19 fevereiro, 2016

Mãe, há só uma!


O que devemos fazer quando vivemos longe da nossa mãe e ela adoece? 
Correr para junto dela, claro!
Foi o que eu fiz depois de alertada por um telefonema, precisamente no dia do seu 87º aniversário (30 de Janeiro).
Eu vivo na zona de Lisboa desde que regressei de Moçambique, em 1975. A minha mãe, depois de vários anos na capital voltou com o meu pai para a terra transmontana onde nasceu. Na altura reagi mal à separação, mas depois compreendi: era naquela terra pequenina perdida para lá dos montes que estavam as suas raízes: a sua casa, os seus irmãos e irmãs, as suas amigas da juventude.
Tudo correu bem, durante muitos anos. Eu ia lá. Eles vinham cá.
Depois... ela enviuvou e por lá quis continuar. Tudo bem. Eu ia lá em Agosto. Ela vinha cá em Dezembro.
Depois... ela envelheceu e tudo mudou. Eu ia lá às vezes na Páscoa e sempre em Agosto. Ela deixou de vir cá em Dezembro. 
Sair de lá? Nunca.
E os anos passaram, e chegou 2016, e tive de correr para junto dela.
E durante duas semanas acompanhei-a em casa e no hospital. E procurei, sem sucesso, um lar ou família de acolhimento onde a pudesse alojar, já que ela perdera toda a autonomia. Muitas alternativas. Nenhuma vaga.
Foram duas semanas de frio gélido, chuva e vento forte, nevoeiro envolvente e perigoso. Duas semanas de muita angústia. Duas semanas em que nada me confortou. Nada! Telefonemas e mensagens de familiares e amigos. Nada!
Nada, mesmo nada. Nada nos conforta quando assistimos, impotentes, ao sofrimento da nossa mãe. Nada!

Acontece que não sou filha única. Tenho uma irmã mais nova, que vive relativamente perto de mim.
A minha mãe tem duas filhas e cinco netos e seis bisnetos. Votos suficientes para se decidir trazê-la para baixo. Foi o que aconteceu no passado sábado, depois da disponibilidade da Corporação de Bombeiros da terra para o seu transporte de ambulância até casa de um neta, na Grande Lisboa.

Agora, com calma, vamos todos procurar um lar decente e acolhedor para a velhinha Maria.
Agora, sem calma, eu tento tratar uma gripe chata que me deixa prostrada, revoltada e sem vontade de folhear, sequer, um livro. Não a merecia. Agora, não!

(Desabafei. Pronto!)

2 comentários:

  1. E é para isso que cá estamos, para ouvirmos os desabafos uns aos outros, ao mesmo tempo que transmitimos experiências.Em suma, é a certeza de que não estamos sozinhos.
    Dias serenos para a Senhora Sua Mãe, para si e para toda a família.

    Bj

    Olinda

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    1. Muito obrigada, Olinda, pelas palavras de alento. Como sempre, certeiras.
      Bj.

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