07 setembro, 2018

Viajando e aprendendo: Cuba


“Aquele que retorna de uma viagem não é o mesmo que aquele que partiu.”
Provérbio chinês.

Em 1997 voámos para a República de Cuba, um arquipélago no mar do Caribe formado por várias ilhas e ilhotas. As maiores são a Ilha de Cuba (maior e mais populosa ilha das Caraíbas, descoberta em 1492 por Cristovão Colombo) e a Ilha da Juventude.
Cuba é uma nação comunista cheia de história, com uma superfície aproximada de 110 860 km2 e mais de 11 milhões de habitantes.
Aterrámos em Havana, a capital e maior cidade de Cuba. Ali permanecemos três dias e depois partimos à descoberta de Guama, Trinidad, Ancón, Cienfuegos e Varadero.
Cuba cativou-me pela extraordinária beleza, pelas praias de areia branca, águas tépidas e cristalinas, pela simpatia e contagiante alegria do seu povo (uma mistura de populações espanholas, africanas e indígenas), pela música que se ouve em todo o lado, pelo cheiro a café, rum e tabaco.
Do esplendor colonial de Havana (chegou a ser uma das mais ricas cidades do mundo) à grandeza decrépita do início do século XX, o centro de Havana Velha está repleto de fortalezas, catedrais, palácios, mansões e edifícios coloniais. Tudo muito degradado. A sensação que se tem é que Havana, melhor dizendo, Cuba, parou em 1959, ano do início do embargo americano ao país.
Visitámos a Catedral de La Habana (1777), a Plaza de Armas, a Praza de la Revolución, o Museo de la Revolución, o Palácio de los Capitanes Generales e o Museo de la Plata.
Claro que entrámos em La Bodeguita del Medio, o café-restaurante cubano preferido do escritor Ernest Hemingway. Entrar naquele espaço pequenino de paredes rabiscadas com mensagens deixadas por turistas de todo o mundo, emociona.
E passeámos no Malécon, a avenida marginal de Havana (em seis faixas circulavam coloridos carros americanos dos anos 50, impecavelmente mantidos por mecânicos milagreiros) ladeada de imponentes e charmosos edifícios oitocentistas em ruínas.
Nas ruas de Havana inúmeros garotos pediam canetas e caramelos. Não pediam dinheiro. Avisada, levei comigo dezenas de canetas e pacotes de caramelos. A alegria dos garotos deixava-me os olhos rasos d'água.
No trajecto Havana – Trinidad visitámos Guamas, uma aldeia típica muito bonita localizada na península de Zapata, e logo seguimos para o Hotel Ancón (o maior hotel onde já dormi), localizado na Playa Ancón, a sul de Trinidad.
Chegámos ao hotel às 23.00 horas e de imediato corremos para a praia iluminada apenas pela luz do interior do hotel e mergulhámos num mar de água calma e quentíssima! Nunca, jamais, esquecerei o meu primeiro banho de mar nocturno, na misteriosa Cuba.
No dia seguinte nada nem ninguém nos afastava da areia branca e fina, do azul-turquesa do mar, do verde das palmeiras, mas… havia que visitar Trinidad.
A cidade de Trinidad, localizada num colina a cerca de 20 minutos de Ancóm, foi fundada em 1514 por Diego  Velázquez e considerada Património da Humanidade pela UNESCO, em 1988. As ruelas empedradas e as casas cor pastel pouco mudaram desde o século XVIII, quando Trinidad enriqueceu com o comércio de escravos e de açúcar. Na Plaza Mayor, a praça principal da cidade, encontra-se uma catedral, o Museu Romântico, o Museu Histórico, o Antigo Convento de San Francisco de Assis, várias galerias de arte e  feiras de artesanato.
Visitámos uma Fábrica de Charutos e vimos homens e mulheres de rosto cansado e triste enrolar charutos sem parar. Nenhum nos dirigiu um breve olhar. Em fundo, uma voz masculina lia sem parar uma lenga-lenga com a produção de cada um deles no dia anterior. Terrível!
Nas ruas de Trinidad as crianças não pediam dinheiro, nem canetas nem caramelos, pediam sabonetes. 
Sobre isto não tinha sido avisada mas resolvi o problema com os sabonetinhos do hotel. Nas duas visitas a Trinidad distribui sabonetes, canetas e caramelos. Uma alegria!
Mulheres jovens pediam roupa. Roupa?!
E chegou o dia de deixar Ancón e rumar a Cienfuegos, cidade costeira da região central fundada em 1819 por colonos franceses, capital da província com o mesmo nome, e um dos maiores portos do país.
O traçado da cidade é perfeito, com ruas direitas à volta da Plaza de Armas (ou Parque Martí), ladeadas de belos edifícios coloniais e mansões do fim do século XIX em bom estado de conservação e muito, muito, verde.
Cienfuegos, com aproximadamente 150 mil habitantes, é bonita, limpa, um museu ao ar livre. Merece ser visitada caminhando, sem pressa. Sombras há muitas, para descansar e observar os passeantes.
Lamentavelmente, caminhámos pouco e o que vimos da cidade foi através do vidro do mini-bus que nos transportava.
E lá seguimos para Varadero, a principal estância balnear de Cuba.
Durante uma semana andámos integrados num grupo de catorze pessoas: 12 turistas portugueses, a guia (uma cubana que estudou no Malawi e aprendeu português em Moçambique) e o motorista (um advogado obrigado a mudar de profissão para poder sustentar a família).
Em Varadero o grupo despediu-se com emoção e tristeza da guia e do motorista e foi distribuído por vários hotéis.  No nosso, um 5 estrelas em regime tudo incluído, apenas ficámos nós dois. Enfim, apenas nós!
Em Varadero tudo era diferente: bons hotéis, serviço excelente, piscinas, praias de areia branca, águas serenas, límpidas e quentes. 
Para além dos muitos e demorados mergulhos no mar e na piscina, a calma convidava a leituras demoradas, sonecas repousantes, mimos prolongados, cocktails frescos, jantares delicados e um pezinho de dança na discoteca sempre apinhada de corpos bronzeados e ondulantes. Demasiado ondulantes, em alguns casos…
Quatro dias depois fizemos o trajecto Varadero – aeroporto de Havana, num táxi conduzido por um médico, sim um médico, humilde, simpático, conversador, pai de duas crianças em idade escolar que, dizia, «tinha de alimentar».
Com ele ficámos a conhecer um pouco mais da Cuba de Fidel, e a saber das dificuldades de vida do povo cubano, apesar de a educação e a saúde serem gratuitos.
(o que ouvimos, espantados, ficou para sempre dentro daquele táxi)
Da Cuba de 1997 trouxe a mala vazia (fui deixando roupa em todos os hotéis, dei todos os medicamentos que tinha comigo à guia, e poucas lembranças consegui encontrar para comprar) mas o coração cheio de admiração pelo seu povo humilde, simpático, culto (a taxa de alfabetização é de 99,8%), muito, muito alegre.
Foi uma viagem excelente e marcante. Quero, queremos, repeti-la para verificar o que por lá mudou.
Uma coisa já sabemos: Cuba não é Varadero. Estâncias turísticas com hotéis lotados e barulhentos há pelo mundo fora, já Cuba há só uma. E merece que a visitem.
Aconselho!
(Mais fotos aqui.)

7 comentários:

  1. Amiga Teresa

    Eis um texto que é um prazer ler. Nele mergulhei na História e nas histórias que fazem de Cuba um lugar tão especial, tendo nas suas gentes o seu ponto mais alto.

    Fui ver as fotos que considerei belas e reveladoras.

    Muito obrigada por esta partilha encantadora.

    Beijinhos

    Olinda

    ResponderEliminar
  2. Por certo uma viagem inesquecível! bj

    ResponderEliminar
  3. Belíssima reportagem fotográfica.
    Cuba é um encanto...
    Teresa, um bom fim de semana.
    Beijo.

    ResponderEliminar
  4. Não tenho agora tempo para ler esta reportagem pessoal tão bem documentada com imagens e que acredito seja bem contada. Mais logo, talvez. As mães que lavam roupa e fazem almoços e repartem mãos e bem querer por tudo isso e muito mais, desatam as horas vagarosas da ternura se eles estão de visita. E, nessa banheira de água tépida, distendem a pele enrugada da alma.

    ResponderEliminar
  5. Excelente reportagem, foi certamente uma viagem linda.
    Ainda não conheço Cuba, mas fiquei com vontade de ir visitar.
    Bom fim de semana
    Beijinhos
    Maria
    Divagar Sobre Tudo um Pouco

    ResponderEliminar
  6. Olá Teresa, saudades grandes.
    Gostei de ler sua reportagem e ver as fotos, lindo, emocionou-me. Mas não tenho vontade de visitar Cuba, me revolta saber que a falta de amor tornou um povo tão alegre em homens e mulheres e mais ainda crianças em pessoas tristes. Vivendo no limite, sem fartura, sem poderem exercer suas profissões, desvalorizados e amargurados,e sem liberdade de ir e vir!!
    Não sou corajosa o suficiente para ir a Cuba.
    Amei ver todas as fotos e a reportagem ótima.
    beijinhos,
    Léah

    ResponderEliminar
  7. Querida amiga, como sabes mandei para não sei onde o primeiro comentário, estou tentando lembra do que escrevi, pois escrevi direto aqui.
    Quero dizer que essa Ilha é linda se imaginarmos o seu passado com algumas belíssimas construções, até imponentes, mas depois tudo deteriorou-se. Um povo alegre apesar de sofrido, mas dada a mistura, chegando os espanhóis no século XVIII, mais outros europeus em menor número e os afros. Então, apesar de tudo, cantam uma alegria não sei de onde, se ouvirmos Buena Vista Social Clube, Henri Salvador, Rubén González, Celia Cruz e tantos outros ótimos. Corta o coração as suas crianças, o lance das balas e sabonetes... Realmente, é tudo racionado, e li, também, que Internet só nos hotéis. Os turistas têm tudo, os nativos: educação e saúde. Comida e liberdade e outras coisas, ficam a desejar.
    Gostei muito das fotos, dei um pulo no teu outro blog. O mar chega a ser escandaloso de tão belo.
    Fica esse comentário, amiga, com um gostinho de quero mais viajar com Teresa Dias! Leva-me na carona!
    Beijo!

    ResponderEliminar