Na sua mocidade, Stoner imaginara o amor como um estado absoluto do ser ao qual uma pessoa, se tivesse sorte, podia aceder um dia; na idade adulta, decidira que era o paraíso de uma falsa religião, que uma pessoa devia encarar com uma divertida incredulidade, um suave desprezo familiar e uma nostalgia embaraçada (…) Na meia-idade começava a perceber que não era nem um estado de graça, nem uma ilusão; via-o como um ato humano de transformação, uma condição que era inventada e alterada de momento para momento e de dia para dia, através da vontade, da inteligência e do coração.
Poucos romances me empolgaram tanto como este. E já li muitos, muitos.
É triste. É cruel. É desconcertante. É fascinante. É surpreendente. É cativante. É inteligente. É intimista. É viciante. É inesquecível.
É perfeito, pronto!
Começa assim:
William Stoner entrou para a Universidade do Missouri em 1919, aos dezanove anos. Oito anos depois, no auge da Primeira Guerra Mundial, doutorou-se e aceitou um cargo de docente nessa mesma universidade, onde lecionou até morrer, em 1956 (…) Nasceu em 1981, numa pequena quinta no centro do Missouri (…) Desde que se lembrava, William Stoner tinha tarefas para cumprir. Aos seis anos ordenhava as vacas escanzeladas, alimentava os porcos na pocilga a uns metros de casa e recolhia os pequenos ovos de um bando de galinhas magricelas.(...) Era uma família solitária, da qual ele era o único filho, unida pelo imperativo da faina.
Segue-se o relato de toda uma vida.Vida cinzenta, narrada de forma nua e crua. Vida comovente, triste e angustiante, vida feita de muitos fracassos, que de tão real aqui e ali nos molha os olhos.
Stoner, frágil, humilde como a terra que a família dele arava, discreto, íntegro, um simples filho da terra, um obscuro professor de Literatura Inglesa, zeloso, empenhado, mas nunca reconhecido pelos alunos, nunca estimado pelos colegas.
Apaixonou-se e casou com uma rapariga de vinte anos, alta, esguia e loura, que tocava piano. Eram ambos virgens e tinham ambos a noção da sua inexperiência.
- Vou tentar ser uma boa esposa para ti, Stoner. Vou tentar. Não foi! Grace Stoner nasceu e durante o primeiro ano de vida conheceu apenas o toque do pai, e a voz dele, e o amor dele. Cresceu e tornou-se distante e retraída como a mãe.
Aos quarenta e dois anos, Stoner não conseguia ver nada diante de si de que lhe apetecesse desfrutar e para trás também pouco havia que lhe interessasse recordar.
Aos quarenta e três anos viveu uma curta mas intensa aventura amorosa.
Aos quarenta e três anos viveu uma curta mas intensa aventura amorosa.
Aos sessenta e três anos ele percebeu que lhe restava, no máximo, quatro anos de carreira. Tentou ver para além desse limite. Não conseguiu, nem tinha vontade de o fazer.
Aos...
Acabou, não divulgo mais nada.
Acabou, não divulgo mais nada.
Leia este romance, por favor.
“Stoner”, o quarto romance de John Williams (1922-94), também professor universitário, passou despercebido aquando da sua publicação em 1965. Passadas quase cinco décadas, uma tradução para francês da escritora Anna Gavalda resgatou-o do esquecimento. Ainda bem!
“Stoner”, o quarto romance de John Williams (1922-94), também professor universitário, passou despercebido aquando da sua publicação em 1965. Passadas quase cinco décadas, uma tradução para francês da escritora Anna Gavalda resgatou-o do esquecimento. Ainda bem!
Stoner, de John Williams
Tradução de Tânia Ganho
Ed. Dom Quixote, 2014
263 págs.
Também adorei!
ResponderEliminarFoi um dos livros que li ultimamente e que muito me entusiasmou.
Gostei imenso!
Bom fim-de-semana, Teresa:)
Olá Isabel,
Eliminar"Stoner" é fabuloso, mas pesadão!
Para serenar, "devorei" um livro bem diferente - um thriller cheio de suspense. Depois te conto.
Bom domingo, boas leituras.
Bjs.
Olá Teresa
ResponderEliminarConcordo. Estamos perante um excelente livro.
Pesado, pois. Mas soberbo.
Boas leituras
Já és a 3ª pessoa a falar-me elogiosamente desse livro, de modo que saltou direto para os livros a comprar na Feira do Livro... :)
ResponderEliminarObrigada e beijocas