01 junho, 2012

"O amor nos tempos da cólera" - Gabriel García Márquez

Só Deus sabe quanto te amei.
Estas foram as últimas palavras do doutor Juvenal Urbino para Fermina Daza, a mulher com quem viveu um casamento de cinquenta anos.
Mas podiam ser as primeiras palavras de Florentino Ariza para Fermina Daza, agora viúva, no primeiro encontro a sós, depois de cinquenta e um anos, nove meses e quatro dias de amor eterno.
E é essa longa história de amor que Gabriel García Márquez conta neste extraordinário romance. E conta-a de forma mágica, sem pressa, como só ele sabe.
Mas vamos à história em que os sintomas do amor são idênticos aos da cólera.
Local: uma pequena cidade do Caribe. Tempo: final do séc. XIX, princípio do séc. XX.
No dia do funeral do doutor Juvenal Urbino, Florentino Ariza vai apresentar condolências a Fermina Daza e repete-lhe o juramento da fidelidade eterna e do seu amor para sempre.
O amor torna-se maior e mais nobre na adversidade.
Tinham passado cinquenta e um anos, nove meses e quatro dias sobre o momento em que Fermina, então com dezoito anos, o repudiara e apagara da sua vida, depois de um longo namoro de cartas diárias, serenatas pungentes, poemas suplicantes e flores perfumadas.
Já Florentino, que na altura do rompimento tinha vinte e dois anos, pensara nela todos os dias, mantendo a paixão viva à custa de memórias, numa solidão sem revolta, atenuada esporadicamente em relações ocasionais.
As memórias de um e outro são o corpo principal deste romance, um verdadeiro hino ao amor, à velhice, à morte.
…a memória do coração elimina as más recordações e exalta as boas e, graças a esse artifício, conseguimos suportar o passado.
Tudo começa com a casual troca de olhares de Florentino (funcionário dos Correios) e Fermina (estudante e filha de um comerciante de mulas); segue-se um atribulado e secreto namoro de três anos de correspondência apaixonada; continua com a partida dela para a viagem do esquecimento (por imposição do pai); o regresso ano e meio depois; a carta dela que o deixa à beira da loucura: Hoje, quando o vi apercebi-me que o que se passou connosco não foi mais do que uma ilusão; a desilusão dele; o casamento dela com um médico e a entrada na sociedade; a decisão dele de ganhar nome e fortuna para a recuperar; o afastamento silencioso de ambos até à primeira noite de viuvez de Fermina.
Florentino Ariza sabia que estava predestinado a fazer feliz uma viúva, e que ela o faria feliz, e isso não o preocupava. Pelo contrário: estava preparado.
Assim aconteceu, num dos mais belos finais que já li.
Foi um prazer voltar a este romance fabuloso!
Como diz João de Melo (na Introdução): É um livro para viver.

O amor nos tempos da cólera, de Gabriel García Márquez
Círculo de Leitores, 1987
Tradução de Margarida Santiago
365 págs.

4 comentários:

  1. Que bem que me soube ler sobre este livro... Gostava de nunca o ter lido para o ler como se fosse a primeira vez. :)

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    1. Experimenta reler e verás que o prazer é sempre o da descoberta.
      Bjs.

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  2. Tenho este livro cá na minha estante à espera de ser lido. Não sabia bem do que se tratava mas comprei-o por causa do autor. Talvez pegue nele mais cedo do que estava à espera!

    Boas Leituras

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    1. Olá Landa,
      Se já tens o livro não há desculpa...
      Coloca-o na tua lista de livros para o verão.
      Vais adorar!
      Bjs.

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