25 setembro, 2016

"Cisnes selvagens" - Jung Chang


“Jian-xin-bi-xin” – Imagina que o meu coração é o teu coração!
Confúcio

“Cisnes selvagens” é o chamado “dois em um”: fascinante romance autobiográfico e precioso documento histórico.
Isto, porque cruza
- a história verdadeira de três mulheres, da mesma família, marcadas pelas dramáticas mudanças políticas, sociais e culturais dum tempo em que na China cada dia era uma batalha só para sobreviver; 
- com a história tumultuosa da China do século XX - o derrube do Império Manchu e formação da república dos senhores da guerra (1911); a invasão da Manchúria pelo Japão (1931); a ocupação japonesa (1938-45); a proclamação da República Popular (1949); a Reforma Agrária (1950); a Revolução Cultural (1966), a violenta ditadura de Mao,  que perseguiu, escravizou e desrespeitou três gerações de chineses.
As mulheres, poderosas, lutadoras, corajosas, são a própria Jung Chang (n. 1952), a mãe (n. 1931) e a avó materna (n. 1909).
Nada falta nesta revelação de Jang Chang. Nem uma  árvore genealógica, uma cronologia da história da família e do país; nem fotografias íntimas e públicas, legendadas e datadas.
A sinopse perfeita e exacta, cativa-nos e de imediato queremos ler o livro.
Foi o que aconteceu comigo e o que acontecerá consigo. Tenho a certeza.
“Quando a avó de Jung Chang nasceu, em 1909, a China era uma sociedade feudal. Os seus pés foram ligados, como era hábito nesse tempo e, aos quinze anos, foi dada a um general como concubina. Durante anos viveu virtualmente prisioneira de criadas que a espiavam e do «marido» quase sempre ausente até que, em 1932, o general morreu e ela regressou à casa familiar com a filha ainda criança.
Essa filha cresceu na Manchúria sob ocupação japonesa e russa. Quando a guerra civil eclodiu entre os comunista e o Kuomintang de Chang Kai-Check, tornou-se uma activista no movimento clandestino, arriscando a vida para fazer passar informações através dos postos de controlo nacionalistas para os comunistas que sitiavam a sua cidade. Foi presa e posta perante um pelotão de fuzilamento e viu cair morto o homem que estava ao eu lado. Depois de libertada apaixonou-se por um jovem guerrilheiro que partilhava o seu entusiasmo pela causa comunista. Com o triunfo de Mao, tornaram-se altos funcionários, ajudando a lançar uma revolução social como o Mundo nunca vira.
Jung Chang, sua filha, passou a infância nos círculos privilegiados da elite comunista chinesa. Após um breve período nos Guardas Vermelhos, a selvajaria e o poder destruidor da Revolução Cultural levaram-na a questionar o próprio Mao, uma atitude inimaginável num país dominado pelo terror e completamente fechado a qualquer informação sobre o mundo exterior. Os pais de Jung Chang foram denunciados, presos e mandados para campos de trabalho distantes. O pai foi progressivamente levado à loucura e à morte. Ela própria, ainda adolescente, foi exilada para o coração dos Himalaias e trabalhou como camponesa e «médica dos pés descalços».”
Em 1978 Jung Chang consegue uma bolsa para estudar na Grã-Bretanha. Fizeram-se festas para celebrar, e derramaram-se muitas lágrimas de alegria. Ir para o Ocidente era uma coisa enorme. A China mantivera-se fechada durante decénios, e as pessoas sentiam-se sufocadas pela falta de ar. Fui eu a primeira da minha universidade e, tanto quanto sei, a primeira de Schuan (que tinha na altura uma população de cerca de noventa milhões) a receber autorização para estudar no Ocidente, desde 1949.

“Cisnes selvagens”  desvenda um período trágico da História da China.
É um livro longo, duro e amargo, mas empolgante e cativante.
Difícil de contar, é obrigatório ler.
Eu comprei-o  em 1995, emprestei-o, perdi-o, recuperei-o, li-o agora, compulsivamente.
É apaixonante!

Cisnes selvagens, de Jung Chang
Tradução de Mário Dias Correia
Quetzal Ed., 1995
517 págs.

2 comentários:

  1. Gostei muito de ler este livro. Mas já pouco recordo para além do desencanto com a política de Mao.

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  2. Sobre a China só me lembro de ler os livros da Pearl Buck, este interessou-me por ser simultaneamente histórico. Quer dizer, para já ainda tenho uma lista longa de livros para ler, mas depois ponderarei a sua leitura. Obrigada pela sugestão.

    Beijinhos

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