Desta vez não foi uma fotografia nem uma música a transportar-me para bons momentos do passado, foi o comentário que uma querida amiga deixou na minha postagem sobre "Joker", o filme.
Diz ela, no final do comentário:
" (...) Vou pedir pela TV, sou o contrário da nossa Emília, gosto de sair para outras coisas, filmes me esparramo no sofá"E respondi eu:
"(...) Eu, viciada em filmes (vício bom!), vejo mais agora derramada no sofá.
Tais, tu esparramas-te no teu sofá, eu derramo-me no meu. Coisa boa!
(Aprendi a «derramar-me» no sofá, com um dos meus escritores favoritos. Um dia destes digo-te quem é ele.)"
E aqui estou eu a dizer-te, querida amiga, que o tal escritor que derrama o verbo "derramar" na sua escrita inteligente, poderosa, violenta, viciante é: Cormac McCarthy (1933-)
Deixo alguns exemplos retirados do seu romance "A travessia":
"… onde o regato se derramava para sul.
… em cujo seio o mundo audível se derramava.
… olhou para ele à luz que se derramava da porta aberta.
… a luz do meio-dia se derramava sobre os campos.
… o cabelo escuro dela derramava-se sobre o ombro do irmão…
(“Derramar”, do inglês spill, shed, pour in)
(Fotos da net.)
… examinou aqueles mundos derramados nas suas pálidas ignições sobre a noite sem nome…
…cabelo claro que ele já não cortava há muito tempo derramado em volta dele…"
Mas... também me encontrei com o verbo "derramar" no livro "Contos", de Virginia Woof (1882-1941):
"… refulgiam róseas e de novo refulgiam alaranjadas quando o sol, derramando-se pelas macieiras, incidia nelas. (No pomar)
… quando Miss Milan lhe pusera o espelho na mão e Mabel se olhara com o vestido novo, finalmente pronto, uma felicidade extraordinária se derramara no seu coração. (O vestido novo)
… o ramo de uma árvore à sua frente embebia-se e penetrava a sua admiração pelas pessoas daquela casa; derramava-se em gotas de outro; ou permanecia erecto como uma sentinela. (Resumo)
… Sasha já não se sentia capaz de derramar por cima do mundo inteiro a sua nuvem de ouro. (Resumo)
… o espelho começou a derramar sobre ela uma luz que parecia fixá-la, que parecia um ácido corroendo o acessório e superficial para deixar apenas a verdade. (A senhora no espelho: uma reflexão)"
Há uns anos diverti-me a sublinhar, a guardar e a publicar estas mesmas frases aqui no Rol.
O teu comentário, amiga, transportou-me àqueles momentos de boas leituras e gostosas partilhas. Obrigada!
Brincadeirinha à parte, brindemos à (nossa) amizade. Sem "derramar" lágrimas!
O teu comentário, amiga, transportou-me àqueles momentos de boas leituras e gostosas partilhas. Obrigada!
Brincadeirinha à parte, brindemos à (nossa) amizade. Sem "derramar" lágrimas!
(Fotos da net.)
Como é bom quando de um comentário, uma imagem que seja, surge um texto tão legal e derramando motivos de aplaudir!!! Adorei! beijos, chica
ResponderEliminarObrigada, amiga Chica!
EliminarContigo aprendi a derramar o olhar no céu.
Beijo.
Um homem e uma mulher que derramaram palavras extraordinárias‼
ResponderEliminarVirgínia Woolf uma obsessão literária desde a minha adolescência. Cormac McCartney um pouco mais tarde‼‼
Derramo um beijinho de agradecimento por cima deste excelente texto 💙
Obrigada, Teresa!
EliminarContinuando no mesmo verbo, contigo relembro dois anos de estudo de alemão derramados nos anos seguintes num enorme buraco negro. Acontece!
Beijo.
rsssssss, querida amiga, não cheguei tarde não, é que aqui são 3 horas a menos do que em Portugal! Mas cedo ou tarde, me esparramo ou me derramo nessa amizade que adoro, que conversamos quase que diariamente. Nunca pensei que eu fosse 'esparramar-me' numa amizade tão longe, atravessando um oceano! Interessante o que é amizade, querida, a distância não pesa nada! Aqui, na minha cidade, na minha rua, no meu prédio, não tem uma Teresa! Só encontro essa criaturinha no meu coração.
ResponderEliminarVeja que mimo gostoso se consegue fazer com um sofá!
Ah, ia esquecendo da Virginia Woof...ótima, mas outra hora falo nela, rss
Beijinho, Alegria! Agora vou pro meu sofá, um pouquinho só, hoje tem a Marisa... sabes quem é!
E de súbito derramei uma lágrima solitária. Mas logo outras se lhe juntaram e... derramei um oceano inteiro. Transparente como a nossa amizade.
EliminarBeijo, querida. Para sempre amigas!
A linguagem é rica, dá para tudo. E pelos exemplos que dás, de autores que amo como Cormac McCartney ou Virgínia Woolf, vejo como é fácil derramarmo-nos naquilo que gostamos…
ResponderEliminarUm grande beijo.
Deixa-me dizer, querida amiga, que gosto da luz que se derrama dos teus poemas. E gosto de te saber aqui pertinho de mim.
EliminarBeijo.
Boa noite de paz, querida amiga Teresa!
ResponderEliminarDerramo-me quando minha amiga vem me visitar de alguma forma na certeza de que uma amizade leal deve levar ao lugar nao comum do nosso 💓.
No meu, tem um cantinho reservado e especial para que se sinta bem acolhida.
Tenha dias felizes!
Bjm carinhoso e fraterno de paz e bem
Olhando para trás constato que num dia nos conhecemos e logo num outro nos fizemos amigas e em sintonia dois corações derramaram carinho, verdade e respeito.
EliminarBem acolhida eu fui no seu coração e bem acolhida você foi no meu. Deus sabe como fazer as coisas!
Beijo, querida amiga.
Começando meu Domingo chorando emocionada... como amo pessoas que são sensíveis e sinceras. Deus me deu a Graça de tê-la conhecido e, de graça, ter nos feito muito amigas. É um tesouro impagável.
EliminarSeja MUITO feliz, querida amiga!
Bjm carinhoso, minha amiga do coração
https://espiritual-marazul.blogspot.com/2019/10/2-anos-do-blog-o-amor-desperta-todos.html
ResponderEliminar(nao precisa publicar)
Visita prometida!
EliminarBjs.
Uma alegria quando passa em qualquer blog meu, só carinho e delicadeza sem fim. Obrigada, minha flor. Bjm carinhso de gratidão
EliminarNa minha terra, estar derramada tem outro significado. Mas gostei de ler sobre o derramamento no sofá.
ResponderEliminarBoas leituras, Teresa. Derramadas, claro:)
Bea, fiquei aqui derramando curiosidade...
EliminarHá muito que não te visito. Sei que não levas a mal.
Beijo.
é que nem pensar; cada um passeia como e por onde quer e pode. E nestas coisas da net, conversas e posts estão sempre lá.
EliminarBonito post bjs
ResponderEliminarObrigada, Isa!
EliminarJá derramei o olhar nos seus bolinhos de endives e maçã. Hum, gostei!
Beijo.
Gostei de ler:))
ResponderEliminarHoje, do Gil António :-O amor e a sua ausência
Bjos
Votos de uma óptima Noite.
E eu gostei de o saber. Obrigada!
EliminarLogo, logo, derramarei o olhar nesses versos de amor e ausência.
Bjs.
Mas que post mais interessante e mais engraçado, querida Teresa! Uma grande Amiga minha, perante um assunto cinematográfica, diz que fica esparramada no sofá, outra, também muito Amiga, fica derramada e eu, depois de ler com cuidado todas estas frases, fico encantada, muito admirada e extremamente espantada, tão espantada que, se não estivesse comodamente deitada, esparramada, derramada na minha cama, com certeza estaria estatelada no chão. Estatelada, porque é de se cair para trás de espanto quando nos deparamos com uma pessoa que sabe como , verdadeiramente se lê um livro, tendo o extremo cuidado de sublinhar frases que ddpois são partilhadas com os amigos. Ela já sabe, mas, para que todos saibam também deixo aqui bem esparramada, bem derramada a promessa por mim juramentada e confirmada de que, a próxima vez que pegar num livro para ler, as páginas serão cuidadosamente lidas e, com um lápis bem afiadinho, serão sublinhadas as frases que me tocarem fundo no meu coração e com toda a certeza, lágrimas só serão derramadas se o livro for dramático e esparramar em mim toda a tristeza que um drama em geral contém. Voltando ao tal do sofá, querida Teresa, não tenho tido oportunidade de me esparramar ou derramar ou simplesmente me deitar no dito cujo, pois tenho a Beatriz que, se não estiver de olho nela, se esparrama e me derrama tudo o que encontrar pela frente. Está uma sapeca e não dá sossego à vovó, gatinhando de um lado para o outro. E agora, para que não derrames sobre mim um olhar de saturada pelo tanto que tens de me ouvir, despeço-me , esparramando por todos os lados beijos e abraços, com a esperança de que , pelo menos alguns sejam derramados aí bem juntinhos a ti. Foi isso que pedi...vamos ver se, com tanto esparramento, as coisas correm mal e nem sequer unzinho chega.
ResponderEliminarNão vou derramar nenhuma lágrima, porque, logo, logo, voltaremos a conversar, mas...com outras palavras...por favor!!!!
Emília
Queria Emília, amei este teu tanto esparramento!
EliminarE esparramada eu derramei mil lágrimas. (Sou chorona! Verto lágrimas por tudo e até por nada. Quase tantas quantas as frases que sublinho nos livros que leio!)
Sabes amiga, sempre que a vida me troca as voltas, eu pulo para dentro de um dos teus abraço apertados e ali, esparramada, derramada ou estatelada, espero que a tempestade passe. Resulta!
Agora, sou eu a derramar mil abraços e beijinhos para ti e para a "sapeca". Derrama-te no chão com ela em brincadeiras sem fim. Há lá coisa melhor que uma avó esparramada no chão com uma neta. Eu adoro!
(Como é que tu achas que alimento o "Pétalas de Sabedoria"? Lendo com um lápis afiado na mão, claro!)
Outras palavras? Palavras terás!
E é isso que faço, derramo-me em cima do tapete onde estão esparramados os brinquedos e a sapeca esparrama-se por cima de mim, tenta passar para o outro lado e fica estatelada no chão a rir-se. O que vale é a fofura do tapete para não ficar derramada em lágrimas. Mesmo assim, põe a mão na cabeça para vermos que doeu. E agora, mudando as palavras, fico encantada, abobada ( será que existe esta palavra? ) e de alma lavada até à hora de dormir. Mais uma vez, deslumbrada ( não é exagero ) com esta conversa bem humorada, deixo-te sossegada, para poderes tratar do almoço, pois eu vou fazer o mesmo . Antes, porém, ficam muitos, muitos abraços para que fiques aconchegada nesta tarde de inverno, ( pelo menos aqui, chove muito ) Não te esqueças da manta na hora do derramamento
EliminarEmilia
rsssss, essa nossa querida amiga Emília é ótima, eu já lhe disse para escrever crônicas! Não perco seus comentários inteligentes e divertidos! É outra de minhas queridas amigas!
EliminarEsparramada, derramada, esfacelada, decapitada... vamos nos divertindo.
Beijinho, Emília e Teresa! Invadindo aqui o espaço de vocês, mas por uma boa causa.
A Teresa que me desculpe, mas tenho que invadir este espaço também, Tais! A cronista mor da blogosfera, está há muito firmada, reconhecida até em cartório e não vai aqui umazinha, novata na arte da escrita armar-se em cronista. Tenho muito a aprender nessa arte e muito mais a aprender nas outras tuas artes, por isso amiga, vamos deixar as coisas como estão, divertindo-nos , sempre que o assunto permitir. Depois destas tuas palavras tão simpáticas, vou-me esparramar na cama quentinhs ( está mt frio) , com muito cuidado para não derramar um titico sequer desse miminho todo que me deste agora; enroscadinha nele, vou adormecer sorrinndo. Obrigada, querida Tais e obrigada, Teresa, por nos teres proporcionado momentos de grande alegria num dia que começou e acabou escuro de tanta chuva. Duas Amigas fantásticas que tenho de guardar, para sempre, no lugar mais especial que tenho, o meu coração. Guardar amizades, isso, tenho a certeza que faço muito
Eliminarbem. Abraços e neles, bem agarradinha, vai a minha AMIZADE para as duas
Emilia
Fino humor :))
ResponderEliminarBeijo
Hum, tu sabes bem o que é um "derramamento" de humor...
EliminarDuas vezes por semana abasteço-me dele.
Beijo.
Que post interessante.
ResponderEliminarDerramar era uma das expressões favoritas da minha mãe. Derramava-se nelas.
Não é palavra que eu use muito não sei porquê.
Abraço
Usa de outra maneira, Elvira, derramando magia em histórias que tanto gostamos de ler. Venham muitas!
EliminarBeijo.
Gosto muito do verbo derramar. Ele é poético e de duplo sentido. Podemos derramar nossos olhos sobre alguma colisa, derramar o café, derramar nosso am or e nosso ódio. Um verbo versátil!
ResponderEliminarDerramar amor, sim Ana, gostei dessa sugestão de utilização do versátil verbo.
EliminarBeijo.
Boa tarde, Teresa!
ResponderEliminarQuerida amiga gostei muito desta tua postagem. Um belo relato de uma escritora que deixou uma obra literária de grande importância, que, com o passar do tempo está ainda mais mais viva a sua arte. Li quatro romances de Virginia Woolf, que os tendo guardado entre outros autores para amanhã ou depois relê-los, embora sejam romances que exigem do leitor muita atenção.
Sobre Virginia Woolf tenho uma ótima biografia, na qual tomamos conhecimento de muitos aspectos de sua vida amorosa não apenas com seu marido, que dela sempre cuidou, internando-a sempre que pode em sanatórios para tratamento de sua profunda depressão. Ao marido deixou uma carta para agradecer e desculpar-se por não lhe permitir nenhuma outra internação. As águas do rio de sua casa, retirada de Londres, levou-lhe a vida.Uma excelente continuação da semana Teresa.
Um beijo.
Pedro
Pedro, meu querido amigo poeta, obrigada por teres aqui derramado tanto conhecimento sobre a depressiva Virginia Woolf.
EliminarSe não tens o livro de contos que refiro acima, compra. São vinte e três contos de mestria narrativa, escrita arrebatadora, perfeita construção psicológica das personagens, retrato da época que permite compreender melhor a vida, o sofrimento e a morte (uma entrada no lago, sem regresso) da escritora.
Beijo, bom resto de semana (aqui, o céu derrama chuva...).