Eis a definição que encontrei numa das páginas do romance “As terras do risco” (1994), de Agustina Bessa-Luís:
“- O que é uma mulher?- disse Baltazar (…) Confesso que as vejo sempre como uma coisa de pouco valor, que nunca nos serve o bastante e povoa a nossa solidão e às vezes a degrada. Não sei de pior companhia do que a duma mulher. Faz barulho com a loiça, bate com as portas, arrasta as cadeiras, queixa-se o dia inteiro, encontra todas as maneiras de ser desagradável, tem um cheiro horrível às vezes, e quer que a gente lhe diga que a ama. Quer ser notada em casa e na rua, usa roupas impróprias no amor e no trabalho. Só aqueles brincos enormes lhe dão um ar arrepiante. São tão ignorantes! Mesmo quando fazem o liceu e um curso superior, ficam ignorantes. Não são capazes de ideologia nem de utopia nenhuma. Quanto a construírem o mundo, limitam-se a limpar-lhe o pó e a fazer constar que isso é uma regra de oiro. Eu não digo que não tenham jeito para governar, mas o que eu digo é que se enchem de complexos de culpa e fazem do governo uma atitude e não um ofício. Não sei como as hei-de tratar. Já não lhes podemos bater nem fazer-lhes filhos; nem pedir-lhes que nos façam a cama e a sopa. Respondem: “Basta de autoritarismo militar, de faxina, de continência, de galões.” São mais brutais e menos guerreiras. Querem convencer e não agradar. Como é possível?"
É fértil e incontrolável a imaginação de Agustina.
Eu, pasmei!!!
Extraordinário naco de literatura portuguesa.
ResponderEliminarObrigado por o trazer à colação.
Marcelo Melo
Pasmou porque é mulher?! Não. Nenhuma mulher pasma para as palavras de Agustina que, neste caso, é homem. No fundo de cada homem está este macho parvo que ela retrata; talvez não na totalidade que ela andou a juntar os defeitos todos em molho. Como no fundo de cada mulher está um ser submisso ou revoltado com a submissão. O que a cultura nos tem feito é dissimular o fundo, talvez diminuir-lhe a força; e, reconheço, subimos um pouco, levantámos cabeça.
ResponderEliminarPorém, o entender a mulher como um igual quantos anos tem? E assumi-la como um ser inferior, a quantos séculos remonta? É contar em anos a disparidade.
Consola-me que estes parvalhões são os que menos sabem viver sem mulheres, os mais inaptos da espécie, aqueles que, quando elas faltam, vão a correr para os psicólogos e os psiquiatras, ou, se pertencem ao mundo de onde venho, se embebedam para chorar à vontade as mulheres que trataram mal em vida conjunta.
Sei e reconheço que nem todos os homens são iguais. Mas desconfio que há um naipe enorme muito parecido. Eles que me desculpem porque por acaso até acho que o mundo sem eles perdia graça.