25 maio, 2018

"Estar em casa" - Adília Lopes

O prazer do texto sim
o frete do texto não
Estar em casa”, o mais recente livro de Adília Lopes (pseudónimo literário de Maria José da Silva Viana Fidalgo de Oliveira), junta-se a “Bandolim” e “Manhã” para completar uma trilogia de memórias em contexto autobiográfico.
Neste livro, como se de um diário se tratasse a poeta desfia memórias íntimas, acontecimentos da infância, detalhes do quotidiano, histórias, sonhos, olhares. E faz isso em pequenos poemas:
O ZERO E O UM
Quis sempre
ter um namorado
e só um
o que me custava
era não ter nenhum
Em frases soltas como esta: Quando se fecha os olhos com muita força, coisa que não se deve fazer, parece que se vêem quadros de Vieira da Silva.
Ou esta: Gosto muito de comparações. Escrevo muitas vezes a palavra como. Como gosto muito de comer até tem graça.
Em pequenos textos: Um padre contou-me que uma paroquiana era pobre, não tinha dinheiro para comprar bibelots para enfeitar a casa. Tinha um baú em que guardava os bibelots que tinha, tirava de lá um ou dois bibelots de cada vez para pôr em exposição, ia tirando os bibelots à vez para não ter todos os bibelots em exposição ao mesmo tempo. Assim, era como se tivesse sempre bibelots novos, quando tirava um bibelot do baú já não o via há tempo, já não se lembrava dele, era como se fosse novidade.
Um médico disse-me «a novidade estimula» e outro disse-me «a capacidade de esquecimento das pessoas é muito grande».
Não é bom ser pobre mas é bom ter imaginação.
Os ricos não têm muita imaginação.

Imaginação não falta a Adília Lopes. E um jeito encantador de brincar com as palavras.
Nada li dela antes deste livro pequenino, que comprei porque me enamorei da capa. (Acontece a todos!)
Agora que descobri a poeta, vou ler os restantes volumes da trilogia e os livros de poesia publicados  entre 1985 e 2000.
Os meus poemas são papéis, acções, obrigações.
Hum, acho que fiquei a gostar ainda mais de palavras!
E você, gosta de palavras?

Estar em casa”, de Adília Lopes
Ed. Assírio &Alvim, 2018
87 págs.

10 comentários:

  1. Olá, Teresa

    Gosto muito de palavras. Gosto de saboreá-las, degustá-las. Por vezes, leio uma frase e deixo-me ficar perdida no meio das significações e experiências que poderão conter.
    Das citações que nos trazes, deste livro de Adília Lopes, quedo-me nesta frase: "Os ricos não têm imaginação".Talvez seja verdade, generalizando. Isso traz-me à ideia aquele provérbio:"A necessidade aguça o engenho".

    Beijinhos

    Olinda

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  2. Ainda não li.
    A Adília Lopes é uma boa escritora.
    Bom fim de semana, amiga Teresa.
    Beijo.

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  3. Teresa ... parece ser um boa escolha de leitura!
    Levo a sugestão!!!bj

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  4. Olá, Teresa!
    Esse deve ser um livro muito interessante, pois Adília Lopes, que estou conhecendo por teu intermédio, nessa postagem, tem uma linguagem bastante rica, possivelmente pelo fato de ser poetisa. Quem sabe amanhã ou depois, nas minhas andanças pelas livrarias com a Taís, venha encontrar essa obra. Aliás, tenho certeza que a Taís vai gostar muito porque a escritora conta muitas coisas pessoais, o que no meu entender é do gosto de toda a mulher.
    Parabéns pela excelente resenha.
    Bom final de semana.
    Bjs
    Pedro

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  5. Interessante a maneira de escrever da poetisa, já que a humanidade não está mais querendo ter o trabalho de ler textos maiores com romance. Gostei da ideia. Parabéns pela postagem! Grande abraço. Laerte.

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  6. Divulgada por si
    será uma boa proposta

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  7. Hoje publiquei uma prenda tua :)))
    Beijo, boa semana

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    Respostas
    1. Bom dia, Pedro!
      Mandei convencida de que já conhecias...
      Obrigada, amigão. Beijo no coração.

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  8. Uma boa escolha, Teresa. Adília Lopes sempre igual a ela própria…
    Uma boa semana.
    Um beijo.

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  9. Gostei dessa: "Um médico disse-me «a novidade estimula» e outro disse-me «a capacidade de esquecimento das pessoas é muito grande». Não é bom ser pobre mas é bom ter imaginação.
    Os ricos não têm muita imaginação.

    Pura verdade, os ricos não têm imaginação, mesmo! Vá entender tantas contradições! O pobre é estimulado à criação.
    O livro realmente deve ser muito interessante. Anotado está, por nós dois...rss
    Beijo, querida amiga.


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