No tempo em que eu ainda trepava às árvores – há muitos, muitos anos, há dezenas de anos atrás, media apenas pouco mais de um metro, calçava o número vinte e oito e era tão leve que podia voar – não, não estou a mentir, naquele tempo eu podia de facto voar – ou pelo menos quase...
Assim começa este livrinho encantatório que entrecruza histórias de um rapazinho / narrador e do senhor Sommer, que se instalou na aldeia pouco depois da guerra.
Pouco ou nada se sabe sobre o senhor Sommer, mas todos o conhecem, pois é visto a caminhar apressadamente por montes e vales, estradas, bosques, de aldeia em aldeia, do nascer do dia ao pôr do sol, todos os dias do ano. Caminha apoiado num cajado e nas costas transporta uma mochila com o lanche e uma capa de borracha com capuz, que usa quando a chuva o surpreende. Quando alguém lhe dirige a palavra limita-se a abanar a cabeça, mal humorado. Ao rapazinho parece que ele move os lábios, como se falasse para si próprio, enquanto caminha.
Já o rapazinho, frequenta a escola, aprende a andar de bicicleta, tem aulas de piano, tem segredos, enfrenta injustiças e dificuldades, até ao dia em que decide despedir-se da vida, despenhando-se do topo de uma árvore na floresta.
Fechei os olhos e contei: um... dois... e de repente apareceu o senhor Sommer, que ofegante se deitou debaixo da árvore e soltou um longo suspiro, um queixume suplicante, como vindo de um doente atormentado com dores, depois lanchou e afastou-se rapidamente.
De repente deixei de ter vontade de saltar para o abismo.
Seis anos depois o rapazinho tem outro encontro com o senhor Sommer. Foi o último.
Numa noite fria de Outono vê-o caminhar lago adentro, sem hesitações, a afundar-se até desaparecer completamente.
De uma vez por todas, deixem-me em paz!
A recordação desta frase implorante que ouviu num dia de muita chuva ao senhor Sommer, e o queixume suplicante na floresta, mantiveram-no quieto e calado, deixando partir em paz um homem que passara toda a sua vida a fugir da morte.
Que maravilha de livrinho e de ilustrações, que nos fazem voar (e pensar) da primeira à última página.
A história do senhor Sommer, de Patrick Süskind
Ilustrações de Sempé
Sextante editora, 2007
Tradução de Maria Castro Dias
102 págs.
De Patrick Suskind, li "O Perfume" (duvido que ainda alguém não tenha lido) é de facto um livro e uma estória excepicional.
ResponderEliminarLi também a pomba, um pequeno conto e já não apreciei tanto.
Este Sr.Sommer, nunca li. Fiquei curioso.
Beijinhos e boas Leituras
Já agora Boa Páscoa.
Nuno Chaves
Olá Nuno,
EliminarFalhei a resposta ao teu comentário. Desculpa!
Este é um livro tão pequenino e tão lindo que aconselho a toda a gente.
Bjs.
Gostei de "O Perfume" do mesmo autor, mas este parece ser muito diferente! Vamos ver... :)
ResponderEliminarBeijocas!
Olá Teté,
EliminarVamos ler...:)
Ainda não comprei este livro mas está na minha lista. Do Patrick já li 3:
ResponderEliminar-A Pomba;
-O Contrabaixo;
-O Perfume.
Também quero ler «Sobre o amor e a morte», um ensaio do autor também.
Olá Miguel,
EliminarEu li "A Pomba" (estranho mas interessante), "O Perfume" (aromático e arrebatador)e agora este livrinho lindo.
Não conheço (nem tenho) mais nada do autor.
Vou procurar.
eu já li e adorei!
ResponderEliminarRecomendo vivamente, o meu filho de treze anos também leu e adorou a história de vida.
ResponderEliminargostei muito tambem
ResponderEliminarAdorei o livro.
ResponderEliminarTenho 13 anos e estou neste momento a fazer um trabalho sobre a história para a escola.
Para quem ainda não teve oportunidade para o ler recomendo muito
Olá, Rita!
EliminarObrigada pela teu comentário. Este é realmente um livro adorável.
Aproveito para te desafiar a leres os outros dois livros de Patrick Süskind que li e publiquei aqui no rol. Depois, deixa-me a tua opinião.
Beijo, Páscoa feliz.
(Tenho andado afastada deste escritor. Graças a ti, vou voltar a procurá-lo nas livrarias.)