Continuando com as curiosidades, desvendo hoje os dois livros de poesia e os dois poemas mais visualizados no “Rol de Leituras”.
Li muita poesia nos nove anos da existência do Rol. Em livros, em blogues de poetas que sigo, aprendi a gostar por demais de palavras ditas com precisão absoluta.
Se consegui que alguém começasse a ler/gostar de poesia, não sei. Eu tentei!
“Vagas e Lumes”, livro de Mia Couto (Ler mais...)
Não me basta ser:
eu quero o transbordar de tudo,
o desassombro
que toda margem desconhece.
Não me basta morar:
quero ser habitado
por quem ao destino desobedece.
Não me basta viver:
quero a vida como febre,
o amor como lume e água.
No final, saberás:
o que se ama não regressa
O que se vive
não começa.
E o sonho
nunca tem pressa.
E sentir-lhe um paladar,
Seria mais feliz um momento…
Mas eu nem sempre quero ser feliz.
É preciso ser de vez em quando infeliz
Para se poder ser natural…
Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
Naturalmente, como quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E que haja rochedos e erva…
O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade ou na infelicidade,
Sentir como quem olha,
Pensar como quem anda,
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica…
Assim é e assim seja…
(Alberto Caeiro)
eu quero o transbordar de tudo,
o desassombro
que toda margem desconhece.
Não me basta morar:
quero ser habitado
por quem ao destino desobedece.
Não me basta viver:
quero a vida como febre,
o amor como lume e água.
No final, saberás:
o que se ama não regressa
O que se vive
não começa.
E o sonho
nunca tem pressa.
"Se eu pudesse trincar a terra toda", poema de Fernando Pessoa
Se eu pudesse trincar a terra todaE sentir-lhe um paladar,
Seria mais feliz um momento…
Mas eu nem sempre quero ser feliz.
É preciso ser de vez em quando infeliz
Para se poder ser natural…
Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
Naturalmente, como quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E que haja rochedos e erva…
O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade ou na infelicidade,
Sentir como quem olha,
Pensar como quem anda,
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica…
Assim é e assim seja…
(Alberto Caeiro)
"Versos”, livro de Amália Rodrigues (Ler mais...)
LÁGRIMA
Cheia de penas
Cheia de penas me deito
E com mais penas
Com mais penas me levanto
No meu peito
Já me ficou no meu peito
Este jeito
O jeito de te querer tanto
Desespero
Tenho por meu desespero
Dentro de mim
Dentro de mim um castigo
Não te quero
Eu digo que não te quero
E de noite
De noite sonho contigo
Se considero
Que um dia hei-de morrer
No desespero
Que tenho de te não ver
Estendo o meu xaile
Estendo o meu xaile no chão
Estendo o meu xaile
E deixo-me adormecer
Se eu soubesse
Se eu soubesse que morrendo
Tu me havias
Tu me havias de chorar
Uma lágrima
Por uma lágrima tua
Que alegria
Me deixaria matar
Cheia de penas
Cheia de penas me deito
E com mais penas
Com mais penas me levanto
No meu peito
Já me ficou no meu peito
Este jeito
O jeito de te querer tanto
Desespero
Tenho por meu desespero
Dentro de mim
Dentro de mim um castigo
Não te quero
Eu digo que não te quero
E de noite
De noite sonho contigo
Se considero
Que um dia hei-de morrer
No desespero
Que tenho de te não ver
Estendo o meu xaile
Estendo o meu xaile no chão
Estendo o meu xaile
E deixo-me adormecer
Se eu soubesse
Se eu soubesse que morrendo
Tu me havias
Tu me havias de chorar
Uma lágrima
Por uma lágrima tua
Que alegria
Me deixaria matar
“A minha dor”, poema de Florbela Espanca
A minha Dor é um convento ideal
Cheio de claustros, sombras, arcarias,
Aonde a pedra em convulsões sombrias
Tem linhas dum requinte escultural.
Os sinos têm dobres e agonias
Ao gemer, comovidos, o seu mal…
E todos têm sons de funeral
Ao bater horas, no correr dos dias…
A minha Dor é um convento. Há lírios
Dum roxo macerado de martírios,
Tão belos como nunca ou viu alguém!
Nesse triste convento aonde eu moro,
Noites e dias rezo e grito e choro,
E ninguém, ouve… ninguém vê… ninguém…
Bom fim de semana.
Protejam-se.
(fotos da net)
Cheio de claustros, sombras, arcarias,
Aonde a pedra em convulsões sombrias
Tem linhas dum requinte escultural.
Os sinos têm dobres e agonias
Ao gemer, comovidos, o seu mal…
E todos têm sons de funeral
Ao bater horas, no correr dos dias…
A minha Dor é um convento. Há lírios
Dum roxo macerado de martírios,
Tão belos como nunca ou viu alguém!
Nesse triste convento aonde eu moro,
Noites e dias rezo e grito e choro,
E ninguém, ouve… ninguém vê… ninguém…
Bom fim de semana.
Protejam-se.
(fotos da net)
Há poemas tão bonitos e que não estão aqui.
ResponderEliminarAmália é a voz que continuo a preferir no fado, mas não faz a minha preferência em poesia.
«Lágrima» é, para mim, o MAIS BELO dos fados.
EliminarHá poemas, há livros, há frases... que não estão aqui. No Rol.
Bjs.
Uma boa escolha de poemas para nos deliciar neste início de fim de semana.
ResponderEliminarAbraço
Só não conhecia o poema de Mia Couto. Nunca li nada desse autor, embora tenha há anos um livro escrito por ele na estante.
ResponderEliminarA imegem é arrepiante e ao mesmo tempo fascinante!!!
Assim como belas flores a POESIA vigora e ilumina a nossa mente, Teresa.
Bom dia:- Pérolas Poéticas que gostei muito de ler
ResponderEliminar.
Cumprimentos
Poemas que sabe bem reler, minha Amiga Teresa. A poesia salva-nos…
ResponderEliminarUm grande beijo.
Maravilhosos, Teresa, amei!!
ResponderEliminarAcho até a pessoa do Mia Couto poesia, fico encantada por ouvi-lo, pessoa linda.
Bom final de semana, abração!
"... o sonho
ResponderEliminarnunca tem pressa."
"E que o poente é belo e é bela a noite"...
Boa noite de final de semana, querida amiga Teresa!
Também gostei muito mais de poesia graças aos amigos queridos que a fazem lindamente, espotaneamente e de fornma nata.
Por aqui, você as divulga de maneira soberba.
Muito lindos os versos acima e deixo registrado para que guarde no coração meu gosto poético, querida amiga.
Tenha dias abençoados!
Bjm carinhoso e fraterno de paz e bem
poemas lindos e com alma sao mesmo bonitos parabens bjs saude
ResponderEliminarOs 3 maravilhosos!
ResponderEliminarMia Couto muito verdadeiro, o que tem mais pressa nesse mundinho de ninguém é a desgraça, parece um vírus que infecta rapidinho, há lugares, povos, que não fica pedra sobre pedra. Um pulinho na África e se vê tudo de uma vez só.
"E o sonho
nunca tem pressa."
Fernando Pessoa, um dos meus preferidos, o poeta filósofo.
Interessante isso:
"Mas eu nem sempre quero ser feliz.
É preciso ser de vez em quando infeliz
Para se poder ser natural…"
Adoro a Florbela Espanca, triste, dramática e solitária, seus poemas são para ler e digerir devagar a pura realidade. Situações que todos passamos em algum momento da vida.
"Nesse triste convento aonde eu moro,
Noites e dias rezo e grito e choro,
E ninguém, ouve… ninguém vê… ninguém…"
Ótima tua postagem querida Teresa, muita sensibilidade na escolha.
Beijinho, bom domingo, mesmo em quarentena, cuide-se!
Meu carinho.
Querida Teresa, confesso aqui, muito em segredo e que ninguém nos ouça, que nunca comprei um livro de poesia; gosto muito de ler, mas, se tiver algum livro de poemax ( tenho um ou dois ), foi-me oferecido; isto para dizer que aprendi a gostar de poesia com o Comecar de novo; há blogues que me seguem e que eu sigo, com muito prazer, só dedicados à poesia e assim comecei a gostar dela e a interpretá-la. Sempre digo que não somos capazes de saber o que ia na alma do poeta quando compôs o poema, mas sabemos o que vai na nossa no momento em que a lemos. E aqui, mais uma vez, Teresa, tu trazes boa poesia que li, com muito carinho. Obrigada, querida Amiga! Deixo-te um abraço enorme e os votos de que estejam bem. Por cá, tudo normal.
ResponderEliminarEmilia
Poemas intemporais
ResponderEliminarBj
Olá, amiga, como está, neste tempo de incertezas?
ResponderEliminarPassei para lhe desejar um bom resto de Domingo.
Bjs!
Não consigo escolher um.
ResponderEliminarBeijinhos, boa semana
Teresa sou encantado com sua sensibilidade para escolha de poemas para nos alimentar, os amantes da bela poesia, o que as vezes me dá té vergonha de dizer que faço poesia, ao ler Mia, Florbela, Camões, mas é poesia e a flor da sensibilidade é que nos move querida amiga.
ResponderEliminarGratidão sempre por vir aqui e sair inspirado.
Por hoje fico aqui.
Meu carinho num abraço amiga.
Cuide-se bem e fique bem com os seus.
Beijos