Bebia por causa do peso das coisas. O álcool tornava-o cada vez mais doente, e ele sabia-o, mas não conseguia arranjar qualquer substituto, qualquer forma de se libertar do peso da laje de memórias que tentava esmagá-lo… esmagá-lo com a culpa e com o amor que nunca conseguiu expressar.
A acção deste cativante romance, ou thriller psicológico, desenrola-se em duas aldeias nas montanhas do sul de França.
Em La Callune, na região de Cévennes, uma floresta de carvalhos e castanheiros esconde “Mas Lunel”, uma antiga casa de pedra que guarda histórias terríveis.
O proprietário e ocupante é Aramon Lunel, um alcoólico atormentado por um passado cruel.
Na mesma quinta vive a sua irmã Audun, uma mulher de sessenta e quatro anos. Ela vive longe da sujidade da casa e do fedor do irmão, num bangaló construído nos fundos da propriedade.
Os irmãos vivem em permanente conflito, conflito que se agudiza quando Aramon decide vender a propriedade e esta é visitada por um inglês.
Esse inglês é Anthony Verey, negociante de antiguidades em Londres, a passar por uma grave crise de identidade, que busca o consolo da irmã Veronica.
Veronica, arquitecta-paisagista, vive com a namorada Kitty, uma aguarelista medíocre, na velha casa de pedra da quinta “Les Glaniques”, na região de Gard. Vivem felizes. Vivem felizes até à chegada de Anthony. A partir daí o mal-estar instala-se e a ruptura acontece.
Com vista a reconstruir a sua vida, Anthony Verey decide comprar uma casa na região e começa a visitar propriedades.
A primeira visita é a “Mas Lunel”. A velha casa de pedra é o local perfeito para viver os últimos anos de vida.
Decide comprá-la, mas põe como condição a demolição do bangaló.
Aramon Lunel fica entusiasmado, mas a sua irmã fica horrorizada e fará TUDO para continuar naquele lugar de tantas más recordações.
… quando passamos trinta e quatro anos sozinhos, descobrimos que é difícil suportar a presença de um desconhecido dentro ou, sequer, perto da nossa casa. Não conseguimos deixar de pensar em todo o mal de que ele é capaz.
Este é um livro difícil de “digerir”.
As pedras daquelas velhas casas escondem histórias cruéis de violência, de incesto, de amor e desamor, de horror à mudança, de solidão, de silêncios, de vingança.
A forma sublime como a autora constrói as histórias dos vários personagens prende-nos da primeira à última linha.
Há muito que queria dizer-te isto – lamento o que se passou! Foste a minha princesa… só isso.
Gostei!
Transgressão, de Rose Tremain
Porto Editora, 2011
Tradução de Luís Miguel Coutinho
310 págs.
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