01 julho, 2016

"As terras do risco" - Agustina Bessa-luís


Arrábida quer dizer lugar de oração.
Aí se encontram as Terras de Risco.

“O que trazia o prof. Fabre d’Oliver à Serra da Arrábida com a sua bela esposa de enigmáticos olhos permanentemente sem segredos, era a curiosidade. A curiosidade era o vício do professor Fabre. Possivelmente, os outros vícios são seus primos carnais. O professor Fabre tivera contacto com um estudioso de História que lhe garantira que em Portugal tudo estava por descobrir: tesouros escondidos e espécies raras. Inclusive uma espécie de gato selvagem que dá pelo nome de Khoi, semelhante ao gato persa. Mas o que verdadeiramente o atraíra fora o instrumentos em latim do contrato de casamento de Isabel de Avis como duque de Borgonha. Que no contrato de casamento aparecessem três testemunhas que eram mercadores florentinos, isso também nada tinha de estranho, posto que os delegados banqueiros de Florença nada mais faziam ali do que garantir o dote da noiva. Mas que um deles se chamasse Heitor Sequespee, isso já era mais impressionante e digno de atenção. Como era que durante quinhentos anos ninguém reparara naquilo? O professor Fabre teve um ataque de curiosidade tão intenso que lhe caiu uma porção de cabelo e engordou seis quilos.”

Foi na minha varanda solarenga virada para o mar, que “penetrei” na densa, grandiosa, bela, labiríntica e perigosa Arrábida, lugar central da acção deste “romance de risco”.
Pensava eu que sentir o sol e mirar o mar facilitaria a leitura da escrita densa, excessiva e igualmente labiríntica de Agustina. Enganei-me!
Enganei-me e rapidamente deixei de querer saber se o Professor Martin, na companhia de Jeanne Précieuse a sua sedutora mulher linda de morrer, encontrou a chave do enigma que o levou a subir a Serra da Arrábida num velho táxi verde e preto.
Mas não desisti.
Mesmo que Agustina diga que não devemos acreditar em tudo o que nos dizem, sem cinismo prometo voltar a “As Terras do risco”. Lá para o inverno…
Perdoem-me os seus seguidores. São coisas que acontecem.
Entretanto, fico na expectativa que alguém me esclareça se a curiosidade faz mesmo cair o cabelo e engorda.
Valha-me Deus!

As terras do risco, de Agustina Bessa- Luís
Guimarães Ed., 1994
284 págs.

1 comentário:

  1. O mundo da escrita de Agustina é de densidade labirintica. Não cai bem como lei. tura de verão.Pesa.Se a abandona, abandona, e já está. Também já a abandonei algumas vezes. E outras obriguei-me a continuar. De certeza é autora que dormiu em camas de bilros. Nela, todos os temperamentos são devidamente torneados.
    Então é isso. A gente jovem modera a curiosidade para manter a linha. E também deve ser por isso que há poucos carecas entre eles. Mas será que os velhos são todos curiosos?! Já me estou imaginando a tomar umas pílulas para a curiosidade.

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