Só morre
quem nunca viveu.
(“Incertidão de óbito”)
Este livro de Mia Couto contém 82 poemas.
Poemas encantadores, que falam da “celebração da eternidade, as pequenas eternidades que fazem afastar o medo da morte, do fim, da solidão, esses medos que fazem parte da nossa condição humana", como disse ele à Renascença.
Eu senti-os como uma homenagem aos seus pais, falecidos recentemente.
Começa assim o belíssimo poema que dedica ao pai:
Se partiste, não sei.
Porque estás,
tanto quanto sempre estiveste.
(“O habitante”)
(“O habitante”)
Poucas palavras. Muita Sabedoria. Quanta beleza no poema que dá título ao livro.
Há quem se deite
Há quem se deite
em fogo
para morrer.
Pois eu sou
como o vagalume:
- só existo
quando me incendeio.
(“Vagas e lumes”)
(“Vagas e lumes”)
Em romances, contos ou poemas, com palavras reais ou inventadas, a escrita de Mia Couto é descomplicada, talentosa e mágica.
Não me basta ser:
eu quero o transbordar de tudo,
o desassombro
que toda margem desconhece.
Não me basta morar:
quero ser habitado
por quem ao destino desobedece.
Não me basta viver:
quero a vida como febre,
o amor como lume e água.
No final, saberás:
o que se ama não regressa.
O que se vive
não começa.
não começa.
E o sonho
nunca tem pressa.
(“Sabedorias”)
(Porque me encontrei no brilho destes poemas, obrigada Mia.)
Vagas e lumes, de Mia Couto
Ed. Caminho, 2014
144 págs.
É encantadora a forma como este génio lida com as palavras. Ele faz magia com a língua portuguesa.
ResponderEliminarVerdade Manuel, a escrita de Mia Couto é fascinante.
EliminarQue bom é lê-lo.
Muito lindo mesmo. Que sorte a nossa poder ter contato com elas!
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