27 março, 2020

"C" - Tom McCarthy

Ao respirar, vivemos; ao falar, comungamos do sublime. Nas nossas conversas uns com os outros – quando ouvimos e respondemos – criamos as nossas ligações: amizades, inimizades e amores.
Ao longo de 395 páginas, repartidas por quatro capítulos, Cde Carbon: o elemento básico da vida - dá a conhecer, de forma engenhosa, a fantástica vida de Serge Carrefax (1898-1922), uma vida curta, marcada pelos mistérios da comunicação, num período em que o mundo passa por grandes mudanças e tragédias.
1º Coifa – descreve a infância de Serge em Versoie, na província inglesa, num ambiente familiar único: o pai é um homem fascinado pelas experiências com as comunicações sem fio, que ao mesmo tempo dirige uma escola para surdos-mudos; a mãe é responsável pela produção de seda; Sophie - a irmã com quem ele tem uma relação que o marcará para toda a vida - domina a química, a botânica e a criptografia.
Após a morte estranha da irmã, Serge deixa a casa da família e busca numa estância termal remédio para os seus problemas de saúde.
2º Chuto – o eclodir da I Guerra Mundial leva Serge a ingressar na Academia da Força Aérea. Vai pilotar um avião que ao sobrevoar o lado alemão emite sinais codificados que guiarão as bombas inglesas para os alvos inimigos. Descobre a cocaína e começa a andar permanentemente dopado.
3º Colisão – a guerra acaba e Serge viaja compulsivamente entre Versoie e Londres, como se ”ao andar bastante de um lado para o outro o mundo se arrumasse à sua volta”. Em Londres estuda arquitectura, trabalha no Ministério das Comunicações e “perde-se” em sessões de espiritismo e nos prazeres do sexo e das drogas.
4º Chamada – Serge parte para a derradeira aventura no Egipto. Sempre ligado às comunicações é convidado para colaborar na montagem da rede de comunicações sem fios do Império Britânico. Morre em 1922, o ano da fundação da BBC.
A música também transmite sinais (...) Quando Serge fecha os olhos, os sinais transformam-se em imagens: palavras e formas desenhadas a luz contra um vazio negro, apagadas, escritas de novo, mundos que se criam e desfazem...
E mais não desvendo!

Achei a escrita de Tom McCarthy inspirada e inteligente, mas demasiado descritiva e repetitiva. Exigência narrativa? Talvez!
Uma coisa é certa, este é um romance original, brilhante e colorido. Apercebi-me, logo na primeira página, que o autor usava e abusava das cores: pássaros negros, mala castanha, aparelho… preto, papel amarelo, frutos brancos entre folhagem verde e vermelha... Então, fui lendo e anotando as cores por capítulo. O resultado é este:

Cor
1º Capítulo
2º Capítulo
3º Capítulo
4º Capítulo
Total
negro
22
14
2
22
60
preto
7
3
3
3
16
amarelo
5
10
2
1
18
laranja
4
5

1
10
cinzento
7
2
1
1
11
branco
18
16
4
10
48
encarnado
1


1
2
verde
8
7
3
3
21
azul
14
7
4
4
29
vermelho
17
15
5
3
40
dourado
3
1

1
5
roxo
2


1
3
prateado
2


1
3
castanho
9
10

1
20
carmesim
3


2
5
lilás

1


1
violeta

1


1
púrpura



1
1
rosa



1
1

Certamente deixei escapar algumas, mas estas bastam para eu dizer que cor é coisa que não falta neste romance.
Confira, lendo ou descodificando, como queira!

(Para mim, leitura é também diversão!) 

C, de Tom McCarthy
Editorial Presença, 2011
Tradução de Maria João da Rocha Afonso
395 págs.

6 comentários:

  1. Jamais eu me daria esse trabalho (que não me divertia), Teresa. Bom, abro uma excepção para o caso de ter de falar ou escrever sobre o livro (afinal, compreendo, a Teresa escreveu aqui sobre ele).
    Ok, tem razão, cada um diverte-se como pode e de acordo consigo; quem sabe a Teresa é como o Joaquim e precisa de tabelas, gráficos e números e tal:).
    Um abracinho com tom de cafeína não vai agora? Vai, vai. Se não lhe apetece, pois ponha-o aí de lado para quando faça falta, ok?
    E que o fim de semana a encontre bem disposta e pronta a inventar mais uns números divertentes:).

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    1. Acredite Bea, que tudo isto me divertiu...
      Cafeína eu? Nunca! Um café e ficaria dias seguidos sem dormir.
      E então, não seriam só as cores a aparecer na minha tabela mas todas as palavras, sei lá, começadas por a, por b, por c... (de cafeína).
      Bom fim de semana, um abracinho colorido...Para cinzentão basta a vida.

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    2. O abracinho era meu. Para si. Levava um gostinho a cafeína sim. Mas pode sempre arredá-lo. Se bem que num abraço a dita é capaz de não fazer esse efeito de dias sem dormir.
      Bom fim de semana, então.

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  2. Tenho andado um pouco afastada da leitura.

    Isabel Sá  
    Brilhos da Moda

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  3. OLá:- Já li muito na vida. Grandes livros que tinha que decorar e/ou saber interpretar. Agora, leio menos. A não ser que sejam jornais desportivos.
    .
    Um domingo feliz

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  4. Que beleza de leitura amiga. E uma generosa partilha com estes resumos que aguçam a curiosidade. Interessante esta observação das cores e contabilizadas.
    Show Teresa.
    Beijo e boas leituras neste recolhimento.

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