30 janeiro, 2019

SAUDADE ETERNA - feliz 90º aniversário, minha mãe!


AUSÊNCIA
Num deserto sem água
Numa noite sem lua
Num país sem nome
Ou numa terra nua

Por mais que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda do que a tua.


"Amamos as nossas mães quase sem o saber e só nos damos conta da profundidade das raízes desse amor no  momento da derradeira separação."


Poema de Sophia de Mello Breyner Andresen, poetisa portuguesa  (1918-2004)
Frase de Guy de Maupassant, escritor francês (1850-93)
Flores, do jardim da minha mãe (1919-2017)
Coração, da net.

29 janeiro, 2019

À terça - imagens e palavras: "mel"






“Achaste mel? Come só o que te for suficiente…”


David Grossman, escritor israelita (1954-), in “Até ao fim da terra”, Ed. Dom Quixote, 2012

Leia mais sobre este admirável romance aqui.
(Foto da net.)

25 janeiro, 2019

Viajando e aprendendo: Seychelles e África do Sul

"A viagem é melhor que o fim."
Miguel de Cervantes, escritor espanhol (1547-1616)

Em 1995 celebrámos o Natal nas Seychelles e a Passagem de Ano na África do Sul.
O Carlos estava no norte de Moçambique em serviço, eu fui ter com ele a Maputo e dali voámos para Mahé, via Johannesburg. 
Mahé é a maior (28 km comprimeto/8 km largura) e mais habitada das 115 ilhas do arquipélago das Seychelles – independente do Reino Unido desde 1976 - um paraíso localizado no Oceano Índico Ocidental, visitado por turistas de todo o mundo.
Com  baías cristalinas, praias de areia branca, águas azul-turquesa, hotéis luxuosos ou modestos, vegetação verde e luxuriante (chuvisca todos os dias) e uma temperatura amena e constante, é o destino exótico ideal para quem gosta de banhos de mar em praias quase desertas, fazer mergulho, admirar a natureza, comer peixe fresquíssimo, conviver e descansar.
Ali não se vivem noites ruidosas. Ali a natureza impõe silêncio.
Ficámos alojados num pequeno hotel familiar localizado sobre a areia de uma  praia encantadora. E foi quase em família que celebrámos o Natal.
Na primeira ida à praia, a nossa máquina fotográfica resolveu “experimentar”a água salgada e de imediato deixou de funcionar.
Eu entrei literalmente em pânico. Como iria fazer o registo fotográfico da viagem?
No jipe que alugámos (a melhor forma de nos movimentarmos na ilha e acedermos às praias, centro histórico e outros pontos turísticos) fomos à procura de uma nova máquina.
Em Victoria, a capital com cerca de 23 mil habitantes, comprámos a única que havia à venda: uma descartável da Kodak. Com ela fiz o mini registo fotográfico da estada nas Seychelles. Tudo o que não consegui registar em fotografias - lugares, cheiros, cores - tive de guardar na memória . Como, por exemplo, a visita ao peculiar Victoria Market ou a ida de barco à paradisíaca Ilha Moyenne.
E chegou o dia do adeus e lá voámos nós para Johannesburg, a maior cidade da África do Sul, e seguimos depois de automóvel para Sun City.
Sun City é um luxuoso, extravagante e impressionante complexo de entretenimento, situado a cerca de 200 quilómetros de Johannesburg.
Ali encontrámos hotéis, um casino gigantesco com centenas e centenas de máquinas (pode entrar-se em fato de banho), lagos, uma praia artificial com ondas que atingem 1,9 metros de altura, campos de golfe, cinemas, espectáculos de luz e som com esculturas de animais selvagens em tamanho real, restaurantes, bares, etc., etc., etc.
É, acreditem, maravilhoso!
Depois do animado final de ano, voltámos a Johannesburg e de lá voámos para o Kruger National Park.
O Kruger Park, criado em 1898 pelo presidente Paul Kruger, é um dos dez parques naturais mais importantes do mundo.
Tem cerca de 350 km de comprimento e 60 de largura e hospeda mais de quinhentas espécies de aves, 112 de répteis e 150 de mamíferos, bem representados por uma população de leões, leopardos, búfalos, elefantes e rinocerontes.
Por curiosidade diga-se que cerca de 20km2 do parque fazem fronteira com Moçambique.
Dentro do parque há mais de vinte acampamentos, equipados com restaurantes, piscinas e bungalows.
Nós ficámos 4 dias no acampamento de Skukuza, alojados num confortável bungalow cuja porta não tinha sequer fechadura. Quando me dei conta engoli uma, duas, três vezes em seco...  mas tudo correu bem!
Pela manhã, bem cedinho, saíamos do acampamento com o guia, um sul-africano simpático e competente, e mais três turistas – uma alemã e duas italianas - à procura de animais do parque. Andávamos naquela busca todo o dia (parávamos apenas para almoçar e sempre em acampamentos diferentes) e íamos anotando num folheto próprio os animais que avistávamos. 
Ao jantar,  no restaurante do acampamento ou ao ar livre (em jantares de grupo à volta da fogueira) trocávamos opiniões sobre o que víamos durante o dia.
O animal mais difícil de localizar foi o leão. Foi no último dia que encontrámos uma família de leões. Bem longe da estrada, escondidos pela vegetação, o retrato da família foi difícil de captar. Recordo o regozijo do guia, a avisar os seus colegas-guias da localização dos animais.
Vimos elefantes. Enormes, marcavam o seu território com assustadores urros.
Vimos leões, zebras, girafas, búfalos, veados, etc., etc., etc.
Macacos, vimos muitos. Atrevidos, aproximavam-se da viatura à espera de comida.
Foi um Dezembro inesquecível!

Muito tempo já passou e tudo nestes dois destinos turísticos está certamente bem diferente.
As fotos não têm grande qualidade. Só no regresso do Kruger Park comprámos uma nova máquina fotográfica num enorme Shopping Center, próximo do aeroporto.
Lamentavelmente, não conheci Johannesburg, a maior cidade da África do Sul. Uma sensação de insegurança obrigou-nos percorrer de taxi o centro da cidade, e a degradação e sujeira que por lá vi inibiu-me de o fotografar.
À Africa do Sul espero voltar. Às Seychelles, hum!, já estive em lugares paradisíacos que me seduziram muito mais.
O fim desta viagem foi tristinho. De Johannesburg o Carlos voou para Maputo. Eu voei, várias horas depois dele, directamente para Lisboa. Confesso,  no avião derramei uma lagrimita.
(Semanas depois, recebi em casa esta foto 
enviada por uma das turistas italianas do grupo de Skukuza. Amei!)

(Mais fotos aqui e aqui.)

22 janeiro, 2019

À terça - imagens e palavras: "gelo"

“Despedimo-nos das pessoas com uma graçola pateta, rimo-nos no patamar da escada, no elevador o gelo instala-se de imediato. 
Devia um dia estudar-se este silêncio noturno, típico das viagens de carro nos regressos a casa, após se ter exibido a felicidade à frente do público, um misto de arregimentação e de mentira autoinfligida.”


Yasmina Reza, escritora francesa (1959-), in “Felizes os felizes”, Ed. Quetzal, 2014

Leia mais sobre este encantador romance aqui
(Foto da net.)

18 janeiro, 2019

"Cinco Esquinas" - Mario Vargas Llosa

Suponho que o senhor saiba isso de sobra: somos um país de mexeriqueiros. Queremos conhecer os segredos das pessoas e, de preferência, os da cama. Por outras palavras, e perdão pela grosseria, quem se enrola com quem e de que maneiras o fazem. Meter o nariz na intimidade das pessoas conhecidas. Dos poderosos, dos famosos, dos importantes. Políticos, empresários, desportistas, cantores, etc. E, se há alguém que sabe fazer isso, digo-lhe com toda a modéstia do mundo, sou eu.
Publicado em 2016, “Cinco Esquinas” é um misto de romance, sátira e crítica social. Um retrato do Peru nos anos do governo corrupto do presidente Alberto Fujimori; do terror da polícia política; dos atentados e sequestros do Sendero Luminoso e do Movimento Revolucionário; do compadrio e sensacionalismo jornalístico.
(Afirmam alguns críticos que é o ajuste de contas de Mário Vargas Llosa, derrotado por Fujimori na corrida eleitoral à Presidência do Peru, em 1990.)
Para compor o retrato crítico do país MVL divide a acção por dois cenários e cria um leque de personagens burlescas, desprezíveis, trágicas: o mundo (im)perfeito de dois casais da burguesia peruana, Marisa e Enrique, Chabela e Luciano, (Marisa e Chabela vivem uma tórrida e secreta (?) história de amor); o Destapes, pasquim calunioso dirigido pelo odiado  Rolando Garro, assim descrito por Enrique (a sua última vítima de chantagem): andar tarzanesco, esbracejando e rebolando-se...sorrisinho ratoneiro... cabelos lambidos... vozinha estridente, olhos pequeninos e movediços, corpinho raquítico...
A estas personagens juntam-se muitas outras mas duas há que merecem destaque, Retaquita (inesquecível) a jornalista do pasquim, que professava por Rolando uma devoção canina e “Doutor”, o secreto chefe dos serviços secretos e, segundo rumores, mecenas do pasquim.
Leia agora a sinopse:
“À conversa, sem os maridos, e desatentas à hora do recolher obrigatório, Chabela e Marisa terão de pernoitar juntas. O que aconteceu na cama passará a ser um saboroso segredo. Chabela é mulher de um advogado de renome; Marisa, de uma das figuras cimeiras da exploração de minas. O mundo perfeito em que vivem – não fora a constante ameaça dos guerrilheiros e sequestros – será fortemente abalado por um escândalo. Após uma tentativa de chantagem por parte de Rolando Garro, director do pasquim Destapes, a participação do engenheiro Enrique Cárdenas numa orgia será tornada pública em todos os seus detalhes mais sórdidos. Segue-se um assassino brutal. Mas a relação de tudo isto com o poder político, nomeadamente com o homem que na sombra governa de forma corrupta o país, o Doutor, braço direito do Presidente, será revelada: curiosamente pela coragem e fibra da redatora principal do referido tabloide; conhecida por Retaquita.”

Se pensa que ficou a saber tudo sobre este romance/comédia burlesca/crítica social, não ficou, não!
Compre, leia, deixe-se surpreender pelo original “happy end”, e ria, ria, pois é pura diversão!
Há verdades que doem, que preferíamos que fossem mentiras...
Li de um fôlego só!

Cinco Esquinas, de Mario Vargas Llosa
Tradução de Cristina Rodrigues e de Artur Guerra
Quetzal Editores, 2016
316 págs.

15 janeiro, 2019

À terça - imagens e palavras: "queda"



“A vida é uma longa queda… o importante 
é saber cair.”


Frase de Joël Dicker, escritor suíço (1985-), in “A verdade sobre o caso Harry Quebert”, Ed. Alfaguara, 2013

Leia  mais sobre este labiríntico romance aqui.
(Foto da net.)

11 janeiro, 2019

"O que penso eu do mundo?" - Fernando Pessoa



O que penso eu do mundo?
Sei lá o que penso do mundo!
Se eu adoecesse pensaria nisso.
Que ideia tenho eu das coisas?
Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos?
Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma
E sobre a criação do Mundo?
Não sei. Para mim pensar nisso é fechar os olhos
E não pensar. É correr as cortinas
Da minha janela (mas ela não tem cortinas).
O mistério das coisas? Sei lá o que é mistério!
O único mistério é haver quem pense no mistério.
Quem está ao sol e fecha os olhos
Começa a não saber o que é o sol
E a pensar muitas coisas cheias de calor.
Mas abre os olhos e vê o sol,
E já não pode pensar em nada,
Porque a luz do sol vale mais que os pensamentos
De todos os filósofos e de todos os poetas.
A luz do sol não sabe o que faz
E por isso não erra e é comum e boa.

Versos de Alberto Caeiro, heterónimo de Fernando Pessoa (1883-1935)

Sabia que (7):
1914 - Colecciona e traduz para um editor inglês 300 provérbios portugueses.(...)
Oito de Março: «dia triunfal» da sua vida; surge Alberto Caeiro e escreve os poemas do Guardador de Rebanhos. (...)
É também deste período o aparecimento de Álvaro de Campos.
É de Junho a primeira poesia de Ricardo Reis.
No Outono deste ano começam as reuniões do grupo de que sairá «Orpheu».(...)
Em Novembro Fernando Pessoa atravessa uma profunda crise depressiva e escreve «quebrados e desconexos pedaços» do Livro do Desassossego. (...)
1915 - Primeira versão de Antinous.
Sai em Março o primeiro número de «Orpheu», acolhido com irritação e troça pela crítica e pelo público, que traz entre outras coisas O Marinheiro de Pessoa, Opiário e Ode Triunfal de Campos.
Colabora esporadicamente no quotidiano «O Jornal» de Boavida Portugal, na rubrica Crónicas da Vida que Passa. A colaboração é interrompida depois de um artigo de tom paradoxal que é mal recebido pela redacção.
Traduz para a Livraria Clássica o Compêndio de Teosofia de C. W. Leadbeater."
("Fernando Pessoa, uma fotobiografia", de Maria José de Lancastre).

Não sabia? Eu também não!
O que importa é que agora sabemos.
Prometo partilhar mais informações sobre a vida do poeta do desassossego.
(Foto da net)

08 janeiro, 2019

À terça - imagens e palavras: "dinheiro"


“Se pensam que é difícil falar sobre dinheiro quando se está totalmente apaixonado, experimentem falar sobre ele mais tarde, quando estiverem desiludidos, zangados e o amor tiver morrido”.


Frase de Elizabeth Gilbert, escritora norte-americana (1969-) in “Comprometida", Ed. Bertrand, 2010
(Foto da net.)

04 janeiro, 2019

"À espera no centeio" - J.D. Salinger

- A vida é um jogo, meu rapaz. A vida é um jogo que se joga segundo as regras.
- Pois é, senhor professor. Eu sei que é. Eu sei.
(Um jogo, uma ova. Raio de jogo…)
À espera no centeio” (The Catcher in the Rye, 1951) - marco incontornável da literatura mundial, incluído na lista dos 100 melhores livros de língua inglesa do século XX, uma das obras mais controversas da história da literatura norte-americana após II Guerra Mundial - é um romance doce, emocionante, despudorado e bem humorado que aborda temas como a adolescência, a sexualidade, a amizade, o amor, e outros mais, na América dos anos 50.
Tem por protagonista  Holden Caulfield, 16 anos, segundo de três filhos de um casal  nova-iorquino abastado, jovem rebelde, inconformista, sensível, inteligente, que desvenda (alguns) factos da sua curta vida numa linguagem desassombrada, espontânea, repleta de calão e palavrões …não lhes vou contar a merda da minha autobiografia toda nem nada que se pareça. Vou-lhes contar só aquela história de loucos que me aconteceu o ano passado por volta do Natal antes de me ter ido completamente abaixo e de ter vindo parar aqui para me pôr em forma.
A "história de loucos” tem lugar em Dezembro de 1949 e começa com a expulsão de Holden do colégio que frequenta em Agerstown, Pensilvânia, não por mau comportamento mas por falta de empenhamento escolar.
É sábado. Holden só pode deixar o colégio na quarta-feira seguinte (dia da saída dos alunos para as férias de Natal) e sabe que a comunicação da expulsão aos seus pais seguirá por correio na segunda-feira.  Então, na calada da noite, num repente, foge do colégio, caminha até à estação, apanha o comboio para Nova Iorque, mas... não vai para casa, decide ficar num hotel até quarta-feira dia que,  pensa ele, os pais já terão recebido a carta do colégio... "não me apetecia ir para casa antes de eles a terem recebido e de a terem digerido bem digerida e assim. Além disso, estava a precisar de umas pequenas férias. Tinha os nervos em franja. A sério."
A "história de loucos" são três dias de deambulação solitária de Holden pelas ruas da cidade, procura de antigas namoradas e amigos, muitas bebedeiras, muita crítica social, reflexão sobre a sua vida,  o futuro, o que o rodeia e que considera desprovido de sentido e esperança, sobre a ligação com os pais frios e distantes, com o irmão mais velho ausente, com a irmãzinha Phoebe, a sua heroína, a única pessoa com quem comunica pacificamente.
Se calhar podia dizer-lhes que a seguir fui para casa e contar-lhes como fiquei doente e tudo, e para que escola devo ir no outono,  depois de sair daqui, mas não me apetece... um tipo psicanalista que eles têm aqui... está sempre a perguntar-me se me vou aplicar quando voltar para a escola em setembro. É uma pergunta bastante estúpida, acho eu. Quer dizer, como sabemos o que vamos fazer até o fazermos? A resposta é que não sabemos. Eu penso que vou, mas como hei-de saber? Palavra que é uma pergunta estúpida.

"À espera no centeio" é um romance fascinante, envolvente, intemporal, com um  extraordinário protagonista-narrador que ouvi embevecida. Leia ou oiça também pois, por ser feio contar o que alguém nos contou, eu revelei quase nada da comovedora "história de loucos" de Holden Caulfield .
Estupendo! (Se há uma palavra que eu odeio, é estupendo. É tão pirosa.)

À espera no centeio, de J.D. Salinger (1919-2010)
Tradução de José Lima
Quetzal Editores, 2015
233 págs.

01 janeiro, 2019

À terça - imagens e palavras: "hoje"




“Só existem dois dias no ano
em que nada pode ser feito. Um se chama ontem
 e o outro se chama amanhã, portanto,
hoje
 é o dia certo para amar, acreditar, fazer e, principalmente, viver.”


Frase de Dalai Lama, monge tibetano.
(Foto tirada da minha varanda.)