22 junho, 2018

Viajando e aprendendo: Índia (2)

Continuando...

No estado de Uttar Pradesh, um dos maiores e mais habitados estados da Índia, banhado pelos grandes rios Yamuna e Ganges, visitámos Agra, a cidade do Taj-Mahal, Khajuraho e Varanasi, a cidade mais antiga do mundo, o local sagrado do Hinduísmo.
Em Agra dormimos duas noites mas tivemos apenas um dia para visitar a cidade. Soube a pouco, mas foi o suficiente para  realizar um sonho: entrar, admirar, fotografar o Taj Mahal,  o majestoso mausoléu que o imperador Shah Jahan mandou construir em memória de Mumtaz Mahal, a sua esposa favorita falecida em 1631, no parto do 14º filho.
Estima-se que 20 000 operários franceses, persas, italianos e turcos trabalharam durante 17 anos na construção do Taj Mahal  - uma miragem, um poema de amor em mármore branco, incrustado com pedras semipreciosas, e uma cúpula "costurada" com fios do mais puro ouro - um dos mais famosos monumentos do mundo, classificado pela UNESCO como Património da Humanidade e desde 2007 uma das Novas Sete Maravilhas do Mundo.
Saímos cedo do hotel para a visita ao Taj Mahal. Envolto em neblina, o famoso mausoléu era ainda mais espectacular. O sol apareceu depois e a emoção que senti quando entrei no magnífico túmulo e percorri os jardins que o ladeiam é inenarrável. 
Destaco a Câmara Tumular; o Biombo filigranado, esculpido num único bloco de mármore; os jardins exteriores; a Fonte de Lótus, com o reflexo do túmulo nas suas águas.
No período da tarde visitámos o Forte de Agra, construído pelo imperador Akkar entre 1565 e 1573. Localizado na margem ocidental do rio Yamuna, as suas imponentes muralhas de arenito vermelho rodeiam um enorme complexo de edifícios palacianos. Jahangiri Mahal, o grande palácio dentro do forte, remonta ao reinado de Akkar.
(Em cada uma das cidades do itinerário fomos acompanhados por simpáticos e competentes guias locais. Já o motorista, andou connosco de Deli a Varanasi.)
À noite, o motorista levou-nos a um teatro local onde assistimos a um belíssimo espectáculo de música e dança. Gostei!
Na manhã do dia seguinte viajámos de comboio de Agra para Jhansi, uma viagem de aproximadamente três horas.  Na estação de Jhansi esperava-nos o motorista "que nos abandonou" na estação de comboios de Agra (um exemplo da pobreza do país), e nos levou, por estrada, para Khajuraho
(Sobre a viagem de comboio, não encontro palavras para descrever o que senti numa carruagem de 1ª classe primitiva, apinhada de gente. Talvez a experiência tivesse piada se viajássemos inseridos num grupo, agora apenas nós dois, com bagagem, foi inacreditável!
Porque fomos nós de comboio? Estradas péssimas a esconder de turistas? Pois eu preferia ter viajado de "montanha russa", desviando de vacas e búfalos, do que de comboio. Sim, porque viajar de comboio na Índia é uma experiência do outro mundo...)
No caminho parámos em Orchha, cidade fundada em 1531 e eleita capital pelos reis de Bundela até 1738, quando foi abandonada. Localizada num ilha rochosa do rio Betwa, Orchha mostra-se agora num conjunto de palácios em ruínas. É lastimável o estado de abandono, degradação e sujidade visível em todo o lado, nomeadamente no Jahangiri Mahal, construído pelo rei Bir Singh Deo de Bundela, que passou ali apenas uma noite. É um palácio imponente, quadrado em arenito vermelho, com 132 divisões espalhadas por vários pisos, um pátio central e subterrâneos. É o único palácio visitável. Eu tentei entrar, mas não consegui passar do pátio. O intenso cheiro a um produto desinfectante (creolina?) incomodava e afugentava.
A viagem continuou para Khajuraho. 
Chegámos ao fim da tarde a mais um hotel de 5 estrelas rodeado de barracas e cães a remexer montes de lixo.  Do quarto, a vista para os cuidados jardins à volta da piscina faziam esquecer, por algumas horas, o que de menos belo tínhamos visto.  
No dia seguinte, acompanhados por mais um guia local visitámos os famosos Templos de Chandela, erguidos nos séculos IX e X pela dinastia Chandela, que na altura dominava a Índia. O magnífico conjunto de templos, famosos pelas suas escultura eróticas, é Património Mundial da Humanidade.
O mais admirável é o Templo de Kandariya Mahadev, que representa o apogeu da arte e arquitectura do norte da Índia.
A seguir ao almoço arrancámos com destino a Varanasi, a mais sagrada das cidades hindus, com um legado religioso e espiritual que remonta a cerca de 3 000 anos. 
Também conhecida por Kashi (Cidade da Luz) ou Benares, Varanasi situa-se na margem oeste do rio Ganges. Nos 90 ghats (escadas na margem do rio), numa extensão de cerca de 6 km), e nas águas sagradas assiste-se a um contínuo ciclo das práticas religiosas hindus. A cremação de cadáveres é feita aqui e ali nos degraus da escadaria e as cinzas são depois deitadas ao rio. 
(Tudo se deita ao rio. Tudo se faz no rio. Todos se banham no rio, animais incluídos.)
 
Chegámos a Varanasi ao fim da tarde e saímos logo para um passeio na companhia do guia local. De rickshaw percorremos as ruas estreitas e apinhadas de gente da cidade, atravessámos mercados e por fim chegámos às margens do rio Ganges para assistir, no rio, dentro de um pequeno barco, à cerimónia "Ganga Aarti" que decorre na escadaria e observar centenas de velas e flores a flutuar no rio, à medida que o sol se põe.
Na manhã do dia seguinte, ainda antes do pequeno almoço, saímos para um passeio de barco pelo rio para contemplar os palácios, a escadaria e os peregrinos a banharem-se nas águas escuras (e sujas...) do Ganges. Assistimos ao nascer do sol e sem quaisquer dúvidas, o passeio pelo Ganges valeu a pena.
(De Varanasi vou lembrar para sempre a imagem real de inúmeros idosos, moribundos, magríssimos, abandonados, deitados por todo o lado. Segundo explicação do guia, são pessoas comuns que  querem exalar o último suspiro na cidade sagrada. Arrepia, não? )
À tarde dissemos adeus ao motorista e partimos de avião para Delhi, de onde no dia seguinte voámos para Goa.
Goa é um pequeno estado na costa oeste da Índia, dividido em dois distritos; Goa Norte e Goa Sul.
Antiga colónia portuguesa anexada pela União Indiana em 1961, os 400 anos de domínio português deixaram marcas profundas na língua, religião, culinária e forma de vestir das suas gentes.
As praias idílicas (que se estendem ao logo de mais de 106 km), o excelente clima, as pitorescas paisagens,  e o povo hospitaleiro, fazem de Goa um dos maiores destinos de férias da Índia.
Aqui, fomos acompanhados por um guia competente, simpático, descendente orgulhoso de portugueses, apreciador de bacalhau, que nos mostrou os grandes palácios coloniais da nobreza que prosperou nos séculos XVIII e XIX. Levou-nos à famosa Velha-Goa (classificada como Património Mundial da Humanidade pela UNESCO e considerada o coração espiritual do Cristianismo na Índia) para admirarmos a belíssima Basílica do Bom Jesus, venerada por católicos de todo o mundo por guardar os restos mortais de São Francisco Xavier e a grandiosa Sé Catedral, a maior igreja da Ásia, com um altar extraordinário em talha dourada.
No dia seguinte percorremos ruas e locais onde observámos a impressionante herança portuguesa, sempre acompanhados pelo experiente guia que tudo sabia sobre a nossa presença naquele lugar paradisíaco.
Em Goa não há confusão de automóveis, não há sujidade, respira-se ar puro e ouve-se o silêncio: tudo está limpo e ordenado. As ruelas estreitas, com casas pintadas de cores vivas, lembram o Portugal distante. Ali não faltam bares, cafés, restaurantes, mercados e gente que fala português.
O excelente hotel onde ficámos alojados estava a dois passos do areal de uma praia de areia branca e águas calmas mas uma chuva miudinha impediu um banho de mar.
Goa, é um destino turístico a considerar.
Depois de duas noites em Goa voámos para a última etapa da viagem: Mumbai (Bombaim).

Foi curtíssima a estada em Mumbai, uma cidade de enormes e chocantes contrastes: a riqueza ostensiva em viaturas, residências e condomínios ao lado de milhares (ou milhões?) de barracas tapadas com plástico azul, obrigam-nos a engolir em seco vezes sem fim.  
Chegámos de manhã e voámos na madrugada do dia seguinte para Lisboa. O que vimos foi numa visita panorâmica pelo cidade, com um guia local. Destaco o "Dhobi Ghat" uma lavandaria gigante ao ar livre, única no mundo, onde centenas de homens lavam por dia milhares de peças de roupa, a maioria de hotéis locais.
No centro da cidade, mesmo ao lado da lavandaria, de um enorme forno crematório encoberto por árvores frondosas sai em contínuo fumo de uma alta chaminé e dezenas de abutres sobrevoam o local. Não é bonito de ver, não!
Depois da agonia veio a emoção: entrámos na residência-museu de Ghandi, o Pai da Nação. Era ali que Ghandi se instalava quando se deslocava a Mumbai. Até o colchão no chão, onde dormia, ali está.
Continuámos para Malabar Hill e os Jardins Suspensos. Passeámos em frente à Porta da Índia (símbolo de Mumbai) e em tempos porta de entrada na cidade; admirámos o famoso (pelos bons e maus motivos) Hotel Taj Mahl; e "gastámos tempo" na avenida à beira rio, conhecida por "colar da rainha".
Num hotel do aeroporto jantámos, descansámos e aguardámos a hora do regresso a casa.
Foi uma viagem intensa, cansativa, incrível. Apesar de alguns sustos, gostei. 
Recomendo (apesar de tudo)! 
Como sinto que tudo ficou por dizer, "leia" mais nas fotos (muitas) aqui.

13 comentários:

  1. Mais uma bela viagem fiz aqui sem sair do lugar, junto contigo, lendo e vendo as fotos! Valeu! beijos, ótimo fim de semana! chica

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  2. Já viajei um pouquinho por aqui, ainda que virtualmente!

    Isabel Sá
    Brilhos da Moda

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  3. Bem-vinda Isabel, espero que tenha gostado da viagem virtual.
    Pelo que já vi no seu blogue, as cores da Índia, o brilho dos saris, têm muito a ver consigo.
    Beijo e bom fim-de-semana.

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  4. Olhares lindos Teresa que nos convidam a conhecer!!!bj

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  5. Oi Tereza,
    Agora que poderia viajar, adoeci.
    Amei o que vi, só que há muita pobreza.
    Mas aproveitei bem minha vida quando morava em Santo André, aí meu marido morreu me deixando com meu filhinho.
    Não queria voltar, mas meu ligava todos os dias. Voltei só por ele, eu fui adotada e ela não me aceitava. No fim cuidava dela, aplicava insulina, etc...
    Adotei aquele garoto que viu na postagem com 10 dias: é meu tesouro. Casei-me novamente aos 45 anos, hoje 70, a idade do dói tudo.kkk
    Beijos
    Lua Singular

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    1. Dorli, é um gosto vê-la aqui.
      Desejo, do coração, tudo de bom para si e para o filhote.
      Não deixe que pensamentos negativos interfiram na sua felicidade.
      E aos 70 anos, a tal “ idade do dói tudo”, celebre a vida.
      (Se já não dá para viajar, leia! Ler leva-nos por esse mundo fora.)
      Beijo.

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  6. Teresa,
    Ufa!
    Essa é uma viagem de
    tirar o fôlego.
    Minha mente hoje está
    cheia de imagens lindas
    daqui, do Rui, da Gracinha
    e dos ceus da Chica.
    Encantada sou grata, pq
    Hoje eu realmente precisava
    dessas viagens.
    Bjins
    CatiahoAlc.

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  7. Teresa, não poderia ser melhor essa tua postagem!! Li aqui o que queria saber, não pintaste o que é preto de rosa, só pelo fato de viajar e dá de cara com uma miséria escrachada demais, valeu como experiência de vida. Claro, há na Índia coisas lindíssimas, um lado que mexe com nossa fantasia, mas nem só isso. Quem gosta de dar de cara com tanta miséria? Mas vi em ti que tudo foi muito válido, a realidade fazia parte da tua viajem. As escadarias do Rio Ganges, famosa escadaria; a cremação com os abutres esperando por algo... terrível, um hábito antigo. A sujeira contrastando com os palácios! Sei da história mais particular de Ghandi, ótimo teres ido lá no seu museu.
    Goa já diverge um pouco, não? Por que será?
    Varanasi, li curiosa...moribundos abandonados, que loucura!
    Tua visita ao palácio mal cheiroso tive de rir por aqui, te imaginando na situação. Amiga, mas te perguntarei depois, a viagem por comboio... que loucura!!!!!! Isso merece talvez uma postagem extra, uma crônica das tuas sensações e observações sobre o povo. Pensa nisso.
    Amiga, é fantástico viajar, conhecer via virtual com quem já esteve no local do que ver, apenas, um documentário narrativo mostrando os lugares. O fantástico é a impressão daquele que foi, daquele que viajou.
    Nota 1000!!! Ficou o gosto de 'quero mais'.
    Beijo.

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  8. Querida Teresa, adorei tudo o que li aqui, embora algumas coisas eu já soubesse. Esse momumento ao amor é uma coisa que adoraria visitar 3 a7nda não perdi as esperanças. Também já sabia desse crematório gigante no rio Ganges, mas não tinha ideia desses velhinhos moribundos junto dele à espera da morte; deve ser chocante uma visão dessas, mas, para eles, deve ser muito importante a despedida nesse rio sagrado; são culturas que devemos respeitar e não sei se squi e noutras partes do mindo não se passam coisas até piores; muitos idosos , morrem dentro de 4 paredes, abandonados pelos filhos e, se lhes dessem opção de morrer dentro de uma igreja, talvez preferissem. Aqui há tempos vi uma reportagem sobre idosos abandonados nos nossos hospitais e mostrou um idoso há muito abandonado num hospital e fiquei surpreendida com as enfermeiras cuidando dele com um carinho enorme, cortando-lhe a barba e preparando-o para dormir. Penso que neste caso, a administração do hospital já não pensava em colocá-lo num lar, porque a afeição por ele já era muita e para o velhinho seria terrivel tirá-lo daquele lugar. Isto para dizer, amiga, que há muitas barbaridades cometidas contra os idosos e esse caso que contas pode até ser opção, mas, de qualquer modo, choca muito. Enfim!!! Tristezas grandes que o ser humano provoca e, infelizmente, Gahndis e Madres Teresa há poucos ; fizeram o que puderam, mas, os interesses económicos estão sempre acima. Amiga, como sempre, já me alonguei muito, mas a culpa é da tua viagem; foi longa e, como permitiste que te acompanhasse, o meu " relato " tinha que ser extenso. Boa noite, querida amiga e um abraço bem apertadinho.
    Emilia

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  9. Olá, Teresa

    "Viajando e aprendendo"! É mesmo. Uma viagem fantástica plena de contrastes. Os monumentos são lindíssimos mas a pobreza é imensa, uma tristeza. O Ganges, com os hábitos e costumes a ele ligados, sempre me impressionou. Fui ver as fotos do "Fugas Reveladas" que complementam os seus textos. Lindas!

    Obrigada.

    Beijinhos

    Olinda

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  10. Talvez por causa das mais recentes notícias, só tenho curiosidade de visitar o Taj Mahal e Goa.
    E não sei se isso alguma vez acontecerá.
    Porque a Índia não me atrai.
    Beijos, boa semana

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  11. Ao ver as fotografias e lendo os seus relatos também aprendi muitas coisas que desconhecia… Obrigada.
    Uma boa semana.
    Um beijo.

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  12. Olá Amiga, você escreve maravilhosamente bem, sei que você adorou apesar dos inconvenientes encontrados, realizou um sonho, isso é o que importa nas viagens.
    Como o Pedro Coimbra aí a cima, a Índia não me atrai, para mim seria um sacrifício duplo o de viajar e ir a um lugar nada sonhado por mim.
    Realizar um sonho é bom demais, e foi o que você fez.
    Parabéns, mil beijinhos.
    Léah

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