25 setembro, 2020

"Hotel Melancólico" - María Gainza

…não recuperamos o passado, recriamo-lo, transformamo-lo em dramaturgia. A memória adapta, vai colorir, adornar, mistura cimento com arco-íris, faz o que for preciso para que a história funcione.
Foram quatro as razões que me levaram a comprar este livro:
1 – Curiosidade em saber se o segundo romance da escritora e crítica de arte argentina María Ganza era tão fascinante quanto o primeiro “O Nervo Ótico” (2018), um livro de olhares: olhares dirigidos a pinturas e a quem as contempla, uma crónica íntima, uma incursão romanceada pela história da pintura, uma extraordinária visita guiada a um museu;
2 – A preciosidade da capa;
3 – A elucidativa e cativante sinopse:
“Cansado de a ver desocupada, o tio da narradora arranja-lhe um emprego num banco para trabalhar com uma avaliadora de obras de arte. Mas, contra todas as expectativas, o ofício torna-se absolutamente fascinante para ela, não só pelas incríveis descobertas que faz sobre falsificações, mas sobretudo pelas histórias secretas que a chefe acaba por lhe contar, uma das quais é a do Hotel Melancólico, onde viviam artistas que copiam quadros para ganhar a vida e por onde passou a misteriosa Negra, figura central deste romance, que se especializara em falsificar a obra de Mariette Lydis, que fazia retratos da alta-sociedade de Buenos Aires. Um belo dia, porém, a chefe estranhamente não aparece para trabalhar e o mais certo é que lhe tenha acontecido algo de grave; mas, se assim for, como continuar a viver sem saber o fim de todas aquelas histórias que ficam a meio?”
4 - O toque de mistério no primeiro parágrafo:
«Cheguei, por fim, ao Hotel Étoile. Um cartaz à porta de entrada anunciava que estava cheio, mas entrei na mesma e pedi um quarto. Acabaram por me atribuir um no décimo andar; tem vista para o cemitério, uma banheira de mármore italiano, uma secretária Luís XVI, uma cama da largura de uma jangada e bombons embrulhados em papel dourado, incrustados nas almofadas quais diamantes falsos de neve. Disse ao porteiro que o meu marido chegaria mais tarde com as malhas, mas o meu marido nunca virá. Não é meu hábito mentir descaradamente às pessoas, mas tratava-se de um caso de força maior.»
Não pode uma boa falsificação dar tanto prazer como um original? Num certo sentido, não é o falso mais genuíno do que o autêntico? E, no fundo, não será o mercado o verdadeiro escândalo?

María Gainza volta a ficcionar o mundo das artes visuais, neste caso a arte da falsificação, numa reflexão sobre a relação entre a arte e a vida, a imitação do real, o engano e a manipulação.
A história, uma investigação quase detectivesca levada a cabo pela protagonista (de quem pouco sabemos), é feita de histórias de vida de elementos do «bando de falsificadores melancólicos (…) que viviam à custa de enganar os ricos», e exige leitura atenta pois são muitas e bruscas as mudanças de tempos e lugares da narrativa.
Gostei? Hum, não me fascinou.
Acontece!

Hotel Melancólico (La Luz Negra), de María Gainza
Tradução de Artur Lopes Cardoso
Ed. D. Quixote, 2019
147 págs.

(foto net)

7 comentários:

  1. Não li esta senhora, mas, pelo Natal, ofereci O nervo óptico; como não tive notícia, suponho que não agradou. Tinha antes oferecido um livro de Onésimo e agradou imenso. Porém, desta vez também me parece que não acertei. Acontece.

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  2. Pues después de leer tan interesante sinopsis, y tan excelente crítica literaria, me ha motivado a intentar hacerme con este libro.
    Gracias por la recomendación.
    Un saludo, Teresa.

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  3. Nunca li nenhum livro desta escritora.
    Abraço, saúde e boa semana

    À margem:
    Já tenho o computador em casa, veio ontem e em 6 horas encerrou-se 8 vezes. Depois esteve desde as 5 horas até à 1 da manhã sem se desligar; Esta manha em quatro horas desligou-se 6 vezes o que quer dizer que se não está na mesma, está pouco melhor apesar de desta vez eles me dizerem que substituíram uma peça. Noto diferenças, está mais rápido e o ecrã de encerrar voltou a ser azul. Passara a verde quando o problema começou. De modo que amanhã vai de novo para a loja.

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  4. Não te fascinou? Então, Amiga, escuso de me preocupar com este livro. Se tens um " rol " deles que te encantaram, o melhor será esquecer este e, queres saber? Não me lembro do titulo....mas não irei ao começo da página para verificar; está esquecido, pronto! Um beijinho, querida Amiga e espero que continuem bem de SAÚDE. Por aqui, tudo normal, embora, confesso, com um pouco mais de receio desta pandemia; a minha filha começou as aulas presenciais e os riscos são maiores. Não há-se ser nada!!! Um abraço também, amiga do coração.
    Emilia

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  5. Vou tentar ler.
    Beijo, boa semana

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  6. As tuas sugestões são preciosas, minha Amiga Teresa. Sigo algumas, mas não consigo acompanhar todas...
    Uma boa semana com muita saúde.
    Um beijo.

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