17 abril, 2020

Curiosidades “Rol de Leituras”: falemos de poesia!

Continuando com as curiosidades, desvendo hoje os dois livros de poesia e os dois poemas mais visualizados no “Rol de Leituras”.
Li muita poesia nos nove anos da existência do Rol. Em livros, em blogues de poetas que sigo, aprendi a gostar por demais de palavras ditas com precisão absoluta.
Se consegui que alguém começasse a ler/gostar de poesia, não sei. Eu tentei!

Vagas e Lumes”, livro de Mia Couto  (Ler mais...)
Não me basta ser:
eu quero o transbordar de tudo,
o desassombro
que toda margem desconhece.

Não me basta morar:
quero ser habitado
por quem ao destino desobedece.

Não me basta viver:
quero a vida como febre,
o amor como lume e água.

No final, saberás:
o que se ama não regressa

O que se vive
não começa.

E o sonho
nunca tem pressa.
"Se eu pudesse trincar a terra toda", poema de Fernando Pessoa
Se eu pudesse trincar a terra toda
E sentir-lhe um paladar,
Seria mais feliz um momento…
Mas eu nem sempre quero ser feliz.
É preciso ser de vez em quando infeliz
Para se poder ser natural…

Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
Naturalmente, como quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E que haja rochedos e erva…

O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade ou na infelicidade,
Sentir como quem olha,
Pensar como quem anda,
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica…
Assim é e assim seja…
(Alberto Caeiro)

"Versos”, livro de Amália Rodrigues  (Ler mais...)
LÁGRIMA
Cheia de penas
Cheia de penas me deito
E com mais penas
Com mais penas me levanto
No meu peito
Já me ficou no meu peito
Este jeito
O jeito de te querer tanto

Desespero
Tenho por meu desespero
Dentro de mim
Dentro de mim um castigo
Não te quero
Eu digo que não te quero
E de noite
De noite sonho contigo

Se considero
Que um dia hei-de morrer
No desespero
Que tenho de te não ver
Estendo o meu xaile
Estendo o meu xaile no chão
Estendo o meu xaile
E deixo-me adormecer

Se eu soubesse
Se eu soubesse que morrendo
Tu me havias
Tu me havias de chorar
Uma lágrima
Por uma lágrima tua
Que alegria
Me deixaria matar
A minha dor”, poema de Florbela Espanca
A minha Dor é um convento ideal
Cheio de claustros, sombras, arcarias,
Aonde a pedra em convulsões sombrias
Tem linhas dum requinte escultural.

Os sinos têm dobres e agonias
Ao gemer, comovidos, o seu mal…
E todos têm sons de funeral
Ao bater horas, no correr dos dias…

A minha Dor é um convento. Há lírios
Dum roxo macerado de martírios,
Tão belos como nunca ou viu alguém!

Nesse triste convento aonde eu moro,
Noites e dias rezo e grito e choro,
E ninguém, ouve… ninguém vê… ninguém…


Bom fim de semana.
Protejam-se.

(fotos da net)

15 comentários:

  1. Há poemas tão bonitos e que não estão aqui.
    Amália é a voz que continuo a preferir no fado, mas não faz a minha preferência em poesia.

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    1. «Lágrima» é, para mim, o MAIS BELO dos fados.
      Há poemas, há livros, há frases... que não estão aqui. No Rol.
      Bjs.

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  2. Uma boa escolha de poemas para nos deliciar neste início de fim de semana.
    Abraço

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  3. Só não conhecia o poema de Mia Couto. Nunca li nada desse autor, embora tenha há anos um livro escrito por ele na estante.

    A imegem é arrepiante e ao mesmo tempo fascinante!!!

    Assim como belas flores a POESIA vigora e ilumina a nossa mente, Teresa.

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  4. Bom dia:- Pérolas Poéticas que gostei muito de ler
    .
    Cumprimentos

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  5. Poemas que sabe bem reler, minha Amiga Teresa. A poesia salva-nos…
    Um grande beijo.

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  6. Maravilhosos, Teresa, amei!!
    Acho até a pessoa do Mia Couto poesia, fico encantada por ouvi-lo, pessoa linda.
    Bom final de semana, abração!

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  7. "... o sonho
    nunca tem pressa."

    "E que o poente é belo e é bela a noite"...

    Boa noite de final de semana, querida amiga Teresa!
    Também gostei muito mais de poesia graças aos amigos queridos que a fazem lindamente, espotaneamente e de fornma nata.
    Por aqui, você as divulga de maneira soberba.
    Muito lindos os versos acima e deixo registrado para que guarde no coração meu gosto poético, querida amiga.
    Tenha dias abençoados!
    Bjm carinhoso e fraterno de paz e bem

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  8. poemas lindos e com alma sao mesmo bonitos parabens bjs saude

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  9. Os 3 maravilhosos!
    Mia Couto muito verdadeiro, o que tem mais pressa nesse mundinho de ninguém é a desgraça, parece um vírus que infecta rapidinho, há lugares, povos, que não fica pedra sobre pedra. Um pulinho na África e se vê tudo de uma vez só.

    "E o sonho
    nunca tem pressa."

    Fernando Pessoa, um dos meus preferidos, o poeta filósofo.
    Interessante isso:

    "Mas eu nem sempre quero ser feliz.
    É preciso ser de vez em quando infeliz
    Para se poder ser natural…"

    Adoro a Florbela Espanca, triste, dramática e solitária, seus poemas são para ler e digerir devagar a pura realidade. Situações que todos passamos em algum momento da vida.

    "Nesse triste convento aonde eu moro,
    Noites e dias rezo e grito e choro,
    E ninguém, ouve… ninguém vê… ninguém…"

    Ótima tua postagem querida Teresa, muita sensibilidade na escolha.
    Beijinho, bom domingo, mesmo em quarentena, cuide-se!
    Meu carinho.

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  10. Querida Teresa, confesso aqui, muito em segredo e que ninguém nos ouça, que nunca comprei um livro de poesia; gosto muito de ler, mas, se tiver algum livro de poemax ( tenho um ou dois ), foi-me oferecido; isto para dizer que aprendi a gostar de poesia com o Comecar de novo; há blogues que me seguem e que eu sigo, com muito prazer, só dedicados à poesia e assim comecei a gostar dela e a interpretá-la. Sempre digo que não somos capazes de saber o que ia na alma do poeta quando compôs o poema, mas sabemos o que vai na nossa no momento em que a lemos. E aqui, mais uma vez, Teresa, tu trazes boa poesia que li, com muito carinho. Obrigada, querida Amiga! Deixo-te um abraço enorme e os votos de que estejam bem. Por cá, tudo normal.
    Emilia

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  11. Olá, amiga, como está, neste tempo de incertezas?

    Passei para lhe desejar um bom resto de Domingo.

    Bjs!

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  12. Não consigo escolher um.
    Beijinhos, boa semana

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  13. Teresa sou encantado com sua sensibilidade para escolha de poemas para nos alimentar, os amantes da bela poesia, o que as vezes me dá té vergonha de dizer que faço poesia, ao ler Mia, Florbela, Camões, mas é poesia e a flor da sensibilidade é que nos move querida amiga.
    Gratidão sempre por vir aqui e sair inspirado.
    Por hoje fico aqui.
    Meu carinho num abraço amiga.
    Cuide-se bem e fique bem com os seus.
    Beijos

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