in “Ravelstein”, Ed. Teorema, 2001

Mais um ano, que passou num ápice, e eis que o meu "rol de leituras" celebra o seu 6º aniversário.
Este não foi um ano fácil. Foi, aliás, bastante complicado. Pensei em desistir do meu rol, mil vezes.
2016 foi um ano difícil, com problemas relacionados com a saúde de familiares a deixarem-me angustiada, sem tranquilidade nem motivação para a leitura.
Hoje, no exacto dia do 6º aniversário do “rol de leituras”, ainda não sei o que fazer: continuar, ou ficar por aqui?
Os livros que acabaram empilhados sem serem lidos, com o último romance de Philip Roth a “olhar para mim”, instigam-me a continuar. Vou ter que decidir.
Hoje, não! Hoje vou festejar, começando a ler: “Numa casca de noz”, de Ian McEwan, depois, “salto” para Philip Roth, depois…

Obrigada a todos os que passaram por aqui.
Obrigada pela motivação e pela força.
Obrigada do coração.
Por favor leiam.
Abraço.