Só Deus sabe quanto te amei.
Estas foram as últimas palavras do doutor Juvenal Urbino para Fermina Daza, a mulher com quem viveu um casamento de cinquenta anos.
Mas podiam ser as primeiras palavras de Florentino Ariza para Fermina Daza, agora viúva, no primeiro encontro a sós, depois de cinquenta e um anos, nove meses e quatro dias de amor eterno.
E é essa longa história de amor que Gabriel García Márquez conta neste extraordinário romance. E conta-a de forma mágica, sem pressa, como só ele sabe.
Mas vamos à história em que os sintomas do amor são idênticos aos da cólera.
Local: uma pequena cidade do Caribe. Tempo: final do séc. XIX, princípio do séc. XX.
No dia do funeral do doutor Juvenal Urbino, Florentino Ariza vai apresentar condolências a Fermina Daza e repete-lhe o juramento da fidelidade eterna e do seu amor para sempre.
O amor torna-se maior e mais nobre na adversidade.
Tinham passado cinquenta e um anos, nove meses e quatro dias sobre o momento em que Fermina, então com dezoito anos, o repudiara e apagara da sua vida, depois de um longo namoro de cartas diárias, serenatas pungentes, poemas suplicantes e flores perfumadas.
Já Florentino, que na altura do rompimento tinha vinte e dois anos, pensara nela todos os dias, mantendo a paixão viva à custa de memórias, numa solidão sem revolta, atenuada esporadicamente em relações ocasionais.
As memórias de um e outro são o corpo principal deste romance, um verdadeiro hino ao amor, à velhice, à morte.
…a memória do coração elimina as más recordações e exalta as boas e, graças a esse artifício, conseguimos suportar o passado.
Tudo começa com a casual troca de olhares de Florentino (funcionário dos Correios) e Fermina (estudante e filha de um comerciante de mulas); segue-se um atribulado e secreto namoro de três anos de correspondência apaixonada; continua com a partida dela para a viagem do esquecimento (por imposição do pai); o regresso ano e meio depois; a carta dela que o deixa à beira da loucura: Hoje, quando o vi apercebi-me que o que se passou connosco não foi mais do que uma ilusão; a desilusão dele; o casamento dela com um médico e a entrada na sociedade; a decisão dele de ganhar nome e fortuna para a recuperar; o afastamento silencioso de ambos até à primeira noite de viuvez de Fermina.
Florentino Ariza sabia que estava predestinado a fazer feliz uma viúva, e que ela o faria feliz, e isso não o preocupava. Pelo contrário: estava preparado.
Assim aconteceu, num dos mais belos finais que já li.
Foi um prazer voltar a este romance fabuloso!
Como diz João de Melo (na Introdução): É um livro para viver.
O amor nos tempos da cólera, de Gabriel García Márquez
Círculo de Leitores, 1987
Tradução de Margarida Santiago
365 págs.
Que bem que me soube ler sobre este livro... Gostava de nunca o ter lido para o ler como se fosse a primeira vez. :)
ResponderEliminarExperimenta reler e verás que o prazer é sempre o da descoberta.
EliminarBjs.
Tenho este livro cá na minha estante à espera de ser lido. Não sabia bem do que se tratava mas comprei-o por causa do autor. Talvez pegue nele mais cedo do que estava à espera!
ResponderEliminarBoas Leituras
Olá Landa,
EliminarSe já tens o livro não há desculpa...
Coloca-o na tua lista de livros para o verão.
Vais adorar!
Bjs.