15 junho, 2018

Viajando e aprendendo: Índia (1)

“A pobreza da Índia atingiu-me como um martelo”, in “Seis Suspeitos”, do indiano Vikas Swarup, pág. 245.

No verão de 2010 viajámos para longe e fomos à descoberta da Índia.
Sendo o sétimo maior país do mundo, logo, impossível de todo conhecer em escassos quinze dias, optámos pelo programa “Índia Clássica”, que nos levou às cidades mais emblemáticas do norte e a  Goa.
Iniciámos a viagem em Nova Deli, e seguiram-se Samode, Jaipur, Agra, Orchha, Khajuraho, Varanasi, Goa e Mumbai.
Não estávamos preparados para encontrar uma das maiores economias do mundo, e o segundo mais populoso país, devastado pela carência.
Não estávamos preparados para encontrar cidades com milhões de habitantes a viver numa pobreza extrema, numa sujeira chocante.
A primeira impressão à chegada a Delhi foi brutal!
Só ali vivem cerca de 22 milhões de habitantes e o caos é a todos os níveis: ruas buliçosas, edifícios apinhados, engarrafamentos intermináveis, barulho ininterrupto de apitos e buzinas, montanhas de lixo, um movimento alucinante de cabras, vacas, búfalos, gente, muita gente. Não há semáforos, não há sinaleiros, não há separadores nas estradas, não há passadeiras para peões. A buzina resolve todas as confusões e os condutores são, não tenho quaisquer dúvidas, os melhores do mundo.
À excepção de Goa, o caos mantém-se em todas as cidades visitadas.
Cidades enormes, com estradas de terra batida, inundadas de lama e sujidade, prédios a ruir, barracas com lonas rasgadas, gente despojada de tudo, a dormir nos passeios, a comer, a lavar-se, a urinar para qualquer canto, a esperar pela morte. Gente que encontra na espiritualidade, nos rituais, na meditação, alimento para atingir a serenidade, a virtude, o conhecimento, a libertação.
Vende-se tudo, em todo o lado, mesmo se ao lado está uma montanha de lixo remexido por cães esqueléticos, cabras, vacas e búfalos.
Mas também vimos subúrbios luxuosos da abastada classe média, carros topo de gama, hotéis espantosos, monumentos fascinantes, museus que guardam cinco milénios de história indiana, jardins bem cuidados, guias competentes, motoristas experientes, gente simpática, homens que com um sorriso descarado nos miram dos pés à cabeça, mulheres lindas com saris coloridos que baixam o rosto quando se cruzam connosco, crianças devidamente fardadas a caminho das escolas, universidades enormes nos sítios mais improváveis.
Que contrastes...
Quando chegávamos ao quarto de hotel a pergunta que fazíamos um ao outro era sempre a mesma: como é possível?
Havia que parar, criar algumas regras de comportamento, aceitar as coisas como eram e deixarmo-nos de comparações com o Ocidente. Só assim poderíamos continuar a viagem.
Foi o que fizemos.

Em Deli visitámos a mesquita Jama Masjid,  a maior da Índia, o Forte Vermelho, imponente edifício da época do Império Munghai, o Forte Ghat, um memorial de Gandhi, a Porta da Índia, o Parlamento, o Palácio Imperial, o Templo da comunidade Sikh.
No caminho para Jaipur parámos para almoçar no maravilhoso Palácio Samode
 Jaipur (cidade Rosa dada a cor rosa escuro dos edifícios) é a capital do Rajasthan.
Cidade fundada por Raja Jai Singh no século XVIII, tem no topo das colinas que a rodeiam Fortes e Palácios encantadores. Há quem lhe chame a cidade do amor. Talvez seja!
Visitámos o Forte de Amber (subimos a colina em cima de um enorme elefante e descemos de automóvel), o Palácio do Maharaja (Palácio da Cidade), o Jantar Mantar, o maior observatório do Mundo, construído em pedra e mármore, entre 1728 e 1734. No  Laxmi Narayan, o Templo de Birla assistimos a um ritual religioso.
A viagem continuou para Agra.
No caminho visitámos a cidade abandonada Fatehpur Sikri, mandada construir pelo rei Akber, no século XVI.
E chegámos à cidade do deslumbrante Taj Mahal, do imponente  Forte de Agra e outras coisas mais.
(Falarei sobre Agra e sobre o restante itinerário desta viagem, na próxima semana.)
Na Índia apanhámos alguns grandes sustos. Um deles, o primeiro, quase nos fez desistir da viagem.
Chegámos a Nova Deli à noite e fomos conduzidos para o hotel integrados num grupo de portugueses. Pensei que seriam nossos colegas de viagem. Enganei-me! Só nós tínhamos escolhido o programa "Índia Clássica".
No dia seguinte visitámos a cidade com um guia  local, num carro conduzido pelo motorista que nos acompanharia no resto da viagem. Nós dois e um motorista, num país desconhecido, fizemos centenas de quilómetros em estradas em péssimo estado de conservação e trânsito caótico. Desistimos? Não! Arriscámos!
Em todas as cidades ficámos alojados em excelentes hotéis de 5 estrelas, por vezes verdadeiras ilhas no meio da maior imundice. Em cada cidade um guia local esperava-nos à entrada do hotel, entrava no "nosso" carro, mostrava-nos da cidade o que podia ser mostrado, levava-nos ao hotel para almoçarmos, voltava à tarde para continuarmos a visita.
A visita da tarde era sempre rápida e cedo chegávamos ao hotel. Até à hora do jantar, ocupávamos o tempo mergulhando na piscina. Saídas diurnas ou  nocturnas sozinhos? Nunca!
As refeições eram nos hotéis. Apenas uma vez almoçámos num restaurante, em Agra. Estranhámos, mas não contestámos. Seria uma refeição diferente. Tão diferente foi que apanhei uma gastroenterite que nada do que eu levara tratou.  Então, apanhei o segundo grande susto da viagem: uma ida, com o guia, a uma farmácia. À porta hesitei «não, antes a gastroenterite!», mas entrei. O velho homem que me olhava com estranheza ouviu o guia e logo despejou de um frasco 3 comprimidos cor-de-rosa na palma da minha mão. Comprimidos milagrosos, digo agora, refeita do susto.
No dia seguinte estava pronta para visitar mais algumas maravilhas e viver experiências estranhas. Como a que originou o terceiro susto: uma viagem de comboio de Agra para Jhansi, apenas os dois, com toda a bagagem. Surreal!
Continua...

(Mais fotos aqui.)

10 comentários:

  1. E que bela viagem através do seu roteiro e lindos olhares Teresa!
    bj

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  2. Olá, Teresa! Viajei com o casal por essa incrível Índia, com os seus chocantes contrastes. Esse teu texto de viagem, muito bem narrado, fez-me lembrar de muitos filmes e documentários que vi sobre esse país tão rico e tão pobre. As fotos dizem, muitas vezes, o que as palavras não conseguiriam, em razão da crueza da vida desse povo, tão diferentes de nós ocidentais.
    Espero pela continuação da viagem na qual irei, novamente de carona.
    Bom fim de semana,
    bjs
    Pedro

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  3. Amiga, que postagem extraordinária!! Que contrastes brutais, Teresa! Essas coisas adoro saber, estou sempre nos documentários atrás da realidade e não de fantasias. O país na sua parte rica é de uma beleza incomum, arte belíssima, mas ao lado... tudo que mostrastes impressiona!
    Vi, não faz muito, um documentário de dois americanos que foram fazer turismo na Índia, amiga, foi de arrepiar, te lendo aqui é igualzinha a sensação. E um país milenar! Teu texto foi perfeito, profundo, revelador e compromissado com a realidade, pura e crua. Através das fotos vemos um lindo país e muito sofrimento com os contrastes. Penso que a gente volta um tanto diferente de uma viagem dessas, vamos com uma bagagem, e voltamos com outra, e as duas juntas nos deixam mais ricas de conhecimento e de vivência.
    Aplausos pra ti, pela bela matéria trazida ao Rol.
    Beijo, aguardo a parte 2.

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  4. Gostei muito das fotografias, mas gostei especialmente do texto onde nos mostra a sua enorme sensibilidade sobre aquilo que viu. A Índia é um país de enormes contrastes… Obrigada por partilhar aqui esta sua viagem.
    Um bom fim de semana.
    Um beijo.

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  5. E não há vislumbre da situação se alterar,
    apesar da forte persuasão das ONGs
    Ótima semana.
    Beijo
    ~~~

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  6. Um grande país com enormes contrastes e uma vasta e rica cultura em suma um país que eu adorava visitar e perder-me nele.
    Um abraço e bom Domingo.

    Andarilhar
    Dedais de Francisco e Idalisa
    Livros-Autografados

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  7. Teresa, todos os feedbacks que já recebi sobre a India são iguais ao seu, um país de extremos contrastes, monumentos lindos e interessantes mas logo ao lado uma pobreza extrema e uma sujidade impressionante.
    Viajei através dos seus "olhares". Obrigado por esta interessante visita virtual.
    Beijinhos
    Maria
    Divagar Sobre Tudo um Pouco


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  8. Querida Teresa, uma via gem que gostaria fe fazer, apesar de toda essa miséria que choca só de ler, imagina ver. Ainda dizem que há deseigualdades sociais no Brasil e em Portugal e claro que as há, mas nada se compara as que aqui descreves e ao que se conhece desse pais. Amiga, obrigada e espero que nāo te importes que te acompanhe na tua próxima visita: nesse carrinho cabem mais e dois? Fico à espera! Beijinhos e um bom Domingo a torcer pelo Brasil.
    Emilia

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  9. Teresa,
    vim desejar bom dia inteiro
    e uma nova semana feliz.
    Vou ler a postagem
    e voltarei para comentar.
    Bjins, viu?
    CatiahoAlc.

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  10. O típico exemplo de um país de contrastes.
    Onde a mais incrível opulência convive com a mais terrível miséria.
    Beijo, boa semana

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