03 maio, 2019

Personagens de romances que gostei de ler

Michael Beard, 53 anos, calvo, baixo, gordo, conhecedor das energias alternativas, físico galardoado com o Prémio Nobel aos trinta e poucos anos (a partir daí  limitou-se  a viver à sombra dos louros, participando apenas em conferências, seminários e entrega de prémios) está no centro da acção de "Solar".
A narrativa começa com Beard mentalmente diminuído, devastado, desinteressado pelo trabalho, sem saber como lidar com a desintegração do casamento, apesar dos quatro falhanços anteriores  (nenhum durou mais de seis anos) e do rol de infidelidades. Acontece que a mulher anda a traí-lo, de forma flagrante, sem remorsos, com o empreiteiro que fizera obras lá em casa, e ele descobre, no seu íntimo, momentos intensos de vergonha e nostalgia nenhum o tinha rebaixado tanto … provocado tamanho aumento de peso e uma tal loucura secreta…ele que “tinha sido um mulherengo mentiroso, tivera o que merecia … que havia de fazer agora, para além de aceitar o castigo? A que deus iria apresentar as suas desculpas?” 
O confronto entre ele cheio de refegos de banhas, fracalhote, incapaz de fazer oito elevações consecutivas” e o amante da mulher com uma constituição de trabalhador da construção, quase vinte centímetros mais alto e vinte anos mais novo é hilariante.
Para fugir à humilhação aceita um convite para uma expedição ao Pólo Norte. O grupo integra artistas e cientistas preocupados com as alterações climáticas. Na viagem vive uma série de situações embaraçosas e de tal forma hilariantes que fazem soltar gargalhadas.
Regressa a casa decidido a salvar o casamento cheio de remorsos, lamentando não saber o truque para fazer a mulher amá-lo, mas resignado”, e encontra na sala um homem no sofá, com o cabelo a pingar, de roupão vestido (o seu roupão) e não, não é o empreiteiro… 
E a narrativa continua com Beard incapaz de alterar vícios e rotinas, a ser um pateta temerário, com hábitos muito arreigados, nem um nadinha mais sensato do que havia sido aos vinte e cinco anos, nenhumas perspectivas de melhoras, que não resiste ao plágio, que vomita a seguir a uma conferência sobre energias limpas, eterno mulherengo, com as mesmas preocupações abstractas “o seu peso, o coração que bate com demasiada irregularidade, as tonturas quando se punha de pé, as dores nos joelhos, nos rins, no peito, o cansaço sufocante, uma mancha vermelha no pulso”, tudo, considera ele, crimes contra a sua pessoa.

E mais não digo, para que possa "conhecer" por si esta personagem inesquecível no genial-sarcástico romance "Solar", de Ian McEwan sobre a fragilidade humana e um dos grandes problemas do mundo moderno – o aquecimento global.

(Porque é esta personagem a primeira? Porque está lá, no primeiro ano do  "Rol de Leituras".)

Do princípio ao fim do romance imaginei a sua adaptação ao cinema e o magnífico actor Paul Giamatti  a interpretar o falhado Michael Beard.
Nunca aconteceu!

6 comentários:

  1. Uma ideia excelente, esta de falar de personagens dos livros. Este Beard deixou-me intrigada. Não li o livro, mas pela tua descrição, era mesmo um fraco…
    Do autor Ian McEwan só tenho "O Inocente" que esta na fila para ser lido…
    Um grande beijo, minha Amiga Teresa.

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  2. Não li.
    Abraço e bom fim-de-semana

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  3. Querida Teresa, hoje vim só para te deixar um abraço bem, bem apertadinho, " daqueles que só duas Grandes Amigas sabem dar ", dando-te os parabéns por seres uma Grande Mãe e desejar-te um dia muito especial. Se não for como desjarias, pensa que o teu amor é do tamanho do mundo e que estarás sempre de coração aberto, carregadinho de amor, pronto a då-lo incondicionalmente aos teus filhos. O meu não vai ser com gostaria, Amiga! Tenho os meus filhos, mas não tenho a minha mãe aqui para lhe dar um abraço e encher o seu rostinho de beijos.. A vida tem destas coisas! Também adoraria dar-te o abraço pessoalmente, mas esse dia chegará, acredito. Amiga, somos avós, por isso merecemos parabéns em dobro, não é verdade? Então. ..mando-te também um montão de beijinhos. Que o dia seja especial!
    Emilia

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    1. Obrigada de coração, querida amiga.
      Fizeste-me chorar!
      (E mais não digo, porque não consigo.)
      Abracinhos.

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  4. Não interessa que a adaptação ao cinema não tenha acontecido. O livro está lá e parece que vale a pena.

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  5. Não li este livro, mas fiquei curioso de o ler.
    E quem sabe se um dia esse filme vai mesmo ser feito...
    Teresa, um bom fim de semana.
    Beijo.

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