Os homens aprenderam a disparar sem falhar e eu aprendi a voar sem me empoleirar em nenhum galho.
Publicado em 1958, este brilhante romance do nigeriano Chinua Achebe (1930-2013) - o escritor sobre quem Nelson Mandela disse «na sua companhia os muros da prisão caíam» - narra a vida de Okonkwo, guerreiro valente e estimado nas nove aldeias do Ibo, Nigéria, entre o final do século XIX e o início do século XX.
Mais, retrata o quotidiano mágico de Umuofia - aldeia onde ele vive com as suas três mulheres e os seus filhos – antes e depois do homem branco chegar, "para pacificar" a região.
Mais ainda, descreve os efeitos nefastos na sociedade africana tradicional, da cultura europeia imposta à força pelos primeiros missionários britânicos.
Mas voltemos a Okonkwo, o jovem que não herdou um celeiro, porque não havia celeiro para herdar; o jovem que tinha um medo que lhe tolhia a vida: poder vir a ser como o seu pai – um homem mandrião, fracassado, imprevidente, que morreu sem qualquer título e endividado; o jovem talhado para grandes coisas que tinha uma ambição: ser um dos mais ilustres filhos de Umuofia.
Felizmente na aldeia de homens corajosos e bélicos, leais aos seus costumes, aos seus mitos, aos seus antepassados, às palavras sábias dos seus anciãos - um homem era julgado pelo seu valor e não de acordo com o mérito do seu pai; a idade era respeitada; a proeza era reverenciada - e Okonkwo, com muito trabalho e entusiasmo, tornou-se um guerreiro valente, um agricultor abastado, um bom chefe de família, um respeitado membro do clã.
Mas um dia...
... um dia comete um crime contra a deusa da Terra e é expulso do clã, com as suas três mulheres e os seus onze filhos, para cumprir sete anos de exílio na sua terra mátria. Era a justiça da deusa Terra.
Em Mbanta ele é bem recebido pelo povo e pelos parentes da sua mãe. Depois de escutarem a sua história, dão-lhe terreno para construir cabanas para a família e terra para cultivar inhame. Okonkwo tem de voltar a trabalhar arduamente, mas o trabalho já não tem para ele o prazer que costumava ter. Ele sabe que em sete anos, em Umuofia teria alcançado grandes coisas. Lamenta cada dia do seu exílio.
Entretanto, os missionários chegam à região - fomos enviados por este grande Deus para vos pedir que abandoneis os vossos costumes perversos e falsos deuses e vos volteis para Ele, para que possais ser salvos quando morrerdes - e tudo se complica nos vários clãs.
Passados os sete anos de exílio, Okonkwo regressa a Umuofia. Encontra o clã a desmoronar-se. O colonizador branco, ignorando os costumes locais, impusera ao seu povo uma religião, um governo e um tribunal. Umuofia parecia um animal assustado com as orelhas espetadas a farejar o ar silencioso e ameaçador sem saber para que lado fugir.
Okonkwo revolta-se e é preso, e o chicote do carcereiro deixa sulcos profundos nas suas costas. Ele, ainda um guerreiro valente, vinga-se e... tudo se desmorona.
O que aconteceu? Leia, para saber.
Eu li e agora reli. Feitiço africano?
Talvez!
Quando tudo se desmorona, de Chinua Achebe
Tradução de Eugénia Antunes e Paulo Rêgo
Ed. Mercado de Letras, 2007
179 págs.
Parece bem interessante.E o livro de JLP também já o tive na mão, mas vai ter de esperar, que a bolsa não dá para tudo...
ResponderEliminarO que se fez (e faz) em nome de Deus dá sempre pano para mangas. Ou para encher muitas bibliotecas...
Beijocas