Canção Para Minha Mãe
E sem um gesto, sem um não, partias!
Assim a luz eterna se extinguia!
Sem um adeus, sequer, te despedias,
Atraiçoando a fé que nos unia!
Terra lavrada e quente,
Regaço de um poeta criador,
Ias-te embora antes do sol poente,
Triste como semente em calor!
Ias, resignada, apodrecer
À sombra das roseiras outonais!
Cor da alegria, cântico a nascer,
Trocavas por ciprestes pinheirais.
Mas eu vim, deusa desenganada!
Vim com este condão que tu conheces,
E toquei essa carne macerada
Da vida palpitantes que mereces!
Porque tu és a Mãe!
Partiste um dia aos gritos e aos arrancos,
E partirás ainda pelo tempo além,
Mesmo sem madre e de cabelos brancos!
És e serás a faia que balança ao vento
E não quebra nem cede!
Se te pediu a paz do esquecimento,
Também a força de lutar te pede!
Respira pois, seiva da duração,
Nos meus pulmões até, se te cansaste;
Mas que eu sinta bater o coração
No peito onde em menino me embalaste.
Poema de Miguel Torga, Portugal (1907-95)
Pintura da romena Anca Bulgaru.
Não conhecia o poema.
ResponderEliminarGostei especialmente da pintura.
Beijinhos e um bom domingo, dia da Mãe:)
Obrigada, Isabel.
EliminarUm excelente domingo, também para ti.
Beijo.
Merecida homenagem às mães, Teresa, com o belo poema de Miguel Torga. Aproveito para dar o meu abraço às mães de Portugal, neste dia que é delas, as bravas mães.
ResponderEliminarUm abraço, Teresa.
Pedro
Obrigada, Pedro, em nome de todas as mães portuguesas.
EliminarAbraço.
Pois é, minha querida amiga... o que te diria ao ler esse belo poema? Está tão recente ainda, creio que um tanto dolorida ainda a tua perda... Mas o que importa agora, é tudo que ficou dentro do teu coração, o amor, a gratidão, a falta, a imagem...E teu espírito indo ao encontro do dela.
ResponderEliminarGrande beijo e meu carinho, querida amiga.
Te entendo muito.
Beijo grande e obrigada pelo carinho.
EliminarDo coração.
Olá, a pintura é maravilhosa, assim como todos os poema de Torga são lindos e profundos, prestou uma linda homenagem a todas as mães.
ResponderEliminarFeliz semana,
AG
Um poema cru e forte, mesmo no género em que Torga cantava a sua terra de montanhas graníticas.
ResponderEliminarGostei muito desta postagem.
Beijinhos
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A sua partida causa-nos sempre surpresa, como se devessem viver eternamente. Quase uma "traição". Aos poucos, vamos compreendendo que já tinham feito o seu percurso e que também precisavam descansar. Lembro-me da minha todos os dias e sinto sempre um estiletezinho no coração.
ResponderEliminarBeijinhos
Olinda