08 maio, 2015

"No café da juventude perdida" - Patrick Modiano

No café Condé reúnem-se poetas malditos, futuros situacionistas e estudantes À nostalgia que impregna aquelas paredes junta-se um enigma personificado numa mulher: todas as personagens e histórias confluem na misteriosa Louki (...) ela encarna o inalcançável objecto do desejo. Louki, tal como todos os boémios que vagueiam por Paris espectral, é uma personagem sem raízes, que inventa identidades e luta por construir um presente perpétuo.
Das duas entradas do café, ela utilizava sempre a mais estreita, a chamada porta da sombra. Escolhia a mesma mesa, ao fundo da pequena sala. Nos primeiros tempos, não falava a ninguém, depois travou conhecimento com os clientes habituais do Condé (…)
Não tinha hora certa para chegar. Podia encontrar-se lá de manhã muito cedo. Ou então surgir por volta da meia-noite e ficar até à hora do encerramento (…) ela refugiava-se ali, no Condé, como se quisesse evitar qualquer coisa, escapar a um perigo.
Ela… ela… ela…
Quem era “ela”? Quem era aquela jovem enigmática que numa noite de Outubro entrou pela primeira vez no Condé, ponto de encontro do que um filósofo sentimental chamava «a juventude perdida», e voltou nas noites seguintes? Quem era “ela"?
Os clientes do Condé não faziam perguntas uns aos outros, então, numa noite em que ela entrou no café por volta da meia-noite, deram-lhe um nome: «Esta noite, eu te baptizo. Doravante, chamar-te-ás Louki.» 
Mas o seu verdadeiro nome era Jacqueline. Jacqueline, filha de uma empregada do Moulin Rouge e de pai desconhecido. Jacqueline Delanque, nome de solteira. Jacqueline Choureau, nome do marido abandonado.
Quando tinha quinze anos, davam-me dezanove. E mesmo vinte. Não me chamava Louki, mas Jacqueline. Era ainda mais nova quando aproveitei pela primeira vez a ausência da minha mãe para sair. Ela ia trabalhar por volta das nove horas da noite e não regressava antes das duas da madrugada. 
Eu tinha muito para contar sobre o passado enigmático de Louki, sobre as suas longas caminhadas sem objectivo preciso, sobre os seus encontros e desencontros, sobre o Condé e os seus clientes habituais, sobre… sobre…
... mas fico por aqui, para não estragar o mistério de uma história sobre "o poder da memória e a busca da identidade", feita de saltos entre o passado e o presente de quatro narradores distintos, "perdidos" na boémia Paris dos anos 60. Uma história nem sempre fácil de seguir mas… muito boa!
Já está. Deixa-te ir.

No café da juventude perdida, de Patrick Modiano, Prémio Nobel de Literatura, 2014
Tradução de Isabel St. Aubyn
Ed. Asa, 2009
110 págs.

1 comentário:

  1. Uma história muito boa, sim :)
    Gostei imenso deste livro.

    Boas leituras

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