04 setembro, 2020

O que ando a ler devagar? "O Corpo - um guia para ocupantes", de Bill Bryson


"O CORPO - Um Guia para Ocupantes", de Bill Bryson (conhecido pelos seus cativantes livros de viagens, autor de “Breve História de Quase Tudo” (2005), é um surpreendente/deleitoso passeio pelo corpo humano, um «guia turístico» cheio de histórias, estudos, números e factos, investigação e conversas com especialistas, apresentadas numa linguagem acessível, cativante e divertida, por um autor que fez toda a pesquisa - para que nós não tenhamos de o fazer.
Para ler devagar, capítulo a capítulo, tema a tema: pele e cabelo, micróbios, cérebro, cabeça, coração e sangue, aparelho digestivo, sistema imunitário, sono, gloriosa comida, doenças (quando as coisas correm mal), o esqueleto, o fim, e tantos outros.
Deixo dois  excertos deliciosos:
“(…)A pele consiste numa camada interior, chamada derme, e numa epiderme exterior. A superfície mais extensa da epiderme, chamada estrato córneo, é composta unicamente de células mortas. Dá que pensar, que tudo o que nos torna belos está morto. Onde o corpo entra em contacto com o ar, somos todos cadáveres (…) Ninguém sabe ao certo quantos furos há na nossa pele, mas é certo que somos muito perfurados. (…) “ (O Exterior: pele e cabelo)

“(…) O grande paradoxo do cérebro é que tudo o que sabemos sobre o mundo nos é fornecido por um órgão que nunca viu ele próprio esse mundo. O cérebro existe no silêncio e na escuridão (…) Nunca sentiu a luz quente do sol nem uma brisa suave. Para o cérebro, o mundo é apenas uma sucessão de impulsos eléctricos, como os sons do código Morse. E, a partir desta informação básica e neutra, ele cria para si – cria, literalmente – um universo vibrante, tridimensional, sedutor e sensual. Você é o seu cérebro. Tudo o resto não passa de canalizações e andaimes. (…)" (O cérebro)

… o cérebro é um órgão curiosamente sossegado. O coração bombeia o sangue, os pulmões insuflam-se e esvaziam-se, os intestinos ondulam e gorgolejam discretamente, mas o cérebro está simplesmente ali, como um pudim, sem qualquer demonstração visível.
Explore e divirta-se!

(foto net)

01 setembro, 2020

Amor de mãe, amor de avó: um amor sem limites!

"A verdadeira felicidade está na própria casa, entre as alegrias da família."
(Lev Tolstói)


Continuo de coração cheio de gratidão (obrigada, Patrícia) e felicidade depois do reencontro com três amores meus: a Madalena, a Carolina, o Miguel.
Foram dias intensos de partilha de riso, mimos, carinho, amor, de muita emoção e festa. Celebrámos dois aniversários: o 4º da Madalena, no dia 25, e o 45º do Miguel, no dia 26. Celebrámos a Família e a Vida. Foi uma animação!
Não estávamos juntos desde o Natal de 2019.
Um vírus malvado, que desconhece o real sentido da palavra «amor» e capaz de coisas inimagináveis como impedir a convivência entre avós e netos, não permitiu um olhar, um toque, um beijo, um abraço. Foram meses de  um amar e sofrer à distância, um quase morrer de saudades.
O Covid 19 continua a infectar e a matar, em Portugal e no resto do mundo. Cientes dos perigos, resta-nos aguardar em segurança e tranquilidade a chegada de uma vacina capaz  de exterminar o «bicho».
Uma coisa é certa, não há distância, nem silêncio, nem saudade, nem «bicho» capaz de desassossegar o amor de mães e filhos, avós e netos. Um amor imenso.  Um amor sem limites!


Nota: Regressei a casa  com o coração cheio de preciosas lembranças, e... com a barriga cheia de doces. E agora? Exercício, pão e água!

Beijos e abraços!!

14 agosto, 2020

"As Cores do Crepúsculo" (*)



"Vamos andando solidamente e de repente vemos um pôr-do-sol e estamos perdidos de novo."
Jorge Luis Borges, escritor argentino (1899-1986)


“A beleza não está nem na luz da manhã nem na sombra da noite, está no crepúsculo,
nesse meio tom, nessa incerteza.”
Lygia Fagundes Telles, escritora brasileira (1923-)


"Quando admiro a maravilha de um pôr-do-sol ou a beleza da lua, minha alma se expande em reverência ao Criador."
Mahatma Gandhi, líder espirital indiano (1869-1948)


"Seja humilde, pois até o sol com toda a sua grandeza se põe e deixa a lua brilhar."
Bob Marley, cantor e compositor jamaicano (1945-1981)



(*) Título de um livro de Rubem Alves, teólogo, pedagogo, poeta e filósofo brasileiro (1933-2014)


11 agosto, 2020

De pétalas se faz o "Pétalas de Sabedoria"



O "Pétalas de Sabedoria" completou oito anos de existência, no passado dia 1 de Julho.
Naquele dia de 2012, eu escrevi:

Inicio hoje um novo blog.
Para mim será um enorme baú onde vou guardar frases, pensamentos, provérbios e tudo o mais que me toca e emociona.
Ao longo de muitos anos fui amontoando papelinhos em caixas e gavetas e, agora, decidi guardá-los num enorme baú.
Se por aqui passar deixe aquele pequeno texto que o tocou. Eu publicá-lo-ei com o seu nome e o seu blog. Utilize a minha caixa de email e siga o modelo das minhas publicações.
Desta forma, construiremos um jardim de memórias perfumadas.

Pétala a pétala, plantadas diariamente, o jardim cresceu fresco e viçoso, no início meio escondido, agora mais revelado.
E porque este jardim de memórias é de quem o cuida mas também de quem o visita, o explora, o perfuma com pétalas coloridas, para a festa de publicação da Pétala nº 3.000 (já amanhã) gostava de contar com uma pétala sua sobre... ESPERANÇA: uma frase ou poema original, ou uma citação. Pode enviá-la para a caixa de email do Pétalas, ou deixá-la na caixa de comentários. Prometo plantá-la e cuidá-la.
Obrigada a todas as pessoas que me ajudam a fazer do "Pétalas de Sabedoria" um jardim de palavras sábias, vivas, protegidas, iluminadas, admiradas.
 

Agora, leia ou releia as 5 pétalas mais «contempladas»:

"Nunca estrague o seu presente por um passado que não tem futuro."
DALAI LAMA, monge tibetano.

"A realidade é uma hipótese repugnante."
MANUEL ANTÓNIO PINA, jornalista e escritor português (1943-2012)

"Solidão é aquele florzinha, débil, triste e sozinha, mas que um dia, contra tudo e contra todos, ergue a cabeça, floresce e sorri ao sol logo que aparece."

4ª "Solidão é quando olhando para dentro de nós mesmas, não vemos nenhuma voz para conosco conversar, nem mais somos capazes de ver as belezas dos céus, das flores e do SOL interior... Essa é fatal!"

“A riqueza, não se mede pelos bens que se possui, mas sim pelo bem que se faz.
MIGUEL DE CERVANTES, escritor espanhol (1547-1616)


(Repararam que pétalas de duas amigas queridas - a Emilia e a Chica - estão entre as cinco mais contempladas? Muito bom!!)


(fotos da net)

04 agosto, 2020

"Viagens" - Olga Tokarczuk


Ver e olhar são um mistério, tal como um grande mistério é o facto de existirmos.
“Viagens” (livro vencedor do International Man Booker 2018, da escritora polaca Olga Tokarczuk, psicoterapeuta, formada em Psicologia, Prémio Nobel de Literatura 2018) é um livro  original, fascinante, arrebatador, que nos prende da primeira à última página 
Uma construção narrativa feita de pequenas histórias, pensamentos, citações, informações enciclopédicas, anotações, divagações, desabafos, reflexões, crónicas, factos históricos, narrativas autobiográficas, ficcionais, instruções de uso, palestras, curiosidades, etc..;
Uma exploração do sentido de ser um viajante em viagem constante através do espaço e do tempo;
Uma reflexão sobre o corpo humano, a vida, a mente, a morte e o movimento. De onde provimos? Para onde vamos ou regressamos?
Uma «viagem» contínua, «tudo o que estagna acabará por sofrer decomposição, degeneração e transformar-se-á em pó, enquanto aquilo que está em movimento consegue durar eternamente».
Um «rastrear de erros da criação e desacertos da natureza», diz a autora.
Partilho excertos de alguns dos inúmeros textos, e começo pelo primeiro, que ocupa apenas uma página (há outros mais pequenos). Atentem na capacidade imaginativa e na linguagem própria, acessível, poética.
(Existo)
“Nada acontece. (…)
Aquele final de tarde é a orla do mundo – tacteei-a por acaso e sem querer, quando estava a brincar. Descobri-o porque me deixaram sozinha por um instante e não o acautelaram. Claro está que acabei presa, numa armadilha. Tenho apenas alguns anos, estou sentada no parapeito da janela, observo o pátio frio. As luzes da cozinha da escola estão desligadas. Já se foram todos embora. As lajes de betão do pátio mergulharam na escuridão e deixei de as ver. Portas fechadas, toldos recolhidos, estores descidos. Queria sair, mas não tenho para onde ir. Somente a minha presença adquire agora contornos bem definidos, contornos que estremecem, ondulam, e isso dói. E, subitamente, descubro a verdade: não há nada a fazer – existo.”
(O Mundo na Cabeça)
“O meus pais não eram verdadeiros viajantes porque viajavam para regressar. (…) Depois, durante todo o ano, levavam uma vida sedentária, aquela vida estranha, em que de manhã se regressa àquilo que se largou à noite (…) Pelos vistos, não herdei o gene que faz com que as pessoas criem raízes, quando permanecem muito tempo no mesmo lugar. Já tentei várias vezes, mas as minhas raízes são sempre superficiais e qualquer brisa é capaz de me arrancar da terra. Não sou capaz de germinar, fui desprovida dessa faculdade vegetal. (...) A minha energia provém do movimento – da trepidação dos autocarros, da zoadeira dos aviões, da oscilação dos comboios e dos barcos."
(La Mano de Giovanni Battista)
“Existe mundo em demasia. (…)Parece que nada mais nos resta a não ser aprender a fazer escolhas até ao fim. E ser como aquele viajante que conheci num comboio nocturno e me disse que, de vez em quando, precisava de visitar o Louvre e de permanecer diante do único quadro que, na sua opinião, realmente merecia ser contemplado. Deter-se diante do quadro de João Baptista e seguir com o olhar a direcção indicada pelo dedo erguido do Santo."
(Estou)
"Cresci e evoluí. No princípio quando acordava em lugares estranhos pensava que estava em casa (…) Todavia, logo a seguir, entrei na fase que a Psicologia da Viagem designa como «Não sei onde estou». (…) A próxima etapa é a terceira, segundo a Psicologia da Viagem, é a etapa da viagem-chave, da viagem-coroa, aquela que constitui a meta final. Para onde quer que viajemos, viajamos sempre em direcção a ela. «Não importa onde estou». Onde estou – tanto faz. Estou.”

Existem dois pontos de vista acerca do mundo: a perspectiva da rã e a vista do pássaro em pleno voo. Qualquer ponto entre estes dois só serve para gerar o caos.
Este livro é diferente de tudo o que já li.
É mágico! É lindo! É perfeito!
E eu recomendo-o.

Viagens (2007), de Olga Tokarczuk 
Tradução de Teresa Fernandes Swiatkiewicz
Ed. Cavalo de Ferro, 2019
343 págs.


28 julho, 2020

PORTUGAL (Vilamoura / Algarve) - férias em tempo de pandemia Covid 19


Primeira quinzena de Julho, 2020. Férias em Vilamoura / Algarve.
Alojamento no hotel Vila Galé Ampalius, com localização privilegiada frente à praia da Falésia, a poucos metros do Casino e da Marina de Vilamoura.
Hotel com taxa de ocupação limitada para garantia da distância social e protecção de hóspedes e colaboradores. Nada, mesmo nada a apontar quanto a segurança. Claro que estranhei alguns procedimentos. Claro que não vi o rosto de nenhum dos colaboradores do hotel. Sempre de máscaras. Hóspedes e colaboradores. Acontece que os hóspedes tiravam a máscara para comer e mergulhar nas piscinas, os colaboradores, nunca!
Praia da Falésia, a dois passos do hotel, quase sem banhistas. Acreditem, não gostei de olhar/caminhar/mergulhar numa praia deserta em pleno verão.
Marina de Vilamoura, vazia de pessoas (de dia e de noite, coisa estranhíssima!), mas não de «barquinhos». Zona de muitos restaurantes, eram poucos os que estavam abertos,  e pouquíssimos os clientes. 
Casino... não sei se funcionava. Passei ao lado!
Foram diferentes estas férias. 
Sem a diversão habitual no hotel,  sem buffet de pequeno-almoço, que eu amo de paixão mas acabo por comer sempre o mesmo: fruta e cereais...
Sem saída à noite para outras zonas do Algarve.
Desta vez, talvez pela primeira vez, mergulhei mais na água doce do que na água salgada.
E nadei, nadei, nadei, e li, li, li. Deitada numa espreguiçadeira esmeradamente higienizada, eu li muito. E bronzeei, claro!
(mais fotos deste e de outros sítio algarvios por onde já andei, aqui)




21 julho, 2020

"Autobiografia" - José Luís Peixoto

"Toda a obra literária leva uma pessoa dentro, que é o autor.
O autor é um pequeno mundo entre outros pequenos mundos.
A sua experiência existencial, os seus pensamentos, os seus sentimentos estão ali."
(José Saramago, 2001)*

Autobiografia é um espelho, como nós somos um espelho.
Somos?
Sim, somos. No entanto, não confie demasiado, os espelhos distorcem.
No centro deste romance está um segredo que une José a José. O primeiro é escritor consagrado, o segundo é escritor de um só romance, que anseia pelo segundo.
Que segredo é esse? Segredo é segredo e não posso revelá-lo. Mas está lá, perto do final desta ousada narrativa protagonizada por José (Luís Peixoto) e José (Saramago). Verdade! E Pilar também aparece na trama, como personagem secundária.
O segredo que une o José jovem ao José consagrado eu sei qual é, mas o que nunca saberei é porque escreveu José Luís Peixoto um livro com uma estrutura narrativa diferente de tudo o que já escreveu, que me obrigou a uma leitura atentíssima tão ténue é a fronteira entre realidade e ficção, tão bruscas são as mudanças de espaço e tempo, tão cruzadas e ramificadas são as histórias dos dois protagonistas, e  de outros personagens com ênfase na história. Resultado: uma teia (magnífica), imensa e intrincada.
Veja se me acompanha:
Saramago escreveu a última frase do romance. (o romance é "Todos os Nomes" e começa exactamente assim “Autobiografia”)
Na realidade, José (Saramago) termina no início de Julho de 1997 o romance “Todos os Nomes”, que tem como protagonista José, um funcionário do Registo Civil.
Na ficção, “Todos os Nomes” acabou de ser escrito por José, escritor consagrado.
Na realidade, José (Luís Peixoto) escreveu “Autobiografia”.
Na ficção, José é um jovem escritor angustiado, com problemas pessoais - jogo, álcool, amores, perdas - a quem o editor encomenda uma biografia de Saramago. José, que  «nunca se imaginara biógrafo, não era biógrafo; precisava de um segundo romance escrito», hesita mas aceita, sem saber o caos que tal decisão trará à sua, já caótica, vida.

Confuso? Não! Desconcertante e surpreendente.
E mais não digo, porque esta complexa/extraordinária construção narrativa tem de ser lida por si, concentrado e sem pressa de avançar.
Vá lá... digo que no fim deste romance escrito por José, eu soube que o jovem escritor angustiado, de nome José, conseguiu, finalmente, escrever «a primeira frase do (segundo) romance». Verdade!

"A literatura é o resultado de um diálogo de alguém consigo mesmo." 
(José Saramago, 2008)*

(*) José Saramago citado por José Luís Peixoto.

Autobiografia, de José Luís Peixoto
Quetzal, Ed, 2019
300 págs.


14 julho, 2020

AMIGO é aquele que...


“Não há solidão 

mais triste do que a do homem sem amizades. A falta de amigos faz com que o mundo pareça um deserto." 
(Francis Bacon)


AMIGO
É aquele que ouve atentamente
Aquele que aconselha nas indecisões
Aquele que nada pede em troca
Aquele que não se intromete nem sufoca
Aquele que conforta com uma só palavra
Aquele que diz «não» quando é preciso
Aquele que adverte com um sorriso
Aquele que olha com o coração
Aquele que chama à razão
Aquele que mesmo longe está perto
Aquele que faz sorrir
Aquele que atenua medos
Aquele que guarda segredos
Aquele que respeita silêncios
Aquele que rejubila com os sucessos
Aquele que consola nos insucessos
Aquele que estimula a ir mais além
Aquele que abraça nas horas más
Aquele que alerta «por aí não vás»
Aquele que diz «estou aqui»
Sempre!
(Teresa Dias)
(fotos da net)