15 junho, 2012

"Alma rebelde" - Carla M. Soares

Quem é Carla M. Soares?
Para mim será sempre a Carlinha do blog Monster Blues, que em boa hora “virou” escritora de romances e nos brindou com esta óptima primeira obra.
Se gosta de romances de época não deixe de ler a história de amor de Joana e Santiago, passada no século XIX, em Portugal. Pelo meio ficará a conhecer a história de Ester, a prima infeliz de Joana, que vive com o marido velho, cruel e mesquinho, em Lisboa.
Joana tinha sido educada para saber comportar-se e conversar socialmente e dançar, mas acima de tudo para obedecer.
A escravatura tinha sido abolida há uma eternidade, mas as meninas como ela continuavam a ser propriedade de seus pais, moeda de troca para casamentos convenientes.
E foi isso que aconteceu com Joana – a família trocou-a por um título e ainda teve de pagar muito dinheiro à nobre mas arruinada família D’Oriaga, uma das mais importantes e influentes famílias do reino.
Joana, uma jovem burguesa de vinte anos, bela e inteligente, educada para agradar e obedecer, foi “vendida” para casar com Santiago, amigo próximo do rei D. Pedro. Nunca viu o noivo e nada sabe sobre ele, para além do nome. Esperou-o para a cerimónia de noivado em casa dos seus pais, mas só apareceu o futuro sogro, o senhor D. Miguel D’Oriaga, um homem autoritário e frio, que se limitou a “fechar o contrato” e a partir de imediato.
Dias depois Joana deixa a família em Roussada (pág. 34) e parte para uma longa e penosa viagem até casa dos D’Oriaga. Acompanha-a Rosário, a sua ama e confidente.
Chega a Pero da Moça (pág. 52) com o medo nos olhos. Espera-a D. Ana, a sogra, uma mulher pequena e grisalha, afável, solitária e triste, de quem se tornará próxima, e Brites, a criada velha e gorda, que considera Santiago um “bom menino”. Ambas irão conquistar um lugar no seu coração.
Mais ninguém a espera.
Joana conhece o noivo dias depois (pág. 85). Santiago, um jovem bonito e elegante, todo coração e pele e energia, vai desarmá-la com promessas de igualdade, respeito e amor. Prepara-se o casamento. Os noivos aproveitam os dias para se conhecerem. Santiago deseja-a: Meu pai pode ter feito o seu trato, mas bem sabes que o nosso casamento não é nenhum negócio para mim. É a nossa vida. Joana, a jovem rebelde (?), não sabe se poderá confiar nele e continua a duvidar de si própria: Que tenho eu para oferecer a quem conhece o mundo e é amigo do Rei? Não sou ninguém. Não sou nada.
E chega o dia da boda (pág. 231).
O que se segue? Leia para saber.

E digo eu:
. Achei as primeiras páginas do romance um pouco maçadoras, com descrições exaustivas (a viagem de Joana) e pormenores desinteressantes e repetitivos (o convívio de Joana com D. Ana e o noivado de Joana e Santiago). Na pág. 85 deu-se o “clique” e só parei no fim.
. Até à página 231 a acção rola demasiado lenta, a partir daí tudo se precipita em estranhos saltos temporais.
. Gostei da maneira inteligente como estão contadas as duas histórias (Joana e Santiago – Ester e o marido velho), seja através do narrador, seja através das cartas trocadas entre as primas, seja, ainda, através dos desabafos escritos por Joana.
. Gostei da integração no texto de referências, mesmo que ligeiras, a factos históricos.
. Gostei do rigoroso retrato da época e do enredo inteligente.
. Gostei da escrita simples e fluente.
. Não gostei do uso excessivo de reticências. Veja-se o exemplo:
- Vou ter sempre, Santiago. Por favor… Esta não é a minha casa, não é a minha família. Tenho medo, sim, de D. Miguel, de ti, da nossa vida. Tinha… tenho medo de ter esperança e depois… depois do casamento, tu… - engoliu as palavras e os soluços. Não ia chorar.
Que tenha outras mulheres, como a Alice?
Joana abanou a cabeça em negação.
- Não. Sei que devo esperá-lo… é… todos os homens…
Toda a satisfação desapareceu do rosto de Santiago.
Nada que não se corrija.
Carlinha, espero pelo próximo!

Alma rebelde, de Carla M. Soares
Porto Editora, 2012-06-14
280 págs.

3 comentários:

  1. Muito obrigada, Teresa.
    Ficam devidamente anotados os reparos, que fiz z mim própria numa releitura do livro. Por incrível que possa parecer, essas coisas que te desagradaram não fazem habitualmente parte do meu estilo. :)
    Posso assegurar-te (porque já estou a trabalhar nele, que o próximo romance de época, queira a Porto Editora publicá-lo, tem muito poucas reticências e exclamações e é, creio, mais dinâmico no início!

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  2. Venha ele.
    Carlinha, desejo-te o maior sucesso. Editar, neste país de vaidades e invejas, não deve ser fácil.
    Bjs.

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  3. Olá
    Adorei este livro, foi uma delícia, até mesmo a descrição da viagem de Joana me fizeram viajar com ela.
    Beijinhos e boas leituras.

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