27 fevereiro, 2015

"A ilha" - Sándor Márai

É ridículo. Por uma mulher…
Mas porque será ridículo? Por uma mulher?
São muitas as perguntas que perturbam Viktor Henrik Askenasi, personagem central deste romance.
Encontramo-lo no Hotel Argentina, um hotel  localizado numa pequena estância balnear do Adriático onde o calor pesado e pegajoso sufoca os hóspedes e propicia uma atmosfera de sensualidade quase palpável e impúdica. Apenas uma mulher de olhos cinzentos e cabelo loiro grisalho, com andar frágil de libélula, parece fresca.
Deixemos, por agora, esta mulher de olhos cinzentos e cabelo loiro grisalho e vejamos quem é Viktor Henrik Askenasi  e o que faz no Hotel Argentina?
Askenasi é húngaro. Vive em França. É um respeitado professor no Instituto de Estudos Orientais de Paris. Ensina grego e línguas da Ásia Menor. É católico romano. É casado e pai de uma menina. A passar pela crise da meia-idade e por uma certa intranquilidade espiritual, decide procurar fora do casamento a felicidade e o amor.
Aos quarenta e sete anos, míope e visivelmente careca, Askenasi conhece uma jovem bailarina russa. Apaixona-se. Por ela abandona uma vida disciplinada, o trabalho, a família.  Com ela rejuvenesce fisicamente e é feliz. Eliz oferecia tudo o que o corpo podia dar.
Ao ousar ir contra as convenções, Askenasi é criticado por familiares, amigos e colegas: Nós, pessoas esclarecidas, às vezes enfrentamos o mistério dos sacramentos com as dúvidas criadas pela nossa razão pecadora. Mas São Paulo disse: «O matrimónio é um grande mistério.» Reflita sobre isto.
Não consegue, mas logo percebe que Eliz lhe tinha oferecido muito, mas não o suficiente… Nesse dia foi-se embora…
Abatido, deprimido e atormentado, segue o conselho dos amigos e parte em busca de um lugar tranquilo para recuperar da depressão em que se encontra. Tem esperança de que tudo se resolverá. Cometi um erro. Tenho de recomeçar tudo.
Viaja pelo Mediterrâneo e chega ao Hotel Argentina, onde num impulso irá bater à porta do quarto de uma estranha. O quarto é o Zwoundvierzig (quarenta e dois).
Anote o número…

Leia este romance soberbo para saber mais sobre a vida do professor Askenasi e descobrir  o que foi ele fazer ao quarto da mulher de olhos cinzentos e cabelo loiro grisalho … não fui à procura da paixão. Que tolice! Já a conhecia, é um passatempo banal e como ele encontrou a verdadeira solidão no cume da ilha em frente ao hotel. Finalmente sozinho!
Magnífico!

A Ilha, de Sándor Márai
Tradução de Piroska Felkai
Ed. D. Quixote, 2012
155 págs.

2 comentários:

  1. De Sandór Márai só li até agora "As velas ardem até ao fim". Gostei muito. Penso que está na hora de voltar a ele e o excerto que aqui nos apresenta parece-me um excelente incentivo.

    Abraço

    Olinda

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    1. Olá Olinda,
      Eu quero ler tudo deste autor.
      A leitura de "A Ilha" não é fácil, mas o professor Askenasi é inesquecível.
      Grande romance!
      Abraço e boas leituras.

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