27 abril, 2014

Vasco Graça Moura (1942-2014)

PAX RUSTICA, uma ironia

atravesso o pinhal. o meu cão salta.
fulvo tigrado ele é da cor do mato.
por entre o tojo escapuliu-se o gato
e liga as copas uma nuvem alta.

evito a estrada e o seu traçado exacto
que a lentidão municipal asfalta.
antes o cimo em que o pulmão se exalta
e as pinhas vêm à ponta do sapato.

reestolho e urze, giestas, estalidos
de folhas secas, água a correr, ruídos,
vozes distantes chamam dos quintais.

já o sol vai a pino, já no ermo,
como a manhã, todo o prazer tem termo:
chegado à vila, vou comprar o jornal.

Em "Poemas Escolhidos", de Vasco Graça Moura, Bertrand Editora, 1996

Adeus,Vasco Graça Moura!

1 comentário:

  1. Um grande poeta
    de quem sempre divergi politicamente

    mas um Homem não se define pelas lapelas

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