24 abril, 2020

"Os Sonetos de Shakespeare" - tradução de Vasco Graça Moura


Acusa-me de descuidar-me em tudo,
sem te retribuir grandes valias,
se a  teu amor tão grande não acudo
e o laços dele amarram os meus dias;
de que desconhecidos frequentei
e ao tempo dei direito que compraste
tão caro e de que ao vento a vela icei
a levar-me de ti longe que baste.
Regista teimosia, erros que tenho,
e junta a justas provas presunções,
inclui-me no franzido do teu cenho,
mas poupa-me nesse ódio às agressões:
        pois apelando a ti, ponho em valor
        em constância e virtude o teu amor.
(Soneto CXVII)

"É provável que o principal pilar do cânone da literatura ocidental seja a obra de William Shakespeare, poeta e dramaturgo inglês nascido em 1564, em Stratford-upon-Avon, cidade onde terá morrido em 1616. Além da sua obra dramática e de alguns poemas dispersos, os seus Sonetos constituem um monumento de composição e beleza, um atlas sobre a representação do amor, da passagem do tempo e da finitude, da paixão erótica, do desejo ou da solidão."

Quando em meu mudo e doce pensamento
chamo à lembrança as cousas que passaram,
choro o que em vão busquei e me sustento
gastando o tempo em penas que ficaram.
E afogo os olhos (pouco afins ao pranto)
por amigos que a morte em treva esconde
e choro a dor de amar cerrada há tanto
e a visão que se foi e não responde.
E então me enlutam lutos já passados,
me falam desventura e desventura,
lamentos tristemente lamentados.
Pago o que já paguei e com usura.
         Mas basta em ti pensar, amigo, e assim
         têm cura as perdas e as tristezas fim.
(Soneto XXX)


William Shakespeare escreveu 154 sonetos. 
Originalmente publicados em 1609, abordam temas como  o amor, a inconstância, a proximidade da morte, a tentação, o prazer, a passagem do tempo, e a própria poesia.
Estão todos neste livro, em versão bilingue.

(But that your trespass now becomes a fee,
Mine ransoms yours, and yours must ransom me)

Torne-se um preço a ofensa que em ti vinha;
resgate a minha a tua, a tua a minha.

"A meticulosa tradução de Vasco Graça Moura transporta para a nossa língua todo o génio do poeta inglês; é Shakespeare que escreve e ecoa na nossa língua, ora com exuberância e ironia, ora com melancolia, ora com a notável visão de um génio que sobrevive ao tempo e à morte. Só um tão notável poeta poderia traduzir Shakespeare desta forma."
Vasco Graça Moura (1942-2014), foi poeta, ficcionista, ensaísta, cronista e tradutor, além de desempenhar importantes cargos de relevância pública na vida portuguesa dos últimos cinquenta anos. Entre as inúmeras distinções que lhe foram atribuídas, contam-se o Prémio Pessoa, o Prémio Vergílio Ferreira, o Grande Prémio de Romance e Novela da APE, o Prémio Eça de Queirós. A sua obra poética está reunida em dois volumes publicados em 2012 pela Quetzal (Poesia Reunida, 1 e 2).
Entre muitos autores, traduziu Shakespeare, Racine, Dante, Corneille, Molière, Rostand, Rilke, Seamus Heaney, Hans Magnus Enzensberger, Gottfried Benn, Jaime Sabines.


Compre este livro para si, compre para oferecer àquele familiar ou amigo que gosta de Poesia.
Eu, recomendo efusivamente!

Os Sonetos de Shakespeare, tradução de Vasco Graça Moura
Quetzal Ed., 2016
345 págs.

(foto de Vasco Graça Moura, da net)

12 comentários:

  1. Teresa, também o recomendo vivamente apesar de nunca o ter lido. Por confiança intelectual que tenho no tradutor Vasco Graça Moura, que foi também outras coisas.

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  2. Bom dia:- Maravilhoso de ler. Sonetos magistrais.
    .
    Tenha um dia abençoado

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  3. Tenho os sonetos de William Shakespeare na versão original.
    Há já muito tempo que quero comprar a versão portuguesa. Tal qual como a bea, tenho confiança na competência intelectual de Vasco Graça Moura.

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  4. A tradução é mesmo uma obra de arte literária, já que não é nada fácil traduzir poesia e, por isso, só está ao alcance de muito poucos.
    Querida amiga Teresa tem um bom fim de semana.
    Beijo.

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  5. Costumo passar por aqui e li um pouco de Shakespeare. Deixo-te um abraço !

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  6. Olá, como está?

    Já tinha lido alguma coisa dele, em verso,

    mas não conhecia as traduções.

    Saudações poéticas!

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  7. Que erudição que por aqui nos aconselhas, minha Amiga Teresa. Ler Shakespeare é sempre uma inspiração. Vasco Graça Moura, um tradutor excelente.
    Uma boa semana com muita saúde.
    Um beijo.

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  8. Olá, todas as pessoas sabem da obra literária de William Shakespeare, confesso que nunca os li nem nunca tive a intenção de ler William Shakespeare, , nesta sua publicação fiquei a saber que o mesmo escreveu 154 sonetos.
    Uns anos atrás, comprei na FNAC em Albufeira "A Identidade Cultural Europeia" de Graça Moura.
    Continuação de feliz fim de semana.

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  9. Não conhecia nada dele em poesia. Apenas os romances.
    Abraço e bom fim de semana

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  10. Um belo trabalho Teresa e generosa partilha.
    Uma indicação maravilhosa amiga.
    Bom seja o domingo de uma feliz semana.
    Beijo

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  11. As minhas filhas já interpretaram hamlet na escola mais que uma vez.
    O pai é um trambolho.
    Beijo, boa semana

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  12. Teresa,
    Eu amo os sonetos em especial.
    Linda postagem.
    Boa nova semana pra nós.
    CatiahoAlc. dos Blogs
    https://comentariosporaicoisatal.blogspot.com/
    https://frasesemreflexos.blogspot.com/

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