08 maio, 2020

"Uma casa no fim do mundo" - Michael Cunningham

Aos treze anos tomamos demasiadas opções sem pensar nas consequências e no modo como podem arrastar-se pelas décadas.
Uma casa no fim do mundo” é um romance extraordinário, corajoso,  que se lê avidamente e jamais se esquece. Nele, Michael Cunningham desvenda, com extrema sensibilidade, factos da vida de quatro personagens que de tão reais sentimos que os conhecemos: Jonathan, Bobby, Clare , Alice.
Jonathan (solitário, inseguro e introspectivo) e Bobby (sombrio e silencioso), são amigos desde a infância vivida numa pequena cidade conservadora do interior americano dos anos 60. À infância misteriosa - Jonathan «gostava de bonecas e de brincar dentro de casa» - seguiu-se a adolescência com um despertar complexo para o amor e a sexualidade, sem nunca falarem de raparigas, mas muitas partilhas de segredos e promessas. Tinham quinze anos, passavam os dias juntos, e «os rádios cantavam o amor o dia inteiro».
Jonathan é aceite pela Universidade de Nova Iorque, e parte para a grande cidade. Bobby não concorreu a nenhuma. Sem a mãe e sem o pai, fica a viver com os pais do amigo. Aprende a cozinhar, aprende a arte da pastelaria e abre um restaurante. Não corre bem, fecha-o. Oito anos depois da partida do amigo decide ir também ele para Nova Iorque, «o único destino lógico».
Na grande cidade  Jonathan partilha a vida com uma mulher e o amor com um homem. (Não, não é Bobby...). A mulher é Clare, nova-iorquina «veterana das guerras eróticas da cidade».
Diz Jonathan: «Não éramos amantes, mas quase. Ocupávamos a esfera superior do amor, onde as pessoas acarinham a companhia e excentricidades umas das outras, onde se querem bem. Clare e eu partilhávamos os piores segredos e os mais absurdos temores … éramos como as irmãs das histórias tradicionais…»
Bobby junta-se a eles no sexto andar de um prédio em East Third Street. Os três são vértices de um triângulo em desequilíbrio... na procura de um novo tipo de família, testando os limites da amizade e do amor, enfrentando os riscos da desilusão e do abandono. Tudo parece correr bem,  até ao dia em que Jonathan desaparece «no labirinto da sua vida».
Clare, «tortuosamente apaixonada por ambos», fica com Bobby no apartamento. Mas não demorará muito até os amigos, amantes, confidentes, eu sei lá, viverem de novo juntos numa “casa no fim do mundo”.  Os três mais a pequena Rebecca, filha de Clare e de... não digo, leia para saber!
A solidão é difícil de evitar. Seja em que sítio for.
Alice é mãe de Jonathan. 
- Três é um número ímpar. Quando há três pessoas envolvidas, uma delas acaba por perder.
- Mãe, não sabes do que estás a falar…
(…)
- Só estou a dizer… que existem certos limites. Já é bastante difícil manter uma relação com uma só pessoa, quanto mais com duas.
- E eu, acho sinceramente que somos nós que estabelecemos esses limites. O Bobby, a Clare e eu somos felizes juntos. E planeamos continuar juntos.
Quatro personagens, quatro narradores, quatro histórias comoventes/vidas reveladas, sem pudor, em capítulos alternados. Qual é delas a mais enternecedora? Todas!
(Recordo: nos idos anos sessenta a homossexualidade era considerada uma doença, e as relações homossexuais proibidas por lei nos Estados Unidos.)

Leia, por favor, este romance maior!
É um dos mais belos que eu li, e reli e, sem dúvida alguma, um dia voltarei a ler, ciente de que algo que me escapou me irá surpreender.
De Michael Cunningham -  um dos meus escritores favoritos - li e compartilhei no Rol outros grandes romances:
- Sangue do meu sangue (uma grande, belíssima saga familiar)
- As horas
- Ao cair da noite
- A rainha da neve
- Dias exemplares, (3 histórias de desencanto, pós 11 de Setembro), vou reler para depois aqui o trazer.

Uma casa no fim do mundo, de Michael Cunningham
Tradução de Rui Pires Cabral
Ed. Gradiva, 2001
363 págs.

8 comentários:

  1. Bom dia, minha Amiga Teresa. De Michael Cunningham só li o livro "As horas". Pelo que leio aqui, este "Uma casa no fim do mundo" deve ser muito interessante e inspirador. Obrigada pela sugestão.
    Um bom fim de semana com muita saúde.
    Um beijo.

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  2. Ótima dica para a quarentena!
    Vou ver se trem na Amazon!

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  3. Ola:- Uma boa sugestão para estes dias difíceis de quarentena.
    .
    Bom fim de semana
    Cuide-se

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  4. Obrigada pela sugestão, não li nada do autor. Tenho de experimentar. Este ano nem Feira do Livro há. Ora bolas.

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  5. Olá, Teresinha, como estás desde a Páscoa? Espero que bem longe da Covid-19, tal como eu.

    Não conheço sequer o nome deste autor para te falar com sinceridade, mas o resumo da história, que aqui nos contas, parece-me bem interessante.

    Beijinhos e boa semana.

    Quais são os escritores que tu não conheces, nem leste? Nenhum, presumo.

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    1. E o magnífico filme "As Horas" (2003), de Stephen Daldry, com Nicole Kidman (venceu o oscar de melhor actriz, interpretando a escritora Virginia Woolf), Meryl Streep, Julianne Moore, Ed Harris..., viste? É baseado num dos livros deste escritor.
      (O livro "Uma casa no fim do mundo" também já foi levado ao cinema.)
      Céu, há tantos, mas tantos, tantos escritores que não conheço.
      Acredita, por vezes dou por mim a pensar - vou morrer sem ter lido todos os livros que desejo ler. Tudo deixarei cá, mas as leituras... essas eu levarei comigo.
      Estou bem, amiga. Em casa, claro! Fica bem tu também, e em casa, se possível.
      Beijo, boa semana.
      (É deste escritor uma das mais belas sagas familiares que eu já li. E eu adoro sagas familiares!!!)

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  6. Oi, querida Teresa, não li esse, mas valeu a indicação! No momento estou lendo autores brasileiros e sul-americanos, que tenho aqui em casa.
    Tomei nota para sair à procura quando a Quarentena permitir.
    Beijinho, amiga, cuida-te.

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  7. Não li nada do autor.
    Nunca é tarde.
    Beijo, boa semana

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