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26 abril, 2019

"Lembrança" - poema de Miguel Torga

Ponho um ramo de flores
na lembrança perfeita dos teus braços;
cheiro depois as flores
e converso contigo
sobre a nuvem que pesa no teu rosto;
dizes sinceramente
que é um desgosto.
Depois,
não sei porquê nem por que não,
essa recordação desfaz-se em fumo;
muito ao de leve foge a tua mão,
e a melodia já mudou de rumo.
Coisa esquisita é esta da lembrança!
Na maior noite,
na maior solidão,
vem a tua presença verdadeira,
e eu vejo no teu rosto o teu desgosto,
e um ramo de flores, que não existe, cheira!
Poema de Miguel Torga, pseudónimo de Adolfo Correia da Rocha, nascido a 12 de Agosto de 1907, em São Martinho de Anta, Portugal. 
Formou-se em Medicina na Universidade de Coimbra, cidade onde faleceu a 17 de Janeiro de 1995.
Considerado um dos grandes escritores portugueses contemporâneos, foi distinguido com vários prémios, nomeadamente com o Prémio Camões, em 1989.
"Lembrança"(1939) consta do livro que reúne todos os poemas do poeta: "Poesia Completa", editado em 2000 pelas Publicações Dom Quixote.
Detalhes das obras "The rose girl", "Summer", "Spring" e "Under the Cherry Tree", do pintor francês Émile Vernon (1872-1920).

19 março, 2019

Dia do Pai


Na sina que me foi lida,
Este dia é sempre assim;
Sol na paisagem da vida,
E sombra dentro de mim.

Versos de Miguel Torga (1907-95), in "Poesia Completa", Dom Quixote, 2000



(Fotos da net.)

01 dezembro, 2017

7º aniversário do "rol de leituras"


Perde-se a vida, a desejá-la tanto.
Verso de Miguel Torga, Portugal (1907-95)

Mais um ano que passou, mais um aniversário do meu rol de leituras.
Sem querer repetir-me, 2017 foi mais um ano complicado. Demasiado complicado, com coisas ruins a acontecerem ao mesmo tempo, ao longo de todo o ano.
De qualquer modo, deu para fazer o que mais gosto: ler e escrever.
Ler, li muito; já escrever, foi assim-assim. 
Pela primeira vez a pilha de livros lidos a aguardar espaço no meu rol é maior do que a pilha de livros novos à espera de serem folheados. Não foi por preguiça, foi sim por falta de motivação.
À porta está um novo ano. Que traga com ele ondas de mudança que me permitam entender as causas dessa falta de motivação. Que traga com ele mais entusiasmo, mais alegria, mais amor, mais vontade de entender, fazer, crer, viver.
Obrigada pelo carinho de todos os que passaram por aqui.
Por favor leiam, leiam, leiam!
Abraços.

Com mais sossego amemos
A nossa incerta vida.
Versos de Fernando Pessoa, Portugal (1888-1935)

Foto da net.

28 novembro, 2017

Estou de volta!


Hora a hora,
Nasce outra vez em mim a vida.
Devagar,
Como um gomo de vide a rebentar,
Cobre de verde a cepa ressequida.

É um fruto que acena?
É uma flor que há-de-ser?
- Fui eu que disse que valia a pena
Viver!

"Convalescença", poema de Miguel Torga, Portugal (1907-95)
The Murmur of the sea”, de Delphin Enjolras, pintor francês (1857-1945)


Estou de volta!!
Já sem a vesícula biliar (órgão responsável pelo armazenamento da bílis produzida pelo fígado) onde se "alojavam" várias pedrinhas (cálculos biliares) e um pedregulho de 3 cm, verdade, 3 cm, que há semanas atrás me provocaram dores terríveis na zona abdominal e costas, que me levaram ao hospital.
Exames para cá, exames para lá, o diagnóstico chegou: dores provocadas pela expulsão de pedras pequeninas; inflamação provocada pelo pedregulho.
Tratada a inflamação, avançámos para a colecistectomia (excisão cirúrgica da vesícula) por via laparoscópica. Tudo correu bem!

Sou grata por tudo. Grata pela preocupação e carinho de todos: família; amigos reais; amigos da blogosfera; conhecidos de bata branca, verde, azul.
Um beijo no coração de TODOS!

07 maio, 2017

Canção para minha Mãe - Miguel Torga


Canção Para Minha Mãe

E sem um gesto, sem um não, partias!
Assim a luz eterna se extinguia!
Sem um adeus, sequer, te despedias,
Atraiçoando a fé que nos unia!

Terra lavrada e quente,
Regaço de um poeta criador,
Ias-te embora antes do sol poente,
Triste como semente em calor!

Ias, resignada, apodrecer
À sombra das roseiras outonais!
Cor da alegria, cântico a nascer,
Trocavas por ciprestes pinheirais.

Mas eu vim, deusa desenganada!
Vim com este condão que tu conheces,
E toquei essa carne macerada
Da vida palpitantes que mereces!

Porque tu és a Mãe!
Partiste um dia aos gritos e aos arrancos,
E partirás ainda pelo tempo além,
Mesmo sem madre e de cabelos brancos!

És e serás a faia que balança ao vento
E não quebra nem cede!
Se te pediu a paz do esquecimento,
Também a força de lutar te pede!

Respira pois, seiva da duração,
Nos meus pulmões até, se te cansaste;
Mas que eu sinta bater o coração
No peito onde em menino me embalaste.

Poema de Miguel Torga, Portugal (1907-95)
Pintura da romena Anca Bulgaru.

31 dezembro, 2015

EXCELENTE 2016 para todos (com muitas leituras)!



ANO NOVO

Vai-se esgotando a taça do festim.
Sorvo a sorvo, no espelho de cristal
Fica apenas a baba natural,
O melaço do fim.

Ah, não haver coragem verdadeira
De se quebrar o copo antes da hora
Em que se acaba o vinho, e a bebedeira
De repente melhora!


Poema de Miguel Torga (1907-95), in "Poesia Completa", Dom Quixote, 2000
Foto tirada da net.

02 abril, 2015

Feliz Páscoa!

PÁSCOA

Um dia de poemas na lembrança
(Também meus)
Que o passado inspirou.
A natureza inteira a florir
No mais prosaico verso.
Foguetes e folares,
Sinos a repicar,
E a carícia lasciva e paternal
Do sol progenitor
Da primavera.
Ah, quem puder
Ser de novo
Um dos felizes
Desta aleluia!
Sentir no corpo a ressurreição.
O coração,
Milagre do milagre da energia,
A irradiar saúde e alegria
Em cada pulsação.

Em "Poesia Cmpleta", de Miguel Torga
Publicações Dom Quixote, 2000

(Foto tirada da net)

16 abril, 2014

Poema de... Miguel Torga

ALELUIA
Com flores de rododendro cor de fogo
Anuncio aos sentidos
O milagre
Da ressurreição.
E o Cristo vivo, em que se transfigura
A mais vil criatura
Que atravessa a praça,
É como que uma graça
A mais da primavera.
Ah, quem pudera
Todos os dias
Olhar o mundo assim, repovoado
De fraternidade,
Quente dum sol desabrochado
Em cada pétala de realidade!

(Foto tirada da net)

24 janeiro, 2014

"Poesia completa" - Miguel Torga

E eis que num só livro foram reunidos todos os poemas de Miguel Torga.
Miguel Torga, pseudónimo de Adolfo Correia da Rocha, nasceu a 12 de Agosto de 1907, em São Martinho de Anta, Trás-os-Montes. Faleceu a 17 de Janeiro de 1995, em Coimbra, onde se licenciou em Medicina.
Considerado um dos grandes escritores portugueses contemporâneos, foi distinguido com vários prémios, nomeadamente com o Prémio Camões em 1989.
A sua obra está traduzida em diversas línguas.
 
Cântico
Mundo à nossa medida,
Redondo como os olhos,
E como eles, também,
A receber de fora
A luz e a sombra, consoante a hora.
 
Mundo apenas pretexto
Doutros mundos.
Base de onde levanta
A inquietação,
Cansada da uniforme rotação
Do dia a dia.
 
Mundo que a fantasia
Desfigura,
A vê-lo cada vez de mais altura.
Mundo do mesmo barro
De que somos feitos.
Carne da nossa carne
Apodrecida.
Mundo que o tempo gasta e arrefece,
Mas único jardim que se conhece
Onde floresce a vida.
 
Muito bom!
Com tantos, tantos poemas, pretendo ler um por dia ao longo deste ano.
Viva a poesia portuguesa!!
 
Poesia completa, de Miguel Torga
Ed. Dom Quixote, 2000
965 págs.

29 março, 2013

Poema de... Miguel Torga

ALELUIA
Não foi milagre ressurgir, Senhor,
Num dia natural de primavera.
Tudo ressurge quando tem calor.
É por calor que toda a morte espera.

Milagre era acordar no inverno, era
Subir da cova frio como a dor,
E, com neve nas dobras da quimera,
Mostrar a Madalena a carne em flor.

Contra a seiva da vida e a sua lei
É que valia a pena demonstrar…
Viver dentro da morte é que era um salto!

Assim, vejo-te apenas como sei:
Um corpo que parou de levedar,
E veio à tona ver o céu mais alto.

21 dezembro, 2012

(Feliz) NATAL - Poema de Miguel Torga

FELIZ NATAL PARA TODOS

NATAL
Fiel das horas mortas
Dessa noite comprida,
Pergunto a cada sombra recolhida
Que sol figura o lume
Que da lareira negra me sorri:
O do calor cristão?
O do calor pagão?
Ou a fogueira é só a combustão
Da lenha que acendi?

Presépios, solstícios, divindades…
A versátil natureza
Do homem, senhor de tudo!
Cria mitos,
Destrói mitos,
Nega os milagres que fez,
E depois, desesperado,
Procura o mundo sagrado
Nas cinzas da lucidez.

Poema de Miguel Torga, Portugal (1907-95)
Pintura (O Anjo) de Carlos Reys, Portugal (1937-)