28 setembro, 2018

Caixa de memórias: livros de autógrafos

Um dia destes, ao mexer numa caixa de memórias que guardo na arrecadação, encontrei dois livros de autógrafos dos meus 11, 12 e 13 anos. (Sim, eu sou do tempo em que os(as) adolescentes coleccionavam autógrafos de colegas, de professores, de familiares, de amigos e de ídolos.)
Fiquei contentíssima!
Desfolhei folha por folha, com todo o cuidado.
Li e reli, todas as frases e versos.
Mirei e admirei os desenhos, alguns simples e outros muito rebuscados.
Tentei associar os nomes a rostos, mas não consegui.
Voltei a invejar (inveja boa) a letra linda da Anabela, a chefe da minha turma no 1º ano do Ciclo Preparatória da Escola Técnica Elementar Governador Joaquim de Araújo, em Lourenço Marques (actual Maputo).
Descobri alguns conselhos de professores e professoras. Segui-os? Hum, nem todos.
E a dada altura... descobri um autógrafo do rei Eusébio?
Do Eusébio? Eu, que mal nasci ouvi o meu pai dizer que eu teria de ser sportinguista como ele... e sou!
Sempre que equipas de futebol portuguesas (da Metrópole) iam jogar a Lourenço Marques, rapazes e raparigas esperavam os craques à porta do hotel onde estavam alojados para conseguir um simplesinho autógrafo. E eu, por estranho que agora me pareça, também para lá ia...
No dia em que entrei em casa eufórica com o livro aberto no autógrafo do rei, o meu pai quase teve uma síncope. Não gostou da brincadeira e ficou  "verde de raiva". Verde da cor da camisola do Sporting, e só acalmou quando o convenci que eu continuava a preferir o verde ao vermelho, o leão à águia.
(A ida de um equipa de futebol da Metrópole a Lourenço Marques provocada uma onda de loucura total na cidade.)
Mais adiante descobri um autógrafo dos elementos do Conjunto Académico João Paulo, cujas baladas românticas me despedaçavam o coração. Assisti a um concerto deles no Teatro Gil Vicente e cantei e dancei e chorei de encantamento. Garotinha!!!!
A minha canção preferida era "Eu tão só".  Porquê não sei, pois na altura namoriscava com o baterista de um conjunto local e não faltava a um espectáculo  nem tarde dançante onde actuasse. Não dançava, limitava-me a olhar embevecida para os gestos tresloucados dele a martelar nos pratos, bombos, ferrinhos e pandeiros. 
Os meus pais (uma ida ao baile sem os pais era impossível naquela idade) estranhavam o meu comportamento sem suspeitarem, grande sorte, que o meu coração dançava ao compasso daquela bateria. 
Foram muitas as horas da minha adolescência gastas a olhar para o baterista. Muitas horas mesmo porque ele vivia no prédio à frente do meu e de varanda para varanda também nos olhávamos à exaustão.
Um dia fartei-me de tanto barulho da bateria e de tanto olhar para a mesma varanda e terminei o namorico. Melhor, mandei-lhe um recado por uma amiga comum: acabou! Eu, novinha, imberbe, não consegui fazê-lo. Envergonhada, fugi da varanda e deixei de ir a tardes dançantes onde ele actuasse. Nunca me perdoei e através de amigos soube que também ele nunca me perdoou. Já em Portugal, mais madura, procurei-o para lhe olhar nos olhos e pedir desculpa. Nunca o encontrei!
Aos quinze anos conheci aquele que viria a ser o pai dos meus filhos e com ele casei aos dezanove. Tinha mais seis anos do que eu, não tocava qualquer instrumento, nem gostava de dançar, mas lia, lia muito. Depois do barulho o silêncio, tanto melhor!

Kanimambo Moçambique, por tantas boas memórias da minha infância e adolescência.
Voltarei à minha caixa de memórias... e saudades!
(Lourenço Marques nos anos 60. Foto da net.)
(Baixa de Lourenço Marques pouco antes da independência. Foto da net.)

10 comentários:

  1. Uau!!!
    Uma relíquia!!!
    Eu também tive um mas desconfio que ficou em Angola!
    Bj

    ResponderEliminar
  2. Que lindo achado e tão bom reencontrar velhos guardados que mexem com a memória afetiva! Tri legal! bjs, chica

    ResponderEliminar
  3. Mas que crônica gostosa, minha amiga! Pois eu também tenho esses álbuns, com capinha fofa, trabalhada que se destinavam à lembranças, desenhos de professores, colegas, parentes, todos que apareciam na minha vida deixavam alguma recordação para o futuro, e com flores e carinhas! Algumas pessoas lembro das feições, outras não. E hoje, o que fazem as aluninhas da mesma idade que tínhamos? Garanto que isso não vão ter. Era uma época de ouro, cheia de delicadas recordações. Sim, os namorinhos meio inocentes... o que eram perto dos de hoje, hein?? Bela crônica, amiga! Rica em 'vida'.
    Beijussss.

    ResponderEliminar
  4. Boa noite, amiga Teresa, eis aí uma crônica legítima, da qual gostei muito, não apenas pelo fatos narrados na sua adolescência, mas também por trazer-me à memória dois nomes que estão nessa bela crônica, quais sejam: Eusébio e Gil Vicente (o primeiro grande jogador de futebol e o segundo, Gil Vicente, um homem de letras, cuja obra foi objeto de meus estudos quando cursei o Curso Clássico, antes de ingressar na Faculdade de Direito).
    Portanto, Teresa, essa bela crônica deu-me a conhecer parte da sua vida quando estudante, por meio de seus guardados, tão comum às jovens de sua época (a Taís tem algumas caixas desses guardados, todos com dados muito interessantes de uma época que não volta mais.)
    Parabéns, um bom domingo
    Beijo
    Pedro.

    ResponderEliminar
  5. Que história maravilhosa e que escrita de nos prender ao ecrã! Gostei muito muito!

    Embora já não fosse muito comum na minha geração, também tive um livrinho desses que carregava comigo para todo o lado!

    ResponderEliminar
  6. OI TERESA!
    ADOREI!
    GOSTO MUITO DE OUVIR HISTÓRIAS E QUANDO SEI SEREM VERÍDICAS, MAIS AINDA POIS AS ACHO DE UMA RIQUEZA ÍMPAR.
    ABRÇS
    https://zilanicelia.blogspot.com/

    ResponderEliminar
  7. Ah, como invejo quem tem
    esse cuidado, de colecionar
    coisas, principalmente me-
    mórias. Nem fotos eu guar-
    do dos velhos tempos, aliás,
    novos tempo, porque o hoje,
    com relação aquele tempo foi
    que envelheceu.

    Beijos e bom domingo.



    .

    ResponderEliminar
  8. Eu confesso que nunca pedi autógrafos!


    Isabel Sá
    Brilhos da Moda

    ResponderEliminar
  9. Muito interessante! Também tive um livro de autógrafos… Mas não tenho essas memórias pois as vicissitudes da minha vida não me davam liberdade para tanto. Mas o seu livro de autógrafos é uma verdadeira relíquia. E com tantas memórias lindas…
    Uma boa semana.
    Um beijo.

    ResponderEliminar
  10. Parabéns pelo 'post' tão juvenil, tão interessante e divertido...
    Em Portugal, os livrinhos de autógrafos passaram de moda, mas continuo a ver as as grandes vedetas distribuindo-os pelos fãs que, ordeiros, formam filas de espera...
    Agradeço muito as palavras amigas e gentis que me dirigiste.
    Bem-hajas.
    Um Outubro ameno e muito feliz.
    Abraço grande.
    ~~~~

    ResponderEliminar