22 setembro, 2020

«Conchas de humor», apanhadas à beira-mar


"Ser impaciente é desistir de educar."
(Augusto Cury)

Hoje reedito «conchas de humor» apanhadas à beira-mar numa manhã do verão de 2012, e que logo guardei para não esquecer, no livro poisado na toalha estendida no areal.
Sentada, ou chapinhando à beira-mar, pasmei incomodada com a linguagem rasca e  a impaciência dos adultos, mas sorri fascinada com a inocência das crianças curiosas, barulhentas, traquinas. 
Por momentos, e como por magia, voltei ao meu tempo de criança feliz, travessa e igualmente curiosa, correndo numa praia de areia branca, longe, muito longe daqui, no meu país do coração.
Leia e se lhe apetecer sorria. 
Sorrisos apagam tristezas.


- Tens um chapéu muito grande.
- É da minha avó.
- Ela esqueceu-se do boné em casa e anda com o meu chapéu.
- Dá para desenrascar. Não lhe fica mal.
- Bem também não lhe fica. Os meus cornos são maiores que os dela.

- Vem para trás, Ricardo.
- Mas mãe, a água está ali à frente.
- Porra pá! Já disse para vires para trás.

- A água está porreira, mãe.
- Não se diz porreira.
- Então, como é que se diz?
....
- Como é que se diz?
- Merda, vai para a água.

- Não me molhes.
- Vem p'rá água mãe. Está fria mas boa.
- Quando eu quiser, eu vou.
- Porquê mãe?
- Carago do miúdo. Não me chateies.

- Pai, gostas do meu castelo?
- Hum!
- Pai, achas que está bem feito?
- Hum!
- Não queres fazer um castelo comigo?
- Hum!
...
- Então, João, desmanchaste essa merda?!

- Tiago, não pises as toalhas.
...
- Tiago, já te avisei duas vezes, não pises as toalhas.
....
- Tiago, porra! Se voltas a pisar a merda das toalhas vamos embora.

- Gostas do meu fato de banho?
- Gosto! Tem muitas florinhas.
- Foi a minha mãe que o comprou.
- A tua mãe deve gostar de jardins.
- Vai à merda.

- Estás a encher-me cheia de areia.
- Não é assim que se diz, mãe.
- Que merda é essa. Agora queres ensinar-me a falar?

- Aquelas meninas, mais pequeninas do que tu, não têm medo da água. Tu és um maricas.
- E tu és o quê? Também não vais à agua.
- Merda de garoto.


Por último, apanhei (sem querer) esta «concha» de dois adultos  falando à beira-mar:

- Amo-te muito.
- Sim.
- E tu, amas-me muito ou pouco?
- Sim.
- Sim, é muito ou pouco?
- Vamos à água c..... Estás a precisar de um banho gelado.

(fotos Pinterest)

11 comentários:

  1. Bem bacana esse diálogo. Amei.
    "Estás a encher-me cheia de areia". Não é pleonasmo, né, não?

    Tudo de bom!

    Vall

    ResponderEliminar
  2. Mãe da minha alma, Teresa. Então as nossas conversas de praia são assim cheias de merdas e sem interesse nenhum. Está certo, são conversas de praia. Mas tinham de ser esse tipo?! Já ouvi conversas tão agradáveis entre mães e filhos e de crianças entre elas. Por norma gostam de falar comigo, mas este ano não deu, o senhor covid não deixou.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Bea, reproduzo fielmente o que ouvi. E ouvi muito, muito pior, acredita.
      Claro que também ouvi/oiço conversas agradáveis, mas... optei por estas.
      Beijo, boa semana (fresquinha).

      Eliminar
    2. a minha praia tem gente mais educadinha e terna.

      Eliminar
  3. Conversa de praia são assim mesmo... uma interessantes
    outras nem tanto;
    Com certeza para educar tem que ter paciência! k
    Obrigada pela sua visita lá na acasa eu demoro a responder mas venho k;
    Boa continuação de final de mês;
    Abraços
    janicce.

    ResponderEliminar
  4. É claro, Teresa, que já ouviste conversas mais sujas que essas e eu, mesmo não indo para a praia com frequência, ouço-as deste tipo e ainda piores, sentada na esplanada de um café; fico impressionada com o tanto de palavrões que ouço da boca de meninas adolescentes e mesmo de " senhoras"; impossivel não as ouvir, pois falam muito alto e raramente constroem uma frase sem um desses termos nada simpáticos E, por falar nisso, acabei agora de ouvir uma gritaria no andar de cima; com o barulhos dos pés ouvia os f...-.., p...... c.....o e por aí fora. Uma familia de 4 pessoas, muito simpaticas, mas o tratamento deles é esse, seja a mãe com os filhos ( já adolescentes ), seja entre marido e mulher, ou um filho com o outro; creio que não há pancadaria, mas é este o tratamento que dão a cada um. Nunca vi coisa igual, Amiga. No café, claro que também ouço coisas interessantes, mas, desta familia, nunca escutei um tratamento carinhoso, só palavrões. Gostei destas tuas " conchas " apanhadas à beira-mar, apesar de teres escolhido as mais feiinhas. As poucas vezes que fui à praia entretive-me a apanhar conchas com a Beatriz, mas eram só as bonitas que iam para o baldinho; ela adora apanhar conchas! Teresa do coração, espero que estejam bem e que, na proxima vez nos mostres as outras conchas, iguais às da gravura que são uma lindeza. Um abração grande para que consiga chegar aí com toda a minha amizade; não quero que se perca nadinha, nadinha.
    Emilia

    ResponderEliminar
  5. As pérolas que se apanham à beira mar.
    Mesmo sem ostras!! :)))
    Beijo

    ResponderEliminar
  6. Realmente, na praia, tantas vezes eu ouvi também esse género de conversas que tu, com teu humor, transcreves. É que estamos mesmo a ver as cenas...
    As conchas são lindas...
    Um grande beijo minha Amiga Teresa.

    ResponderEliminar
  7. Estes diálogos são mesmo umas pérolas.
    Continuação de boa semana, querida amiga Teresa.
    Beijo.

    ResponderEliminar