O aborrecido de chorar quando picamos cebola não é o simples facto de chorar, mas sim às vezes começarmos, ou melhor, ficarmos picados, e já não conseguirmos parar. Não sei se já vos aconteceu, mas a mim, para dizer a verdade, já. Vezes sem conta. A mamã dizia que era por eu ser tão sensível à cebola como Tita, a minha tia-avó. (...)
Tita chegou a este mundo prematuramente, em cima da mesa a cozinha, entre os cheiros de uma sopa de aletria que estava a ser cozinhada, do tomilho, do louro, dos coentros, do leite fervido, dos alhos e, é claro, da cebola. (...)
Este inusitado nascimento foi determinante para o facto de Tita sentir um imenso amor pela cozinha.
Lida ou vista no cinema, serão poucos os que não terão já saboreado a história de amor de Tita e Pedro, “cozinhada” numa quinta do México revolucionário do início do século XX.
Amor proibido pela tradição familiar que dita o destino de Tita: por ser a mais nova das três filhas da Mamã Elena (mulher de forte personalidade), cabe-lhe a ela cuidar da mãe até ao dia da sua morte.
Enquanto Tita se interroga: Quem teria iniciado esta tradição familiar? Se não podia casar nem ter filhos, quem é que ia então cuidar dela quando chegasse à senilidade?, Pedro pede a sua mão à Mamã Elena e esta, em alternativa, propõe-lhe a mão de Rosaura, dois anos mais velha do que Tita.
Pedro vê nesse casamento a única saída para estar perto da mulher que realmente ama e aceita casar com Rosaura, e Tita, resignada, refugia-se na grande cozinha da quinta, para continuar a aprender com Nacha, a velha e sábia cozinheira índia, tudo sobre sabores, aromas e amores.
Após a morte de Nacha, Tita ocupa o seu lugar na cozinha e esmera-se para cozinhar cada dia melhor para o seu amado - assim como um poeta joga com as palavras, assim ela jogava à sua maneira com os ingredientes e com as quantidades obtendo resultados fenomenais.
A história de Tita e Pedro “cozinha-se” em doze capítulos. Cada capítulo, de Janeiro a Dezembro, abre com uma receita, os respectivos ingredientes e o modo de fazer.
As receitas são realizáveis?
Talvez, mas confesso que não experimentei. Bastou-me saborear a magia do amor “explosivo” (verdade, verdadinha) dos dois amantes.
Foi bom reler este “saboroso e ternurento” romance.
Se ainda não o leu, leia. Leia e deguste com prazer. Tem ZERO calorias.
Hum! Hum!
Como Leite para chocolate, de Laura Esquivel
Tradução de Cristina Rodriguez
Ed. ASA, 1993
229 págs.
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