PROCURO-TE
Procuro a ternura súbita,
os olhos ou o sol por nascer
do tamanho do mundo,
o sangue que nenhuma espada viu,
o ar onde a respiração é doce,
um pássaro no bosque
com a forma de um grito de alegria.
Oh, carícia da terra,
a juventude suspensa,
a fugidia voz da água entre o azul
do prado e de um corpo estendido.
Chamo por ti, e o teu nome ilumina
as coisas mais simples:
o pão e a água,
a cama e a mesa,
os pequenos e dóceis animais,
onde também quero que chegue
o meu canto e a manhã de maio.
Um pássaro e um navio são a mesma coisa
quando te procuro de rosto cravado de luz.
Eu sei que há diferenças,
mas não quando se ama,
não quando apertamos ao peito
uma flor ávida de orvalho.
dedos para amortalhar crianças,
dentes para roer a solidão,
enquanto o verão pinta de azul o céu
e o mar é devassado pelas estrelas.
Porém, eu procuro-te.
Antes que a morte se aproxime, procuro-te.
Nas ruas, nos barcos, na cama,
com amor, com ódio, ao sol, à chuva,
de noite, de dia, triste, alegre - procuro-te.
Eugénio de Andrade (pseudónimo de José Fontinhas), poeta, prosador e tradutor, nasceu na Póvoa da Atalaia, concelho do Fundão, Portugal, a 19 de Janeiro de 1923.
Estreia-se em 1939 com a obra "Narciso", torna-se conhecido em 1942 com o livro de poemas "Adolescente", afirma-se definitivamente com a colectânea "As Mãos e os Frutos" (1948).
"Marginal a grupos ou movimentos, a sua obra traduz com sobriedade os momentos de plenitude que ocorreram na vida, sejam eles de sensualidade ou de dor, sem inibições nem camuflagem, numa sinceridade contida por uma elegante reserva." Considerado um dos grandes poetas portugueses contemporâneos, tem poemas seus traduzidos em vários línguas.
Faleceu no Porto, a 13 de Junho de 2005.
"Entre lábios e lábios não sabia
se cantava ou nevava ou ardia."
(Eugénio de Andrade)
(fotos da net)
"Marginal a grupos ou movimentos, a sua obra traduz com sobriedade os momentos de plenitude que ocorreram na vida, sejam eles de sensualidade ou de dor, sem inibições nem camuflagem, numa sinceridade contida por uma elegante reserva." Considerado um dos grandes poetas portugueses contemporâneos, tem poemas seus traduzidos em vários línguas.
Faleceu no Porto, a 13 de Junho de 2005.
"Entre lábios e lábios não sabia
se cantava ou nevava ou ardia."
(Eugénio de Andrade)
(fotos da net)
Foi um grande poeta.
ResponderEliminarGostei das escolhas poéticas que fizeste.
Teresa, tem um bom fim de semana.
Beijo.
E tanto e tão bem ele escreveu... e traduziu...
EliminarObrigada, meu amigo.
Beijo, bom fim-de-semana.
Um pequeno aditamento para incluir "Pureza" (1945) que, como os dois anteriores livros, foi renegado pelo Poeta. Dos três primeiros livros, recuperou cerca de 10 poemas a que deu o nome de "Primeiros Poemas".
ResponderEliminarObrigada por aqui acrescentar mais informação sobre a obra do poeta.
EliminarEu não indiquei o terceiro livro que ele renegou, assim como não indiquei todos os outros publicados depois de "As mãos e os frutos".
Tenho em livro os dez poemas recuperados, os tais "Primeiros Poemas".
O poema "Procuro-te" (acima) retirei-o do livro "As palavras interditas", 1951.
Uma vez mais, obrigada!
Querida Teresa,
ResponderEliminarDeste autor, gosto muito do livro: “Memória Doutro Rio” (1988). A amiga que diz sofrer por vezes de insônia, terá na narrativa desta bela obra, isto que também se revela com “Eugénio de Andrade”...
“...São muito vastas as noites de insônia, quase sempre atravessadas por um rio. Quando não chove, confusamente dispo-me atrás dos amieiros...”
O cara era tão bom, que levava “gênio” até no nome.
Beijos!!!
Olá, olá, Douglas!
Eliminar- "(...)O meu mal é sem remédio. O que eu queria era água, água. Água de quatro bicas, sobre a garganta. Para adormecer. Com o sol na boca." ("Insónia", do mesmo livro.)
Conheço mal a obra do poeta, mas ainda vou a tempo.
Beijo, bom fim-de-semana.
Querida Teresa,
EliminarÉ certo que o nome do poeta é: José Fontinhas... Mas, a escolha de seu codinome/pseudônimo, é “deveras GENIAL”.
Retribuo teu beijo e desejo de bom final de semana!!!
Eugénio de Andrade escreveu muito. Julgo não ter lido as traduções que fez, salvo de alguns versos. Mas, verso ou prosa, a sua escrita é poesia da boa e com assinatura. Oxalá tenha tido consciência do prazer que legou aos leitores.
ResponderEliminarBom fim de semana, Teresa
Ando a descobrir esse prazer, nos três volumes do Circulo de Leitores (1987). As traduções estão todas no segundo volume. Poemas de García Lorca são imensos!
EliminarBeijo Bea, bom fim-de-semana.
Bom, pensei ao ler o post que houvesse outras coisas. Também tenho esses três volumes do circulo de leitores, já um bocadinho amarelecidos pelo tempo e bastante gastos. Mas um dos meus meninos deu-me a poesia reunida num volume de capa muito bonita. E esse dorme à cabeceira, embora, por facilidade de manuseamento e escritas laterais mais os sublinhados, seja nos outros que pego se quero ler a sério.
EliminarOlá, Teresa!
ResponderEliminarComo gosto de conhecer poetas, em especial os que falam a nossa língua portuguesa, foi muito bom conhecer um pouco da vida e da obra de Eugénio de Andrade, que, como tu dizes, era conhecido pelo pseudônimo de José Fontinhas. Sem dúvida, minha amiga, uma bela postagem. Parabéns. Obrigado pela importante partilha.
Um excelente final de semana, Teresa.
Beijo.
Pedro.
Meu amigo Pedro, José Fontinha é que o verdadeiro nome do poeta Eugénio de Andrade.
EliminarComo sei que gostas de saber mais, reproduzo a pergunta que um dia lhe colocaram sobre a escolha do «codinome» (como diz o nosso amigo Douglas) Eugénio de Andrade:
"- Eugénio de Andrade é um pseudónimo, não é verdade? Que razões o levaram a ocultar-se?
- À distância a que hoje me encontro - era muito jovem quando escolhi o nome que uso - parece-me óbvio que havia então um propósito de «ocultação». Propósito tanto mais de estranhar quanto a minha poesia foi sempre uma procura de «desnudamento». Mas nisto deve estar a razão - sentia-me nu nos versos que escrevia, daí a necessidade de me esconder. (...)"
Beijo, poeta de nome verdadeiro: Pedro Luso!
Bom fim-de-semana.
Amigos Teresa e Pedro,
EliminarSegundo minhas pesquisas biográficas, sobre este autor, o funcionário público, “José Fontinhas”, escreveu um livro de versos: “Pureza” (1945), sendo sua única composição com seu nome real, preferindo após esta publicação, utilizar o codinome/pseudônimo: “Eugénio de Andrade”, que segundo o próprio “Fontinhas”, foi com intuito de homenagear outro grande poeta Luso: “Eugénio de Castro e Almeida”, que assim como “José Fontinhas”, viveu longe da vida social, justificando suas raras aparições públicas, que quando ocorriam, sempre eram com cunho literário.
Espero ter sido útil no esclarecimento deste fato apresentado.
Abraços para ambos e bom fim de semana!!!
Obrigada amigo, adoro aprender!
EliminarBeijo.
De grandeza ímpar oferece-nos poemas magistrais
ResponderEliminarE cada vez mais vamos agregando saberes poéticos notáveis deste artífice genial
Um feliz domingo Teresa
Beijinhos
Gracita, é tão bela a obra do poeta que sempre que leio um poema quero logo partilhá-lo aqui no Rol. E não posso/devo, não é?!
EliminarBoa semana. Beijinhos.
Uma bela memória para iniciar a semana em grande.
ResponderEliminarBeijo, boa semana
Grande é o poeta e demorei a encontrá-lo.
EliminarBeijo, espero que estejam todos bem, boa semana.
Chorei no dia em que morreu Eugénio de Andrade. Não consigo esquecer o poeta dos poemas mais simples e ao mesmo tempo mais difíceis de fazer…
ResponderEliminarUma boa semana, minha querida Amiga Teresa.
Um beijo.
Querida amiga o teu sensível coração de poeta tinha de sentir a perda do «poeta da terra».
EliminarEstou a aprender a entender os tais «poemas simples... difíceis de
fazer».Espero não desesperar.
Beijo, boa semana (de muito sol).
Nossa!! Gostei muito de Eugénio de Andrade pela simplicidade e dramaticidade de sua verve poética, forte:
ResponderEliminarTer só dedos e dentes é muito triste:
dedos para amortalhar crianças,
dentes para roer a solidão,
enquanto o verão pinta de azul o céu
e o mar é devassado pelas estrelas.
Porém, eu procuro-te.
Antes que a morte se aproxime, procuro-te.
Nas ruas, nos barcos, na cama,
com amor, com ódio, ao sol, à chuva,
de noite, de dia, triste, alegre - procuro-te.
Gostei muito, tocou...
Beijo, querida, uma boa semana!
nao conheço mas gostei mt do post bjs
ResponderEliminarBoa tardinha, querida amiga Teresa!
ResponderEliminarA começar pela bela imagem, o poema postado é lindo.
Gostamos de ler poesias com um conteúdo amorizado. Tão bonito!
Tenha dias abençoados e felizes!
Bjm carinhoso e fraterno
Uma escolha perfeita.
ResponderEliminarBeijinhos
Que maravilha de escolha Teresa na partilha deste poeta.
ResponderEliminarQue importa ter dentes para roer a solidão, enquanto o verão pinta o ceu de azul... O máximo amiga.
Muito bom reler amiga.
Grato.
Semana linda para ti.
Beijo amiga.