126-(1916?) Anteros – O Amante Visual
“Tenho do amor profundo e do uso proveitoso dele um conceito superficial e decorativo. Sou sujeito a paixões visuais. Guardo intacto o coração dado a mais irreais destinos.
Não me lembro de ter amado senão “o quadro” em alguém, o puro exterior – em que a alma não entra para mais que fazer esse exterior animado e vivo – e assim diferente dos quadros que os pintores fazem.
Amo assim: fixo, por bela, atraente, ou de outro qualquer modo, amável, uma figura, de mulher ou de homem – onde não há desejo não há preferência de sexo – e essa figura me obceca, me prende, se apodera de mim. Porém não quero mais que vê-la, nem olho nada com mais horror que a possibilidade de vir a conhecer e a falar à pessoa real que essa figura aparentemente manifesta.
Amo com o olhar, e nem com a fantasia. Porque nada fantasio dessa figura que me prende. Não me imagino ligado a ela de nenhuma maneira, porque o meu amor decorativo nada tem de mais psíquico. Não me interessa saber quem é, que faz, que pensa, a criatura que me dá para ver o seu aspeto exterior.”
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