- O que sabes fazer?
- Sei pensar. Sei esperar. Sei jejuar.
- Nada mais?
- Nada. Não, também sei fazer poemas.
Já eu, que não sei fazer poemas, vou guardar segredo sobre o que senti e o que aprendi com este sublime poema indiano.
Digo, apenas, que foi uma experiência enriquecedora “encontrar-me” com Siddhartha, numa viagem existencial de 155 páginas de palavras mágicas, puras como o mel das abelhas.
Mas quem é Siddhartha?
Siddhartha nasce na Índia, no século VI a.C. É filho de um brâmane erudito e gosta de conversar com os sábios, treinar a retórica com o amigo Govinda, praticar a arte da contemplação e da meditação e pronunciar, silenciosamente, o Om, a palavra das palavras.
Depois de uma infância e juventude feliz, rodeado de muita beleza, alegria, proteção, sabedoria e contemplação, e longe das misérias do mundo, começa a sentir que ali já nada o sacia e faz feliz e parte em busca do milagre do pensamento puro.
Govinda, o amigo, acompanha-o.
Pelo caminho Siddhartha despe o trajo de brâmane e veste a tanga e a capa simples cor de terra dos samanas. Com eles vai praticar a anulação de si mesmo e percorrer o caminho da autonegação através da meditação, esvaziando o espírito de todas as ideias.
Três anos depois, abandona os samanas e parte em busca de luz e paz na doutrina de Gotama, o sublime, o Buda iluminado que tinha vencido em si a mágoa do mundo.
Siddhartha venera o Buda iluminado e aprende com a sua doutrina mas, uma vez mais, decide partir em busca do seu verdadeiro Eu.
Na floresta deixa a sua vida passada e Govinda, o amigo.
É bom termos a experiência de tudo o que queremos saber.
Na sua longa viagem existencial, Siddhartha chega à cidade, onde experimenta a arte do amor com a bela Kamala, aprende a fazer negócios e torna-se rico, exerce o poder sobre as pessoas, perde-se no desprezível caminho do jogo, torna-se indolente, avarento e ambicioso. Mas também deixa de sorrir, envelhece e adoece.
Lentamente, a doença de alma dos ricos dominava-o.
Então, um dia, deixa a cidade em busca de paz e não volta mais.
Com ele leva o conhecimento de três artes nobres e inultrapassáveis: jejuar – esperar – pensar. São a sua riqueza, o seu poder e a sua força, o seu bordão seguro…
Siddhartha volta ao caminho da paz e chega às margens do rio que atravessou no início da sua longa viagem. Reconhece Vasudeva, o barqueiro que o transportou no seu barco. Com ele vai tornar-se barqueiro. Com ele vai aprender a escutar o rio, a escutar a voz da vida.
… aquela água corria continuamente, corria sempre mas estava sempre ali, para todo o sempre a mesma e, no entanto, a cada momento nova! Ah, quem isto compreendesse!
Maravilha!
Aconselho, vivamente, a leitura deste livro a quem anda perdido na busca do seu próprio caminho.
Eu não esquecerei Siddhartha - senti-me ao seu lado ao longo de toda a caminhada.
Siddhartha (1922), de Hermann Hesse
Casa das Letras, 1998
Tradução de Pedro Miguel Dias
155 págs.
Tenho-o nas pilhas a ler, comprado talvez há mais de um ano e os 4 volumes da "Guerra e paz" também. Mas se Siddhartha é capaz de ser um livro a ler em breve, os outros afigura-se-me que há-de ser tarde!
ResponderEliminarTenho tantos para ler...mas é bom sinal.
Um abraço
Olá Isabel,
EliminarO que é importante é ir lendo. Eu ando desde o príncipio deste ano com o 1º volume de "Guerra e Paz". Devagar, devagarinho chegarei ao 4º volume. Quando? Isso não interessa nada...
Siddhartha é exraordinário. Lê sem falta.
Bjs. e bom fim-de-semana.
Gostei imenso desta obra de Hermann Hesse. É muito inspirador. Não podes perder Isabel! ;)
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