Por que razão um homem que viajou por todo o mundo como repórter prefere, como temas dos seus romances, a História à actualidade?
A História permite-nos compreender melhor o presente. O novo não é mais do que o passado que já esquecemos. Tudo já aconteceu. Quem não leu a Guerra de Tróia não compreende Sarajevo, quem não leu Xenofonte não compreende a guerra dos mercenários em Angola, em 1978. Sem História somo órfãos e incapazes de compreender. Por isso uso nos meus romances a História como mecanismo de compreensão, como chave para o presente.
(…)
Acha que essa vida aventurosa, como a de uma personagem dos seus próprios romances, contribui para o êxito? Ao fazer com que o leitor se projecte no escritor como alguém que tem uma vida apaixonante?
A minha vida não é apaixonante por ser escritor. O que torna uma vida apaixonante são as viagens que fizemos, as aventuras que vivemos. Os livros são apenas um resultado disso.
Mas a literatura está em crise…
Eu não estou em crise.
Qual é a sua explicação para isso?
Às vezes pego num livro e penso: este tipo, para que escreve ele? A quem importa saber que ele se levantou de manhã, que tem uma vida triste, que a mulher o deixou, que o seu filho é drogado, que se sente asfixiado pela vida. Para isso, não vale a pena ler. Basta olhar em volta. O que eu quero é que me contem histórias interessantes, que me façam reflectir, pensar, sonhar. Que mudem a minha vida. Se quando terminar a leitura de um livro a minha vida não tiver mudado para melhor, ou é um mau livro ou eu sou um mau leitor. Um livro que não muda o olhar do leitor é uma merda de livro. E o mundo está cheio de merda de livros que não mudam nada. São apenas fruto da vaidade onanista de autores que não têm nada para dizer.
(…)
A literatura é para todos?
Sim.
Mas a maioria não lê.
Não lê porque não sabem como é bom ler. Porque não se educa para a leitura. Os planos de estudos são feitos por gente que não lê e que não sabe o que dar às crianças para ler. Mas quando uma pessoa encontra algo de que gosta…
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Excerto da entrevista concedida a Paulo Guerra, publicada no jornal Público de 21 Setembro 2016.
Vale a pena ler na íntegra.
(Foto da net)
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